Com mais de 25 anos de experiência, Laura Florence, diretora-executiva de criação da operação brasileira Havas Health & You, foi escolhida para representar o Brasil como jurada na categoria Pharma no Cannes Lions 2019. A profissional é cofundadora do More Grls, um instituto que visa aumentar o número, o valor e a visibilidade das mulheres criativas nas áreas de publicidade, conteúdo e design. Seu ponto de vista fica claro na entrevista a seguir. A diretora exalta o lado humano de uma categoria ligada à saúde, mas alerta: “A participação das mulheres e a diversidade são importantes em todas categorias.”

Convite
É uma alegria fazer parte do festival mais importante do mercado, não tem como não ficar feliz. Sobre expectativas, acho que vai ter muito trabalho. Também é um momento de encontrarmos pessoas que nunca pensamos em conhecer, pessoas do mundo todo. A categoria Pharma está em desenvolvimento. Cada ano melhor, hoje já é uma das categorias mais importantes, acho que vou ver muitas coisas legais e criativas, principalmente do lado humano. Acho que o mundo todo está passando por essa coisa da humanização. Acredito que é a categoria que traz isso mais presente. Acho que vou ver coisas muito emocionantes.

Rigor
Pharma é uma categoria muito cheia de restrições, então, todo mundo sabe que a restrição limita também a criatividade. Para você conseguir fazer uma coisa muito legal é preciso percorrer um caminho muito tortuoso, difícil de chegar, por isso acho complicado grandes ideias, até porque acredito que o júri compara as dessa categoria com a das outras. Acho também que é preciso entender o mercado para você dar valor para as ideias. Apesar que esse ano a categoria vai mudar porque tem um pouco de humanidade que está entrando na ciência da Pharma. Hoje a gente fala um pouco mais sobre curar pessoas de maneira mais holística do que cientificamente. Então, isso também alimenta ideias de uma outra forma, quando você fala um pouco mais do lado humano é muito mais fácil a gente se identificar com uma ideia do que com outra coisa. Quando nós falamos de emoções e empatia, ficamos muito mais próximos das ideias do que quando falamos só de ciência. Esse ano teremos uma mudança grande em termos de qualidade das peças de Pharma.

O Festival
Como premiação, Cannes Lions ainda é o mais importante do mercado. Até porque a indústria ainda se mobiliza muito para ele. O SXSW é um local de aprendizado maior do que Cannes. Cannes é um lugar de consagração, de encontrar pessoas, fazer conexões. É importante para o trabalho porque quando você conhece a pessoa você trabalha melhor com ela. O mercado está muito mais pulverizado do que era antes. Tínhamos menos agências, menos profissionais, poucas pessoas tinham mais importância. Hoje a gente tem mil categorias, mil jeitos de usar criatividade, eu não sou saudosista dos tempos passados. O festival tem acompanhado as mudanças. Algumas coisas poderiam melhorar.

Diversidade
Tivemos poucas mulheres escolhidas para o júri. Dos 22 jurados brasileiros, oito são mulheres. Não conseguimos chegar perto da representação da brasileira na sociedade. A participação das mulheres e a diversidade são importantes em todas as categorias. Acho que nosso olhar é muito diferente dos homens. Até porque, temos um jeito de pensar e reagir a emoção diferente. Nosso humor e sensibilidade são distintos. Quando a gente olha uma peça criativa, a gente sente diferente. É sobre sentir. Na categoria Pharma, falamos muito sobre o corpo humano. Principalmente cientificamente e, às vezes, mencionando doenças. A maneira como reagimos a isso é muito diferente. Mesmo se você pensar em homens e mulheres doentes, temos um relacionamento com a doença diferente. Acho que é uma construção cultural, mas tende a ser diferente. A mulher faz muito mais prevenção a doenças do que o homem, ela procura mais rápido acompanhamento médico do que os homens. Acho que tem uma diferença aí. A categoria é muito mais direcionada para as mulheres por conta disso, pois são as mulheres que se cuidam, então as mensagens são muito mais direcionadas a elas do que a eles.