Nova lógica, impacto, flexibilidade e sustentabilidade. Essas palavras são bem fortes e constantes no dia a dia da designer Gisela Schulzinger, há 25 anos à frente da Haus Design e, nos últimos cinco anos, também na presidência da Abre (Associação Brasileira de Embalagem). Gisela, que se define como “otimista e multidisciplinar”, integra o júri de Design de Embalagem do D&AD 2019. O festival será realizado em Londres, entre os dias 21 e 23 de maio. Por telefone, na semana passada, Gisela conversou sobre a abrangência e qualidade do design no Brasil e no mundo. Veja abaixo os principais trechos da entrevista.

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Conceito complexo
A própria natureza do design faz com que seja complexo fazer uma definição. É uma área muito abrangente. Tudo tem a presença do design. Em cada interface, em suas diversas possibilidades de integração com outras área, ele mesmo se redefine. Para mim, o que define o design é esta transversalidade. É também a possibilidade de interação com diferentes universos.

Percepção e realidade
O mundo percebe o design do Brasil com uma imagem muito consolidada envolvendo sustentabilidade e flexibilidade. É um design possível e flexível. Tal percepção se sustenta na própria característica do Brasil de ser múltiplo. Ela segue a lógica de fazer mais com menos, de reciclar materiais e de reciclar a própria linguagem. O design brasileiro se equipara ao design dos maiores e melhores mercados do mundo. Não deixamos nada a desejar.

Desafios
O grande desafio é essa passagem para o mundo digital. Não estamos no mesmo timing. A diferença está na própria formação do designer, que é mais analógica. O mercado como um todo está se esforçando para inserir a lógica digital. Não é uma substituição e sim a possibilidade de transitar bem nos dois mundos.

Design sustentável
Acho que no Brasil, a grande virada desta questão da sustentabilidade será incorporada dentro das empresas a partir de um protagonismo do design. Nunca vi o design ser posicionado com tanta importância como agora. Antes, era mais visto como estética. Hoje, é visto como uma forma repensar e projetar a economia circular. Grandes empresas contratam designer para pensar as soluções de sustentabilidade. O setor de embalagem, que abraça toda a jornada de consumo, está bem à frente neste assunto de sustentabilidade. Moda, móveis e cosméticos também se destacam. O design é responsável por pensar a sustentabilidade em três pilares, o econômico, o social e o ambiental.

Design com mandioca
O design se reinventa com materiais a partir de elementos da natureza, como folha da bananeira e a mandioca. Nossa natureza, que é tão rica, permite resultados muito interessantes. Há no mercado uma linha de produtos de utensílios domésticos feitos a partir da mandioca.

Outros mercados
Não exatamente pelo mérito da qualidade, estou totalmente impressionada com o que está acontecendo nos mercados asiáticos, principalmente China, Japão e Coreia. A presença deles em premiações chama muito a atenção. Eles não são necessariamente os mais criativos, mas estão com uma produção forte, uma evolução significativa.

Tendências
Intensificação do olhar da sustentabilidade para tudo. Vejo também o design de serviço voltado para o design estratégico. Vemos uma tendência enorme da incorporação da lógica do design pelo setor de serviços. Pensar produtos como veículos de entrega de serviços.

Perfil otimista
Em primeiro lugar, sou uma designer absolutamente otimista, acredito muito em uma visão sistêmica. Só consigo funcionar de forma multidisciplinar. Tenho várias atuações em diferente áreas e isso reflete também na maneira como formo minhas equipes. Sou muito entusiasmada com todas as possibilidades.

Novo modelo
A Haus foi fundada em 1998 e hoje a agência passa por um intenso processo de revisão. Estou mudando o meu modelo de negócios para uma nova realidade e uma nova lógica de entrega, inclusive uma nova lógica de relação com o cliente. Não é mais uma lógica transacional e sim de participação interna com os clientes.

Balanço da Abre
Desde o lançamento da Haus, estou envolvida com a Abre (Associação Brasileira de Embalagem). Há cinco anos, tive a oportunidade de estar à frente da associação e acabei assumindo um grande movimento de mudança, de quebra de paradigmas. Houve inclusive uma revisão do estatuto para eu poder ficar mais dois anos à frente da Abre, até o ano que vem. O objetivo é criar impacto para o setor. Tem sido uma grande experiência. Sou a primeira mulher, em 50 anos da Abre, na presidência da associação.