“Paywall não derruba audiência”, destaca editor-executivo da Folha

Depois de adaptar-se ao advento da fotografia, da TV e da internet, o jornalismo enfrenta novos desafios. No cenário atual, o texto analítico dos jornais convive em harmonia com as versões mais curtas dos sites, com as possibilidades multimídias e com o recente iPad, formato que tem se mostrado o mais desafiador. As mudanças foram muitas, levaram anos até engrenar, e o cenário, apesar de ainda causar ansiedade, não causa mais medo nos seus protagonistas.

Os novos caminhos desse jornalismo foram discutidos na tarde desta quinta-feira (18), no Seminário Internacional de Jornais INMA 2012, realizado no hotel Tivoli Mofarrej, na capital paulista. O evento é promovido pela INMA (International Newsmedia Marketing Association), uma das principais debatedoras sobre as melhores práticas e ideais de marketing para companhias de mídia. Sob o tema “A reinvenção do futuro”, grandes nomes do mercado nacional e internacional se reuniram para dar seu parecer sobre os dias que se aproximam e contar experiências de sucesso realizadas em seus respectivos veículos.

Mediado por Paulo Mira, presidente e ceo da PHD Mobi, o evento — que se estende pela tarde desta sexta (19), destacou os investimentos publicitários na mídia digital e os bons resultados obtidos com o paywall (cobrança por conteúdo digital). “Estávamos receosos ao implantar esse sistema, mas vimos que ele não era um monstro, nossa audiência não caiu por isso”, declarou Sérgio Dávila, editor-executivo da Folha de S.Paulo.

O profissional explicou o mecanismo aplicado no seu veículo: todos os leitores têm acesso livre a 20 textos por mês e, quando a busca ultrapassa esse número, até o limite de 40, é necessário o preenchimento de um cadastro simples. Acima de 40 textos por mês, há cobrança de mensalidade. Assinantes da versão impressa têm acesso livre a todas as notícias do online. “Vale ressaltar que nossa audiência até junho, antes da implantação do paywall, era de 1,27 milhão de leitores. Agora, ela está em 1,37 milhão, prova de que, atualmente, conteúdo diferenciado tem grande potencial”, continuou. Ricardo Gandour, diretor de conteúdo do jornal O Estado de S. Paulo, e Pedro Doria, editor-executivo de plataformas digitais de O Globo, reforçaram os resultados apresentados pelo colega.

Publicidade

Os investimentos publicitários destinados à área também dominaram boa parte das discussões. Marcelo Benez, diretor de publicidade da Folha e presidente da divisão INMA Brasil, destacou que os jornais ainda aparecem em segundo lugar entre as mídias que recebem maior verba, perdendo apenas para a TV. Apesar disso, a maior fatia tem sido destinada às versões digitais dos veículos, uma vez que elas têm retido a atenção de boa parte dos leitores. “Todos sabemos que as notícias do impresso são de ontem. Isso não quer dizer que as pessoas não leem mais o jornal em seu formato original. Ao contrário, na Noruega, tivemos de aumentar o preço dos periódicos e isso não causou incômodo algum. Os leitores habituais não reclamaram: eles podem pagar por isso e se mantiveram fiéis. Atualmente, no entanto, 85% da nossa receita digital vêm da publicidade — e, se comparado à receita destinada à versão impressa, esse número é muito maior”, explicou Eivind Thomsen, vice-presidente sênior da Schibsted ASA, conglomerado norueguês que opera em 25 países.

O seminário ainda apresentou um panorama das atuais redações, destacando a necessidade de profissionais que saibam trabalhar em todas as plataformas, e trouxe Bill Nagel, vice-presidente executivo do Los Angeles Times, para contar ao público as medidas tomadas para superar a declaração de falência e a atual concordata, entre elas o acordo entre empresas que, em troca de anúncios gratuitos, oferecem produtos para venda no site do jornal — objetos de todo tipo, como móveis e câmeras fotográficas, com lucro destinado exclusivamente ao veículo.