Passeadores de cães e cuidadores de idosos
Qualquer semelhança é mera coincidência… Talvez, não. Cães e pessoas de idade, como se dizia antigamente, constituem-se, talvez, no tema da maior preocupação e cuidados dos que têm um ou os dois. No bairro onde moro, Higienópolis, cuidadores e passeadores existem numa mesma proporção. Impossível, durante o dia, não cruzar com um dos dois grupos, muitas vezes com os dois – velhos e cães – e seus respectivos passeadores e cuidadores, a cada quarteirão. Na maioria dos demais bairros da cidade de São Paulo, a quantidade de cuidadores e passeadores repete-se. A realidade é que, nos tempos em que vivemos, os casais não têm com quem deixar. Não têm com quem deixar não apenas as adoradas crianças, mas cães e seus amados velhinhos, não necessariamente nessa ordem. E, assim, precisam de ajuda.
O que acaba constituindo-se num estímulo a mais na adoção do home work por muitas empresas, cuja característica dos serviços possibilita essa solução. Pessoas que passam a trabalhar em casa têm uma possibilidade de supervisão presencial física maior, e produzem mais porque se
sentem mais seguras e conseguem concentrar-se mais nas tarefas profissionais. Mas, e mesmo assim, isso não elimina a necessidade nem dos passeadores, nem dos cuidadores.
Na minha viagem a New York City, no ano passado, quando íamos para o aeroporto na volta, conversando com a motorista de táxi que nos levou, cruzamos com um passeador de cães, com 4 cães sob seus cuidados. Ela nos contou que, em média, cada passeador, dependendo do número de cães que leva, ganha entre US$ 70 e US$ 150 por dia. O que, no fim de um mês, ronda ou ultrapassa US$ 2.000 – nada mal. Já no Brasil, os números são bem mais distantes, mas, e mesmo assim, uma ótima alternativa num momento de falta de empregos. Especificamente em relação aos cuidadores de idosos a tendência é de crescimento vertiginoso e consistente. Estamos envelhecendo e, com isso, aumentando a demanda por esses serviços.
Segundo as estatísticas do Ministério do Trabalho, no ano de 2007, eram 5.263 pessoas que ganhavam a vida, formalmente, como cuidadores de idosos. Em 2017, esse número foi multiplicado por quase sete e fechamos o ano retrasado com 34.051 profissionais. Em 2018, ultrapassamos os 40 mil, não contando, claro, uma outra quantidade expressiva desses cuidadores que trabalham na informalidade. Ou seja, gradativamente, cuidar de idosos vai se convertendo, no mínimo, num business mais que interessante, de um lado, e essencial, de outro. A unidade da Cruz Vermelha na cidade de São Paulo oferece cursos de Cuidadores em três períodos. Manhã, tarde e noite. Em 2008, formou 100 cuidadores. Em 2018, 400! E quase todos terminam o curso com uma fila de famílias esperando na porta para contratá-los.
O Senac vem qualificando cuidadores também desde 2009. E, até o fim deste
ano de 2019, estão previstas mais de 60 turmas em suas diferentes unidades, e exclusivamente no Estado de São Paulo. Um cuidador de idosos ganha entre R$ 1.200 e R$ 1.500, mais alguns benefícios.
Em determinadas regiões das grandes cidades o salário ultrapassa os R$ 2 mil e, alguns, excepcionalmente, chegam aos R$ 3 mil. Quem diria, no fim do século passado, que duas novas profissões iriam tomar conta, gradativamente, da paisagem das grandes cidades… Cuidadores e Passeadores, caminhando pelas ruas, com seus cães e velhinhos. Merecem nosso amor, carinho, respeito, homenagens. Os que cuidam e os cuidados; os que passeiam e seus passeadores. Nós amamos muito vocês.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)