Produções nacionais ganham força e audiência com intercâmbio de telas
Como Dona Hermínia, Paulo Gustavo “adotau” um público enorme no conteúdo de Minha Mãe É Uma Peça
Teatro, cinema, TV e internet. A trajetória de Minha Mãe É Uma Peça dá uma pequena dimensão do poder do intercâmbio de telas e do que o público pode esperar das produções nacionais. A famosa comédia estrelada por Paulo Gustavo alcançou no segundo longa a terceira maior bilheteria como filme nacional, levando 10 milhões de pessoas aos cinemas. O terceiro filme estreia em 26 de dezembro de 2019 e uma série chega até 2020 no Globoplay. Já o clássico programa Sai de Baixo era gravado ao vivo em um teatro, com a presença de plateia. Exibido na Globo de 1996 a 2002, o pessoal do Largo do Arouche chegou aos cinemas no último dia 21. Em quatro dias, foram arrecadados mais de R$ 2,3 milhões (o terceiro filme mais visto da semana no país). O longa inspirado no mesmo humor da atração busca reviver todo o seu sucesso e renovar o público.
Esse intercâmbio entre cinema e TV não é algo novo. Basta lembrar de O Auto da Compadecida, por exemplo, lançado em 2000, que foi exibido inicialmente em formato de minissérie na TV aberta. Porém, isso tende a ser mais recorrente e intensificado, com a ampliação e fluidez entre diferentes plataformas de mídias.
Olhar multitela
De acordo com Edson Pimentel, diretor da Globo Filmes, há o desafio de desenvolver, em coprodução com os parceiros, conteúdos que atendam a exibição em multijanelas. O propósito permite que o projeto atinja o maior público possível no cinema, na televisão e em outras mídias. “Buscamos diversificar conteúdos que motivem o público para o cinema brasileiro, e a TV tem sido uma excelente plataforma para projetar, divulgar e incentivar os filmes nacionais. Há sempre o desafio de apoiar no fomento e no incentivo, para que cada vez mais tenhamos grandes plateias assistindo a conteúdos brasileiros nas salas de cinema. É um importante passo para dar visibilidade para o talento nacional e consolidar a nossa indústria de produção independente no cinema e em outras janelas”, afirma.
Série Sob Pressão estreou em julho de 2017 na TV após nascer no cinema em 2016
Alguns projetos já nascem com essa vocação e são rodados ao mesmo tempo um longa para o cinema e minissérie para outras telas. Há também casos em que essa ideia surge ao longo do processo de realização. “Mas esses projetos representam apenas uma parte de diversificada carteira de coproduções. Nossa medida não é o tamanho da produção, mas sim a qualidade da temática e sua relevância. A pauta são boas histórias, variadas, que mexam com o público, que falem a língua dele, que emocionem, façam rir, refletir, que falem do Brasil e dos brasileiros, que adicionem conhecimento, alguma inquietação”, explica Pimentel. Um dos cases destacados é o projeto Sob Pressão, cujo filme se adaptou para ser um seriado de sucesso e premiado na televisão. A primeira temporada do drama médico estreou na Globo em julho de 2017 e o filme foi para o cinema em 2016.
Na visão da empresa, o cinema multitelas faz com que a obra seja prestigiada por um público muito mais amplo, atrai novos investidores, o que é fundamental para consolidar a indústria do cinema. “É mercado para novos talentos, produtoras e todos que estão envolvidos no processo produtivo do entretenimento”, comenta.
Audiência e sobre ontem
Mesmo que não saia da tela original, os conteúdos nacionais ganham vigor com as redes sociais e divulgações no pulso dos espectadores, despertando interesse de novos públicos e plataformas. O próprio Paulo Gustavo, após “adotar” um público enorme como a Dona Hermínia, parece repetir a dose com o filme Minha Vida em Marte, sequência de Os Homens São De Marte… E É Pra Lá Que Eu Vou. Protagonizado por Mônica Martelli e Gustavo, o longa lançado no Natal já levou mais de quatro milhões de espectadores ao cinema. Nas redes sociais, posts brincam com situações do dia a dia e meses usando o elenco mantendo aquecidos o filme e a conversa com a audiência.
