Precisamos aprender com as startups
Uma nova economia, híbrida, formada por empresas tradicionais e novos negócios da collaborative commons (produção colaborativa baseada em recursos comuns elaborada por um grande número de pessoas ocorrendo através da internet) emerge, impulsionada pela revolução digital, mudando a atuação e a configuração das organizações. O mundo não é o mesmo, sobretudo, por conta da explosão do meio digital nos últimos 15 anos, que tem transformado de modo profundo a paisagem econômica, política, social e cultural. Em nossa área, as rotinas e os processos das agências, anunciantes e meios de comunicação também sofreram grandes mudanças. Nesse cenário, tem-se as startups, empresas que se desenvolvem nos mais diversos ramos, em condição de extrema incerteza, tendo em sua essência a inovação para criar produtos e serviços que pretendem revolucionar o mercado. Vale destacar que a inovação é caracterizada pela introdução de novas combinações produtivas ou mudanças nas funções de produção das organizações.
As incertezas no processo de criação de uma startup são uma marca da ordem econômica vigente. Apesar desse cenário, o seu crescimento é exponencial. Segundo a ABStartups (2020), o Brasil está entre os dez países com maior número de startups, com 11 startups unicórnios (empresas com preço de mercado de mais de 1 bilhão de dólares) e tem atraído para a América Latina olhares de fundos de investimento e grandes corporações internacionais. As empresas do setor receberam aportes de US$ 2,35 bilhões (R$ 12,7 bilhões), em 207 negócios, no país, no ano de 2021. Esse volume equivale a 66% dos investimentos registrados em 2020.
Quando o assunto é levado para o contexto global, entre as startups mais valiosas do mundo, a brasileira Nubank está em sétimo lugar, segundo o ranking da consultoria CBS Insights. As 10 startups mais valiosas do planeta são ByteDance (US$ 140 bilhões), Stripe (US$ 95 bilhões), SpaceX (US$ 74 bilhões), Didi (US$ 62 bilhões), Klarna (US$ 45,6 bilhões), Instacart (US$ 39 bilhões), Nubank (US$ 30 bilhões), Epic Games (US$ 28,7 bilhões), Databricks (US$ 28 bilhões) e Rivian (US$ 27,6 bilhões). As startups estão mudando o mundo. Um modelo ágil com solução escalável para o mercado usando a tecnologia como ferramenta principal. Para não fracassar, mesmo com a matéria-prima sendo a inovação, essas empresas utilizam pesquisa de mercado e plano de negócio, ferramentas da administração tradicional para enfrentar a grande incerteza em que atuam. É isso que precisamos aprender com as startups. Nosso modelo de negócio deve ‘pivotar’ (termo do ecossistema das startups, derivado do inglês to pivot, que significa mudar ou girar, e designa uma mudança no rumo do negócio) constantemente em busca de formas de remuneração mais sustentáveis, que consigam reter os criativos e vislumbrar novos caminhos, usando, sim, processos administrativos adaptados da “velha gestão”, como planejamento estratégico, organização, execução flexível e controle.
Precisamos entender que uma agência e uma produtora não precisam parecer com os escritórios do Google, onde os profissionais estão de bermuda e levam seus pets ao trabalho na sexta, mas que deve estar constantemente alinhada aos novos desejos dos consumidores, priorizando produtividade e resultados, em um modelo organizacional horizontalizado, inclusivo, democrático e, acima de tudo, criativo. A criatividade deixou de ser a alma do nosso negócio. A propaganda ficou chata e não percebeu. Agora, precisamos retomar o nosso protagonismo aprendendo com as startups.
André Fernandes é diretor de criação da Ideia Propaganda (São Luís/MA), associada ao Sistema Sinapro/Fenapro (andre@ideiapropaganda.com)