Pizza à luz do sol

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Francisco A. Madia de Souza

Por hábito, cultura e tradição só se podia comer pizza no Brasil a partir do pôr do sol. Na medida em que ninguém não só se pergunta “por quê?” e não toma nenhuma iniciativa para contestar o mito, o mito sobrevive. Assim, ainda em 2015, só se pode comer pizza após o pôr do sol. Talvez a partir de 2016 o mito, finalmente, seja destruído…

Em áreas de grandes movimentos das metrópoles, de uns anos para cá, multiplicam-se pequenas lojas e quiosques que vendem pizza o dia inteiro. Abrem próximo do almoço e assim permanecem até o anoitecer. Nas zonas centrais da cidade de São Paulo, por exemplo, dezenas dessas lojas vendem milhares de pedaços de pizzas durante todo o dia e, muito especialmente, na hora do almoço. Claro que as pessoas não almoçam pizza todos os dias, mas em um ou dois dias por semana trocam o PF, o sanduba, o quilo, por pedaços de pizza.

De qualquer maneira, nenhuma das pizzarias mais famosas da cidade de São Paulo ousou abrir suas portas e vender suas “bolachas” ao meio dia. E, depois, também. Todas permanecem fechadas e só colocam lenha no forno a partir das 17 horas para a produção das primeiras pizzas, repito, após o pôr do sol. E aí veio a crise. E se as cabeças deveriam revelar-se abertas e receptivas ao novo em termos de normalidade – o que não acontece –, na crise essas mesmas cabeças se escancaram. E, agora, algumas das principais pizzarias, mais especificamente um dos principais players, revê sua estratégia e aproveita-se das descomunais oportunidades contidas em todas as crises.

Em matéria assinada por Carlos Eduardo Valim, na revista “IstoÉ Dinheiro”, as notícias sobre uma postura mais decidida e agressiva da Pizza Hut. Entende, como comentei nos parágrafos anteriores, que chegou a hora de ocupar espaço, crescer, multiplicar-se e prosperar: “Já abrimos oito unidades neste ano e temos outras 22 em obras”, afirma Agustin Dominguez, diretor de expansão da Yum! Brands, dona da Pizza Hut, KFC e Taco Bell. Em verdade, Agustin corre para aproveitar as oportunidades únicas da temporada de crise, mesmo porque não se sabe, muito menos se deseja, que mais crises venham pela frente. E as melhores oportunidades, neste momento, encontram-se nos shopping centers: “O valor do aluguel baixou e a taxa de luvas para entrar no shopping center não está sendo cobrada”. E onde se come pizza o dia inteiro!

Outra vantagem das lojas em shopping, além do fluxo permanente de pessoas, é que como são lojas pequenas demandam um investimento menor e também despesas menores com equipes e aluguel. E ainda podem ganhar um troco substancial no delivery. Na mesma matéria a informação de Enzo Donna, analista da ECD Food Services: “O Brasil só perde para o Canadá no consumo per capta de pizzas, mas pode, em pouco tempo, se tornar o maior consumidor do mundo”. Se só comendo à noite já ocupa a segunda colocação, comendo de dia o Brasil desbancará o Canadá num abrir de bocas e piscar de olhos. À luz do sol, claro.

*Consultor de marketing, sócio e presidente da MadiaMundoMarketing