O recado não poderia ser mais direto: “Não sou conduzido, conduzo”. O lema impresso na bandeira da cidade de São Paulo evidencia o protagonismo da capital paulista ao longo de seus quase 463 anos, que serão completados nesta quarta-feira (25). Mas nem sempre foi assim. 

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Se hoje a cidade é o principal centro econômico e corporativo da América Latina, funcionando como grande incubadora de boas ideias, no passado, as coisas eram um tanto diferentes.

Por muito pouco, aliás, o título de capital do estado não ficou com Campinas, bem mais avançada na virada do século 19 para o 20. Foi por uma “feliz coincidência” que São Paulo prosperou, como explica o jornalista Douglas Nascimento, integrante do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e autor do site São Paulo Antiga.

“Desde o século 20, quando passou a ser grande, a cidade tem despontado como ambiente propício para novos negócios. Mas isso foi pela feliz coincidência de estar no meio do caminho do comércio do café. Sua posição geográfica era privilegiada, porque o café era produzido no interior paulista e comercializado na Bolsa do Café de Santos, no litoral”, explica Nascimento.

Outro fator fundamental para o desenvolvimento da cidade foi o movimento de imigração, que rendeu ao município o título de metrópole mais multicultural do Brasil.

Desde 1870, mais de dois milhões de imigrantes – vindos principalmente da Itália, Japão, Espanha e Portugal – chegaram à cidade, trazendo contribuições importantes para a gastronomia. Não menos importante, a migração da população nordestina a partir da década de 1930 também trouxe avanços significativos neste segmento.

As comunidades de árabes, judeus, chineses e coreanos, sobretudo, também tiveram papel relevante para o desenvolvimento do comércio. Na página 39 deste especial estão reunidas algumas das inovações do varejo, como a implementação das vitrines e o surgimento do Dia dos Namorados.

Com tanta efervescência cultural, era mais do que esperada a herança gastronômica, com as devidas adaptações ao gosto brasileiro. Surgem, então, criações tipicamente paulistanas, como pizza doce, bife à parmegiana, sanduíche de mortadela e o bauru, que, diferentemente do imaginado, não surgiu no interior paulista. Na página 40, o leitor pode conferir um pouco dessas histórias. Já na página 41, um capítulo dedicado exclusivamente para a pizza.

Somada à gastronomia e ao comércio, a mobilidade forma o tripé de inovação na cidade. Com 84% da população vivendo em região urbana, segundo o último Censo, de 2010, viver em sociedade tem se tornado tema para criação de novos negócios. Para Priscila Claro, coordenadora do Centro de Estudos em Meio Ambiente e Centros Urbanos do Insper, São Paulo se tornou sinônimo de oportunidades, independentemente do tamanho do negócio.

Por abrigar pessoas que moram, trabalham e estudam na região, a cidade é um celeiro frutífero de novas ideias para transformar o município em verdadeiros espaços de convivência. “Tem mais tecnologia, empresas com maior faturamento e nível educacional, mas também o ônus de maior índice de criminalidade e trânsito, elementos negativos, mas que, ao mesmo tempo, despertam o empreendedorismo urbano”.