Minha Vida em Marte, comédia protagonizada por Paulo Gustavo e Mônica Martelli, já tem mais de quatro milhões de espectadores
Lançado no dia 14, Minha Fama de Mau traz um recorte que vai da juventude de Erasmo Carlos na Tijuca, onde conheceu Tim Maia e formou o The Snakes, até o fim da década de 1970, na Jovem Guarda, ao lado de Roberto e Wanderléa. O longa tem produção da LMC LaToller e da Indiana Produções, coprodução Globo Filmes, Telecine e Universal Pictures, e distribuição da Downtown Filmes e Paris Filmes.
Também nesse resgate ao passado e renovação de público, o mês de março tem a estreia de Cine Holliúdy 2, continuação da franquia de sucesso de público e de crítica. O longa é estrelado por Edmilson Filho, que volta a interpretar Francisgleydisson, e completa a trilogia involuntária sobre o cinema popular no Nordeste do Brasil. Cine Holliúdy abordou o fechamento dos cinemas do interior do Ceará na década de 1970, após a chegada da TV. O longa tem Glaz e ATC Entretenimentos em coprodução com a Globo Filmes, Paramount Pictures e Telecine, distribuição da Downtown Filmes/Paris Filmes e investimento do FSA e Funcine BRB, e TIM.
Após oito anos na TV, a turma do Largo do Arouche foi parar no Sai de Baixo – O Filme
Para jovens e por jovens
Renata Rezende, produtora-executiva na Paris Entretenimento, divisão da Paris Filmes, lembra que o sucesso do primeiro projeto da produtora, Carrossel – O Filme, que já foi muito pensado para essa migração. Foram 2,7 milhões de espectadores e o quarto filme nacional mais visto do ano. De lá para cá, os filmes da casa já foram vistos por 20 milhões de pessoas nos cinemas. “Foi um boom. E entendemos desde esse começo que trabalhar com um público cativo é uma força muito grande. Fizemos, por exemplo, os filmes Detetives do Prédio Azul 1 e 2, e estamos produzindo o DPA 3”, celebra.
No entanto, apesar de ter uma base de fãs já apaixonada pelo conteúdo, não adianta apenas empacotar para exibição em outra plataforma. A profissional afirma que é preciso criar diferenciais relevantes para convencer o público a pagar para ver no cinema “o mesmo” conteúdo já exibido na TV. “Cada filme é completamente diferente. No DPA 1, eles saíram do prédio; no 2, eles foram para a Itália. No 3, ainda é surpresa”, comenta sobre o filme previsto para o Natal de 2019. Com lançamentos no segundo semestre, há oito projetos em andamento. “É um ano muito aquecido para a gente.”
Adolescentes também encontram conteúdos que mesclam as telas, especialmente no elenco, com influenciadores estrelando as produções. Com distribuição da Galeria Distribuidora e Buena Vista International, Cinderela Pop, que estreou dia 28, tem a atriz e apresentadora Maisa como protagonista. Com apenas 16 anos, ela é a adolescente mais seguida no mundo no Instagram (20,5 mi seguidores). O trailer teve mais de dois milhões de visualizações em cerca de 24h.
Um dos apoiadores é o Rei do Mate, que já patrocinou mais de 25 filmes como O Doutrinador, Loucas para Casar, É Fada!, SOS Mulheres ao Mar 2 e Vai que dá Certo 2. Antônio Carlos Nasraui, CEO da rede, reforça que a marca mantém firme esse projeto de fomento no Brasil por acreditar no mercado e nos conteúdos. “Vamos continuar apostando na valorização da cultura brasileira e nossas ações em product placement seguem a todo vapor. Somos uma marca 100% brasileira e acreditamos na cultura do nosso país”, diz.
Minha Fama de Mau estreou em fevereiro nos cinemas misturando gerações