VP da Cimed, Karla Marques convida mulheres a “se jogarem nas oportunidades”
Foi tão natural conviver mais com homens que a gente até pega o jeitão deles
A rotina de Karla Marques Felmanas se confunde com a imagem da Cimed, terceira farmacêutica do país, que espera faturar R$ 5 bilhões até 2025. Vice-presidente da companhia, a executiva abriu o seu Instagram em 2021 - mesmo ano em que ingressou na lista das 20 mulheres de sucesso da Revista Forbes - para falar sobre o dia a dia na empresa, estilo de vida, moda, saúde e bem-estar. Acabou atraindo 1,2 milhão de seguidores no Instagram e mais de 760 mil no TikTok. A fama não pegou só o hidratante labial Carmed Fini, um dos maiores cases do negócio originado por seu avô, João Marques, com o laboratório Prata, em 1950. Hoje, fãs param Karla nas ruas para conversar e tirar fotos. Casada e mãe de três filhos adultos, ela acaba de lançar o livro ‘Oi, tchurma’, com direção criativa de Giovanni Bianco, e conversou com o propmark.
Como surgiu a ideia do livro?
O livro veio para inspirar as pessoas, contar um pouquinho da minha história, sem ser uma biografia muito formal, e sim trazendo 12 pensamentos que eu tive ao longo da minha vida, e que me fizeram chegar até onde eu cheguei. É só o começo. Adorei escrever. Tenho certeza de que vou continuar escrevendo daqui para frente. O livro vem com um Carmed especial, o ‘Oi tchurma’, um presente exclusivo, que só está no livro.
Até quando ainda será preciso falar sobre igualdade de gênero no ambiente de trabalho, e fora dele?
Olha, acho que ninguém vai saber responder isso com precisão. Com certeza absoluta, a gente avançou muito nos últimos anos. Fui assistir a uma palestra recente, de uma senhora de 65 anos. Ela trabalhava em uma montadora. Começou no chão de fábrica e foi crescendo até que veio o convite para atuar no escritório. Quando chegou lá, não tinha nem banheiro feminino. Imagina que loucura. Virou diretora e, quando um profissional alcançava esse cargo, passava a ter o direito de ganhar um carro como benefício. Mas ela demorou um ano para receber o veículo porque a empresa entendia que, como mulher, ela não precisava. Ela entrou na jornada de trabalho 20 anos antes que eu. É uma realidade muito próxima, o que era, para o que é hoje.
O que falta para a mulher cavar mais o seu espaço?
Precisa se jogar mais nas oportunidades que aparecem. Temos várias situações ao longo da vida, por exemplo, quando a gente planeja engravidar. Se, por acaso, tiver algum recrutamento na empresa no mesmo momento em que a mulher começa a pensar em ter um filho, que ela nem sabe em quanto tempo vai acontecer, dificilmente a mulher se candidata para a vaga. Ela se preocupa em ficar ausente da empresa durante o período da licença maternidade, entre outras questões. Muitas vezes, aparecem oportunidades que exigem fluência em inglês, mas se a mulher, de fato, não se sente superfluente na língua, ela não se candidata, enquanto o homem vai lá, e se joga. Falo para as mulheres da Cimed se jogarem mais, arriscarem mais, fazerem automarketing porque se você não falar, ninguém vai. E aí, a gente vai continuar assim. Tem de falar.
O que tem de influência do mundo masculino?
Acho engraçado que, nós, mulheres, que vamos ocupando posições superiores nas companhias, temos de lidar muito com homens, e a gente também acaba ficando muito enraizada nessa cultura masculina. De repente, nos vemos fazendo julgamentos com o olhar masculino. Demorei para perceber isso, até porque, nas reuniões, sempre temos mais homens. Foi tão natural na minha jornada profissional conviver mais com homens que a gente até pega o jeitão deles. Outro dia, fui dar uma palestra para um grupo de mulheres líderes. Estou acostumada a falar em público. Já falei inúmeras vezes para plateias lotadas. Mas acredita que, desta vez, fiquei nervosa ao falar para um monte de mulheres? Sabe por quê? Por causa do julgamento. Porque mulheres têm a mania de julgar.
Leia a entrevista completa na edição do propmark de 1º de abril de 2024