Porta aberta
De forma descuidada e até mesmo injusta, alguns órgãos da mídia mencionaram a AlmapBBDO como envolvida na Lava Jato, devido a um suposto repasse de dinheiro da sua cliente Gol Linhas Aéreas para sites de empresas ligadas ao ex-deputado Eduardo Cunha.
Esse repasse teria ocorrido através da agência brasileira campeã do mundo em Cannes este ano, sem que nenhum serviço tivesse sido prestado.
A AlmapBBDO imediatamente esclareceu os fatos, postando na web, por meio de um comunicado oficial com formato de anúncio, reproduções dos respectivos anúncios que, a pedido do seu cliente, foram criados e veiculados em mais de cinco dezenas de sites na internet, entre outubro de 2012 e novembro de 2013, muitos deles citados pela mídia como pertencentes a empresas ligadas a Eduardo Cunha.
Concomitantemente, a assessoria de imprensa da agência distribuiu nota de esclarecimento à imprensa, afirmando que “em respeito à verdade, entendemos ser indispensável esclarecer que não houve qualquer tipo de repasse de dinheiro, e sim a aquisição de espaço publicitário efetivamente utilizado, de acordo com as normas do mercado e regulados pela Lei 4.680. Toda a operação está comprovada pelos documentos já disponibilizados para as autoridades”.
A agência encerra essa nota de esclarecimento lembrando que “a AlmapBBDO sempre se pautou e sempre se pautará por rígidos princípios éticos e morais”.
Se por um lado o episódio foi aproveitado pelos remanescentes simpatizantes das esquerdas brasileiras, que alardeavam – e com razão – o “Fora Cunha” muito antes do impeachment de Dilma Rousseff, verificando agora mais uma das muitas razões do seu pleito no relatório da Lava Jato, por outro lado houve um descuido dos jornalistas que, ao transformar em notícia a informação contida nesse relatório, não se preocuparam em obter informações sobre o procedimento padrão das agências de propaganda com os seus clientes e vice-versa.
Em primeiro lugar, bastava perceber, na relação dos websites constantes do plano de mídia dessa campanha, muitos outros espaços digitais independentes do ex-deputado Eduardo Cunha.
Dentre eles, o da revista Veja, Forbes Internacional, iG, Yahoo!, Facebook e YouTube, entre outros. Sendo cliente da agência há quase 15 anos, a Gol Linhas Aéreas tinha toda a liberdade para aprovar integralmente os planos de mídia das suas campanhas e também para fazer cortes e sugerir a inclusão neles de outros meios.
Esse procedimento é praxe no mercado publicitário e nem é necessário ser cliente de muitos anos de uma agência para isso. Mas o transcorrer do tempo faz com que se estabeleça um comportamento padrão e repetitivo, após a apresentação das razões técnicas pela agência e discussões com o cliente, sempre o dono da verba.
É possível que a Gol tenha manifestado o seu interesse por determinados websites. Algumas fontes da grande mídia, segundo apuramos, deixaram escapar que teria havido, na época da veiculação dessa campanha, algum interesse do anunciante em manter um bom relacionamento com o então deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara Federal, devido estar em trâmite a aprovação de subsídio do combustível para as empresas aéreas. Isso não foi, entretanto, confirmado.
Mas, caso tenha ocorrido, que se apure devidamente e, se for o caso, sejam punidos os responsáveis por essa forma de conluio, ativos e passivos.
Mas, que não se culpe e nem sequer se mencione, ainda que por mera suposição, uma agência de propaganda com a tradição da AlmapBBDO, como partícipe desse eventual trambique.
Conhecemos a fundo essa agência campeã e suas regras de compliance, o que nos leva a crer ser impossível seu conhecimento do eventual esquema acima apenas sugerido.
Foi feliz e verdadeira a criação da agência ao decidir pelo título do seu comunicado inicialmente postado na internet, para depois ser transformado em anúncio de página dupla veiculado nos principais meios impressos do país: “Pense duas vezes antes de falar da AlmapBBDO”.
O PROPMARK endossa essas palavras.
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Trechos do discurso de posse de Armando Strozenberg na presidência da Abap Nacional:
“Hoje é um dia em que não há mudança de diretoria da Abap. Apenas outro nome na presidência. Defendendo os mesmos princípios, ideias e projetos”. (…) “O ex-eterno candidato Adlai Stevenson dizia, com justo orgulho, que qualquer criança nos Estados Unidos poderia ser candidata a presidente, desde que os seus colegas a ungissem para disputar tal tarefa”. (…) “(Estou) pronto para liderar (…) os desafios complexos (…) que se colocam hoje diante das agências… (com) nossos negócios cada vez menos rentáveis. Isso tudo em pleno limbo da extraordinária transformação por que passa a comunicação”. (…) “Tempos vulneráveis para alguns. Tempos plenos de oportunidades para outros”. (…) “Embora continuemos, como indústria, melhor que o PIB brasileiro – a publicidade cresceu 1% no primeiro semestre de 2016, atingindo cerca de R$ 60,7 bilhões – não há nada a comemorar se considerarmos que o nosso PIB descresce desde 2015”. (…) “Reitero aqui: nossas 250 agências filiadas, que criam, produzem e veiculam campanhas de nível para mais de 4.000 anunciantes, não estão prontas para compactuar com a vibe de apenas sair bem na foto, que parece ser a filosofia do nosso tempo, muito menos dispostas a entrar nela. Continuarão investindo as verbas de mídia que lhe são confiadas em veículos responsáveis, que respondam por seus atos e cuja face seja claramente reconhecida pela sociedade”. (…) “Como dizia aquele sagaz parlamentar inglês: o problema não é quando a plateia começa a olhar o relógio, mas sim quando balança o pulso para ter certeza de que os ponteiros estão ainda funcionando”.
Armando Ferrentini é diretor-presidente da Editora Referência, que publica o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda