“Preconceito contra a mulher também vem de dentro”

O resultado pode não ser mais surpresa, mas ainda impressiona: cerca de 59 milhões de brasileiros conhecem mulheres que já sofreram algum tipo de preconceito no trabalho. O número foi destacado por Renato Meirelles, presidente do Data Popular, durante o 3º Fórum Momento Mulher, realizado nesta segunda-feira (7), na capital paulista. Idealizado por Ana Paula Padrão e Tatianna Oliva em parceria com a Unilever, o evento reuniu personalidades de áreas diversas para discutir a situação da mulher no mercado atual. “Muitas vezes, ela é vítima do próprio preconceito. É difícil libertar-se de décadas e mais décadas de domínio masculino e de regras que sempre a colocaram em segundo plano”, declarou Meirelles, ao apresentar os dados mais relevantes de uma recente pesquisa encomendada pelo portal Tempo de Mulher, projeto criado por Ana Paula.

Realizado em setembro deste ano, em mais de 50 cidades do Brasil e com a participação de mais de 1,5 mil entrevistados, o estudo reúne informações curiosas, entre elas a maneira como a população enxerga representantes de ambos os sexos que decidem abandonar a carreira em prol da família e dos filhos. “Caímos em um paradoxo. Embora 78% dos homens digam respeitar a mulher que tem essa atitude, 42% deles afirmam não ter respeito por homens que tomam a decisão de ‘trocar de papéis’ e preferir a casa em detrimento da vida profissional. Do total, 54% dos homens acreditam que parar de trabalhar para cuidar das crianças é motivo de vergonha, comodismo, preguiça ou vagabundagem. Apenas 11% dizem ter orgulho desse tipo de ação”, afirma o executivo.

Outros aspectos abordados pela pesquisa incluem tópicos como salário, casamento e cargos de chefia. No Brasil, a diferença entre a remuneração masculina e feminina, em cargos equivalentes, é de cerca de 25% a favor do homem. A porcentagem sobe para 40% nas classes A e B. No estudo, 41% dos entrevistados concordaram que as chances de um casamento dar certo são maiores quando a mulher não trabalha. “Elaboramos questões que tratam de relações interpessoais, soluções diante de crises e trabalho em equipe, entre outras. Em todos os casos, a mulher teve avaliação superior à do homem. Ainda assim, mesmo elas preferem ter chefes do sexo masculino”, relatou Meirelles.

O presidente do Data Popular finalizou sua participação com as mudanças que, segundo ele, resolveriam as questões femininas no ambiente de trabalho brasileiro: mais subsídios do Governo, como maior flexibilidade de horários às que têm filhos, aumento do número de creches e renovação cultural da sociedade. “Nos acostumamos à sentença que o homem tem de ser o provedor. É no dia a dia que começamos as grandes revoluções: o que você passa ao seu filho hoje pode representar um novo país no futuro”.