"Design está entrando forte no mundo dos negócios"
A área vive o amadurecimento no país, com a chegada de clientes de porte médio para o branding. Mundialmente, o design evoluiu muito nos últimos anos e fortalece seu papel. “Cada vez mais se fala da importância de tratar a marca como um ativo estratégico no negócio. Isso foi uma grande conquista dos últimos anos. Hoje recebemos briefing com escopo claro e temos concorrentes de peso que entregam trabalho de qualidade e com valores equiparados. Isso mostra que, além do branding ter se popularizado, ele também já criou uma demanda mais organizada e com maior valor percebido”, analisa Ana Couto, sócia da Ana Couto Branding.
Segundo ela, o design está entrando forte no mundo dos negócios. O chamado design thinking é um processo de trabalho que traz inovação com mais relevância para o consumidor. “Isso tudo reflete uma mudança significativa das empresas brasileiras, que é olhar o resultado de curto, médio e longo prazos. Branding é gestão de longo prazo com resultados a curto”, diz.
Ricardo leite, diretor de criação da Crama, afirma que ficou para trás o tempo em que se acreditava que marcas eram construções exclusivas da publicidade, e os designers entravam na etapa final para “refinar esteticamente” um produto ou embalagem, criar logos ou leiautar peças corporativas. O design se tornou a melhor resposta para os muitos desafios de branding que hoje se apresentam. “Hoje se sabe que o design é, muitas vezes, o produto em si. Designers estão envolvidos desde o início da concepção dos produtos ou serviços. As agências de branding design participam das definições estratégicas.
Designers criam produtos, descobrem e reinventam significados, otimizam processos e mapeiam oportunidades. Dos produtos às expressões, designers pensam transversalmente cadeias produtivas relacionando-as entre si”, diz Leite.
Cultura
Um bom exemplo é o departamento de design da Coca-Cola, empresa que vem investindo no desenvolvimento de uma “cultura de design”, uma verdadeira orientação pelo design. Mais do que um conceito, o “design thinking” se apresenta como uma metodologia que tem na imprevisibilidade do processo criativo a sua maior vantagem. Leite diz que em um mercado que clama por criatividade, pede inovação a cada geração de produtos, e em que se confronta o novo ao seguro e já conhecido, as empresas precisam cada vez mais da parceria com os designers.
“A maior conquista que o design thinking trouxe para as empresas de design foi a valorização da nossa metodologia (e, consequentemente, da nossa atividade) pelos clientes que antes tinham grande dificuldade de aceitar a imprevisibilidade do processo criativo como vantagem no seu mundo tão pragmático e linear. O design lida com ativos intangíveis, o que pode parecer loucura para executivos, afinal, a beleza do processo é saber que não existe uma solução certa, mas várias possíveis. Muitas certas, muitas erradas”, declara Leite.
Para ele, designers serão cada vez mais “knowledge brokers”. “Temos buscado constantemente entender tendências, monitorar o comportamento humano, nos aspectos psicossociais e de consumo, que balizem nossas decisões estratégicas e projetuais. No fundo, o que oferecemos aos clientes é inteligência de negócio através de design e comunicação”, diz.
Na Crama, o design é “transversal”, transdisciplinar. A equipe é formada por estrategistas, redadores, design thinkers, designers digitais, interativos, gráficos, de produto, arquitetos, produtores.
Gustavo Greco, fundador e diretor de criação da Greco Design, diz que o design saiu do lugar puramente estético e conquistou caráter estratégico. “Os designers ganham mais espaço e são chamados mais cedo para as conversas, participando da concepção do projeto e não somente de sua solução formal. Ao apelar para os sentidos, o design deixa evidentes as diferenças entre as marcas e materializa o seu propósito. Esse ofício torna-se um exercício cotidiano e contínuo de compartilhamento, renovação e ressignificação por meio de projetos com conteúdo que utilizam a informação como principal insumo. Assim, o design vem se consolidando como uma disciplina capaz de projetar um futuro melhor – e para todos”, comemora Greco.
Sua preocupação, hoje, é em não ter “uma cara” e ser capaz de fazer qualquer tipo de trabalho criativo. “É claro que existem traços que nos descrevem, como gostar de soluções de alto impacto visual e prezar pela excelência visual, mas buscamos sempre o inusitado e o exercício de síntese, o que realmente é necessário. O mais importante é entender a história do outro, o universo desse cliente, para só assim traduzi-lo em imagens”, diz Greco, que assume não gostar de “tendências”. Para ele, tendências “emburrecem” e fazem pessoas e empresas seguirem sempre na mesma direção.
Cotidiano
Diego Marques da Rocha, diretor de arquitetura e design da That Design, diz que o que vem favorecendo a área é que novas profissões e especificidades nas áreas de design surgem a cada dia. “Usamos o conceito de design ao criarmos coisas no nosso cotidiano e nem nos damos conta disso, pois a área é muito ampla. Particularmente, tenho percebido um uso interessante do design na indústria alimentícia, principalmente em confeitarias. Com doces muito bem elaborados e detalhes incríveis que conquistam nosso paladar pelos olhos”, comenta.
Segundo ele, um conceito bastante atual é a popularização do design transcrita no livro “Creative Confidence”, de Tom Kelley, onde o autor reforça a ideia de que criatividade e design são para todos e não apenas para um grupo seleto dos ditos “Criativos” (pessoas que trabalham profissionalmente com design).
“Todos temos a capacidade criativa para criar e recriar o mundo à nossa volta, seja em pequenos detalhes no nosso cotidiano até projetos de design sociais que facilitam a vida de diversas pessoas necessitadas.”