Qual é o impacto da inteligência artificial na área de estratégia

Estudo da Warc revela que 80% dos estrategistas consideram a disciplina tratada como secundária nas agências

A Warc acaba de divulgar a edição 2025 de seu relatório anual ‘The Future of Strategy’, que analisa o papel da estratégia de comunicação no marketing global.

O estudo ouviu 1.127 profissionais de todo o mundo e foi apresentado oficialmente pelo Estadão, representante do festival no Brasil.

De acordo com o levantamento, 80% dos estrategistas afirmam que a disciplina está em um ponto de inflexão, e 62% dizem que ela é tratada como algo “descartável” em momentos de restrição orçamentária.

O relatório indica que o número de profissionais dedicados à área está em queda — apenas 31% dos respondentes esperam aumento nas equipes de estratégia nos próximos 12 meses, contra 47% em 2024.

A redução ocorre justamente em um momento em que as marcas buscam orientação mais clara sobre como navegar em ambientes de negócios complexos.

“Estamos nos escondendo atrás de uma grande quantidade de dados e pesquisas, mas não estamos apresentando nosso ponto de vista com a força necessária. Isso acaba diminuindo o nosso valor", provoca Ellie Bamford, diretora de estratégia da VML América do Norte.

Impactos da inteligência artificial

A edição de 2025 destaca também as percepções sobre a IA. Quase metade dos entrevistados (46%) discorda que a tecnologia vá reduzir o valor dos profissionais de estratégia, mas 37% acreditam que ela pode aprender a realizar saltos estratégicos, considerado  uma das habilidades humanas mais valiosas.

Segundo o relatório, 76% dos estrategistas afirmam ter ampliado o uso de IA em suas rotinas no último ano, especialmente na América do Norte (85%). As principais aplicações são a análise de concorrência (66%), a elaboração de briefings (51%) e a obtenção de insights culturais (42%). O uso de dados sintéticos também cresceu, de 32% em 2024 para 38% em 2025.

Apesar dos avanços, os profissionais apontam limitações: 61% citam a falta de originalidade e 60% a ausência de nuances culturais como os principais entraves da IA. "O desafio para os estrategistas não é resistir à IA, nem abraçá-la cegamente, mas sim fazer parceria com ela. Não se trata de abdicar do nosso papel, mas de evoluí-lo. Retomar a estratégia da rotina pesada e redescobrir a alegria do pensamento", resume Oliver Feldwick, diretor de inovação da T&P.

Além dos frameworks

Outra conclusão do relatório é que as agências precisam promover um pensamento mais imaginativo e menos dependente de frameworks padronizados. “A estratégia recupera sua relevância quando deixa de polir a simetria e começa a abrir vantagens — lacunas de entendimento, de acesso ou de timing”, aponta Joseph Burns, líder de estratégia da Quality Meats Creative.

As oportunidades mais relevantes identificadas pelos profissionais estão relacionadas a ajudar marcas a navegar pela volatilidade de suas categorias (52%) e do cenário de mídia (45%).

O estudo propõe um reposicionamento da estratégia dentro das agências, de uma função de bastidores para uma parceira ativa no crescimento dos clientes. Para Tomas Gonsorcik, diretor global de estratégia da BBH, a área deve operar como um serviço autônomo: “Seus principais clientes são os criativos e os CMOs. O propósito é oferecer clareza de crescimento, não apenas apresentações”.

“Nosso relatório funciona como um termômetro do estado da disciplina. Ele mostra como as agências estão lidando com os desafios do planejamento e o crescimento dos estrategistas independentes, além de avaliar o impacto da inteligência artificial”, conclui Lena Roland, diretora de conteúdo da WARC Strategy.