Quais serão os impactos na imagem das marcas de bebidas destiladas com a crise do metanol
De acordo com dados do Ministério da Saúde, São Paulo é o estado com maior concentração de casos
Nas últimas semanas, o Brasil tem acompanhado uma escalada de casos de intoxicação por metanol relacionados ao consumo de bebidas destiladas adulteradas.
Dados do Ministério da Saúde mostram que, até a última segunda-feira (13), foram registradas 213 notificações, sendo 32 casos confirmados e 181 em investigação. Em relação aos casos suspeitos, São Paulo é o estado com maior concentração, contabilizando 100 casos em investigação.
Em seguida, aparecem Pernambuco com 43 suspeitas, Espírito Santo (9), Rio Grande do Sul (6), Rio de Janeiro (5), Mato Grosso do Sul (4), Piauí (4), Goiás (3), Maranhão (2), Alagoas (2), Minas Gerais (1), Paraná (1), Rondônia (1).
Substância extremamente tóxica, o metanol é utilizado em solventes e combustíveis. Especialistas dizem que uma pequena quantidade já é suficiente para causar graves problemas de saúde, como cegueira, falência múltipla dos órgãos e até morte.
Essa nova onda de intoxicações traz à tona um problema recorrente no setor de bebidas: a adulteração clandestina com metanol, utilizado por falsificadores a fim de aumentar a margem de lucro.
Diante dos casos, os ministérios da Justiça e da Saúde apresentaram ações emergenciais para coibir que a falsificação de bebidas destiladas. Entre as ações estão a notificação compulsória de casos suspeitos, criação de um comitê para discutir o fortalecimento da fiscalização, etc.
Marcelo Boschi, professor de marketing e coordenador dos cursos de pós-graduação da ESPM Rio, avalia que, no curto prazo, deverá afetar a imagem das marcas de bebidas destiladas.
“Além do problema de saúde pública gravíssima, que reverbera nas vendas, mostra a vulnerabilidade de um setor que, historicamente, é acusado de negligência e manutenção das marcas”, diz.
O professor relembra o caso da cerveja mineira Backer, contaminada por dietilenoglicol e monoetilenoglicol, substâncias tóxicas utilizadas na indústria de bebidas como anticongelantes.
Em janeiro de 2020, pessoas que tomaram as cervejas adulteradas apresentaram sintomas graves de intoxicação – à época, dez consumidores perderam a vida e 29 tiveram problemas renais agudos.
“Diferente da Backer, hoje, eu vejo que marcas individualmente não estão afetadas, porque não se trata de um problema da marca A, B ou C de bebidas destiladas, nem de uma bebida específica, se você levar em consideração as subdivisões dessa categoria”, defende.
Falsificação não é acidente
Em carta aberta, a ABBD (Associação Brasileira de Bebidas Destiladas) manifestou apoio às vítimas de intoxicação por metanol em bebidas falsificadas, e enfatiza que a falsificação não é um acidente, e sim, um crime que afeta consumidores, comerciantes e os fabricantes originais.
"Como indústria, continuamos colaborando com as autoridades de todas as formas possíveis. Ampliamos campanhas para orientar consumidores e estabelecimentos a verificarem a procedência das bebidas. Estamos promovendo ações como o Programa Bebida Segura, engajando bares, restaurantes e pontos de venda", diz um trecho da nota.
(Crédito: Foto de Vinicius "amnx" Amano na Unsplash)