“Men had 98% of all the power in the world and now that’s down to 88%”

(Michael Kimmel – Ph.D. e SUNY Distinguished Professor of Sociology and Gender Studies Center for the Study of Men and Masculinities – Festival Internacional de Criatividade de Cannes 2018)

“Now, some may wonder, why are we still talking about gender equality? We have indeed been talking about it for years, but while it may feel like a lot is happening, the actual progress is frustratingly slow … even glacial.”

(Marc Pritchard – P&G chief brand officer – Festival Internacional de Criatividade de Cannes 2018)

“When I couldn’t get ‘a seat at the table’ with the guys, I decided to build my own table.”

(Amy Nelson – Fundadora do “The Riveter “, um espaço de co-working feminino – Festival Internacional de Criatividade de Cannes 2018)

Ignorância e preconceito andam juntos. Se quem tem o poder de mudar as coisas ignora a realidade, elas jamais serão mudadas. Palavras como “diversidade, equidade e representatividade” são faladas e repetidas à exaustão, em um mundo que ainda está muito longe de ser diverso, igualitário e representativo.

Os números mostram que a grande bolha que detém o poder é quase totalmente formada por homens. A pesquisa “Women in the Boardroom – A Global Perspective”, realizada globalmente pela Deloitte, indica que apenas 15% dos lugares nos Conselhos de empresas em todo o mundo são ocupados por mulheres. 

Um recente estudo da ANA (Association of National Advertisers) sobre a indústria da comunicação, com apoio do movimento #SeeHer, mostrou que as mulheres representam apenas 32% entre Executivos de Marketing, 33% da área de Criação e apenas 10% da Alta Diretoria.

Esses mesmos números mostram o quão prejudicial essa bolha é para os negócios das empresas que esses mesmos homens dirigem. Segundo a McKinsey, o equilíbrio entre o poder econômico de homens e mulheres poderia adicionar 28 trilhões de dólares à economia mundial.

Em termos bem racionais e capitalistas, 28 trilhões de dólares é o que tem custado o machismo no mercado de trabalho.

Acredito que para a construção de um mundo decente, esse custo é incalculável e bem mais alto que esses 28 trilhões.

A diversidade ainda tem sido tratada por muitos como algo facultativo e pior, como um movimento passageiro e datado. Acontece que num mundo com cerca de 7,6 bilhões de habitantes, é ridículo pensar que tantas diferenças podem ser representadas nas esferas de poder por um grupo tão homogêneo quanto o atual. É assustador pensar na quantidade e qualidade de capital humano desperdiçado, desconhecido e ignorado no mundo todo. 

Será que é tão difícil entender que um futuro melhor só se fará com a descentralização e distribuição do poder e da liderança? Para viver num mundo com tantos problemas à espera de soluções, o caminho passa pela ação colaborativa. As soluções virão quando as pessoas que sofrem na pele esses problemas, fizerem parte da busca pelas respostas.

Concordo com Antonio Lucio, Executivo da HP, no painel de Cannes sobre a diversidade como prioridade de negócios: a mudança precisa ser sistêmica e holística.

Na Artplan, a plataforma de Contratação às Cegas é fruto da crença de que a diversidade eleva o nível das conversas e dos negócios. Queremos construir um território mais fértil para ideias prosperarem. Essa plataforma garante que pessoas de fora do universo das principais agências e universidades, mas dentro de um perfil que faz diferença, chegue até nós.

Queremos um lugar onde os consumidores das marcas que atendemos sejam devidamente representados e compreendidos. Queremos mais lugares de fala ocupados por quem é de direito.

Dá mais trabalho, leva mais tempo e o caminho é mais longo. Mas não vamos desistir. Quem quiser se juntar a nós nessa construção de futuro, tem as portas abertas.   

 Flávia Campos, é diretora geral de planejamento da Artplan São Paulo