Há 11 anos, em abril de 2008, Bianca Guimarães, com 19 de idade, terminava um estágio, como diretora de arte, na extinta WG, em São Paulo. Trabalhou na Eugenio e, logo depois, em dezembro de 2009, já estava em Manhattan, na JWT. A partir daí,  passou a ser um dos talentos mais observados na dinâmica criatividade norte-americana. Há cerca de um ano está na BBDO New York como vice-presidente e diretora de criação. Bianca representará o Brasil no júri de Direction do D&AD 2019, em Londres, entre 21 e 23 de maio. Por e-mail, ela compartilhou opiniões sobre publicidade e diversidade. Veja a seguir os principais trechos desta entrevista.

ROTINA E DESAFIOS
A BBDO NY é uma agência muito grande. Mesmo trabalhando lá, fica difícil de estar por dentro de tudo que está sendo produzido. Vira e mexe eu vejo comerciais produzidos pela agência na TV pela primeira vez. Um exemplo de campanha desafiadora, para mim, foi para a iniciativa da AT&T contra o uso do celular ao volante. O briefing em si já é desafiador pois esse tema já foi muito explorado. Além disso, a etapa de produção foi complexa pois a ideia era “trazer de volta” dois meninos que perderam a vida em acidentes, há quase 10 anos, para que eles contassem tudo aquilo que foi perdido. Para isso, trabalhamos com artistas forenses para projetar o rosto de cada um com 10 anos a mais e depois disso com um time de efeitos especiais para alterar o rosto dos atores de forma com que ficassem iguais à projeção criada. Foi um desafio conseguir representá-los da forma mais fiel possível e encontrar as palavras certas que pudessem descrever o futuro de cada um. No final, a campanha teve um resultado muito positivo, o que fez com que todo o trabalho valesse a pena.

PERFIL PROFISSIONAL
Eu procuro ser uma diretora de criação que motiva as pessoas. Tento sempre achar algo positivo, uma semente, um começo ou um insight quando me apresentam ideias. É fácil apontar os defeitos, o difícil é reconhecer o começo de uma ideia e saber incentivar o time a chegar lá.

TENDÊNCIAS
Uma das principais tendências atualmente é a necessidade de passar uma mensagem com conceito e chamar a atenção do consumidor em cada vez menos tempo ou menos espaço. Além disso, existe uma tendência de produzir conteúdo com mais agilidade, colocá-lo nas plataformas sociais, analisar como a mensagem foi recebida, reagir e otimizar o resultado.

PLATAFORMAS DIGITAIS
Elas fizeram com que o consumidor tenha uma voz tão ativa quanto a do anunciante, o que influencia muito na forma com que comunicamos uma ideia. Além disso, elas possibilitaram o levantamento de dados do comportamento do consumidor e do modo com que ele interage com uma mensagem.

FORMATOS
O formato pra mim é o de menos. Acho que temos de saber criar e ser eficaz em qualquer formato.

MELHORES COMERCIAIS
Eu achei brilhante Tide Ad, Trash Isles e The Talk. O Tide Ad é uma sacada muito simples, mas muito inteligente, e os anúncios são divertidos. Trash Isles é o tipo de ideia que, quando você ouve, você acha incrível, mas bem difícil de fazer acontecer. Nesse caso, o time conseguiu executar e, ainda por cima, com excelência. The Talk foi um dos primeiros e melhores anúncios a abordar o tema da tensão racial nos Estados Unidos de uma forma extremamente realista e cativante.

MADE IN USA
Aqui nos Estados Unidos, estamos em um momento muito legal, onde existe um foco em diversificar os times que estão por trás da produção dos trabalhos. Cada vez mais vemos mulheres dirigindo os filmes, pessoas de backgrounds e culturas diferentes participando de cada parte do processo. Isso faz com que os resultados dos trabalhos sejam mais interessantes e fiéis à nossa realidade.

MADE IN BRAZIL
No Brasil, há um cuidado especial com direção de arte e design. A arte apresentada para o cliente muitas vezes parece arte final. Acho isso muito legal. Em relação a pontos negativos, acho que ainda existe pouca diversidade nas agências. Nossa indústria será muito beneficiada no dia em que as agências representarem o quão diverso é o público com o qual elas se comunicam.

SOBRE O D&AD
É um dos festivais mais bem conceituados do mundo. Ele premia os melhores trabalhos feitos no nosso meio, por isso é bem competitivo e valorizado. Acho que o posicionamento deles é como todos os prêmios devem ser julgados: não basta a ideia ser boa, ela tem de ser produzida com excelência em todos os aspectos.