Alê Oliveira

O japonês Rei Inamoto, que está em Cannes para liderar os trabalhos da categoria Digital Craft, é “uma das pessoas mais influentes da indústria criativa hoje”, segundo atesta o D&AD.  Ex-CCO da AKQA, onde ficou por mais de dez anos, lançou sua própria empresa há cinco anos – a Inamoto & Co. , com foco em “invenção de negócios”. Ele dividiu com a reportagem algumas ideias sobre o futuro da indústria.

O principal ponto de Inamoto é sobre o grau de maturidade do mercado digital e das novas tecnologias e seu reflexo no mercado de publicidade. Para ele, assuntos dos quais muito tem se falado nos últimos anos, como inteligência artificial, além de realidade aumentada e virtual, ainda não explodiram. E isso o leva a uma reflexão do que realmente vai levar à próxima expansão da indústria. “Há pelo menos cinco anos, as pessoas dizem que AI, VR e AR iriam mudar a indústria. Mas eu percebo como grande tendência neste ano, e mais que em outros anos e por mais que isso pareça óbvio, que no final das contas é a criatividade que vai empurrar as coisas para frente. Não a tecnologia”, avalia.

Segundo ele, o mercado digital vive de ondas trazidas por tecnologias disruptivas. “É interessante analisar o digital em 2019, sendo que há mais de 20 anos ele nos acompanha. A minha sensação é que o digital, e a tecnologia, atingiram um teto. Esse mercado tem grandes revoluções a cade três ou quatro anos, primeiro com o online, depois com social media e, agora, mobile.  A cada nova tecnologia que surge, ocorrem grandes mudanças que impactam tudo. Vejo que, agora, estamos encerrando um ciclo”, avalia.

Mas, por trás de cada evolução, Inamoto, que é um dos entusiastas da tecnologia criativa, reconhece que se tratou sempre da boa e velha criatividade liderando o mercado adiante.

Ao ressaltar a força da criatividade, Inamoto deixa claro que ela precisa ser vista de uma forma mais ampla pelo mercado.  “O termo criatividade está se expandindo. Há cinco a dez anos era algo restrito a criativos. Agora, vemos em Cannes novos tipos de profissionais como criativos, não necessariamente apenas diretores de criação”, explica.

Para ele, o ponto mais interessante sobre a indústria da publicidade e o momento que vivemos é que os profissionais e agências devem, antes de pensar em mudança de modelo de negócios, em fazer bem e ser o melhor naquilo em que já são bons. “Há muita coisa a ser feita no que se chama de “publicidade tradicionais”, embora muitos ormatos e canais tenham mudado.  A publicidade segue sendo efetiva para fazer marcas serem lembradas, ganharem awareness. A propaganda do jeito que a conhecemos não vai desaparecer, mas se transformar. Minha empresa se foca em aplicar a criatividade para pensar em estabelecer novos serviços, produtos e empresas. É business invention. Mas não é algo para todos fazerem. O fundamental para quem está no mercado é pensar em como gerar valor para os clientes. Pensar sob o ponto de vista estratégico em como criar experiências tangíveis para o consumidor. Em meio a tanto que se pode fazer, as agências devem ter claro o propósito do que estão fazendo nesse momento dinâmico e confuso que estamos vivendo”, finaliza.