Quem cuspir primeiro ganha

Francisco Alberto Madia de Souza

Nas livrarias brasileiras, menos na Cultura e Saraiva, que estão em recuperação extrajudicial, o livro de Jaron Lanier, nascido em New York City, em 1960, músico e cientista de computação.

Eleito pela revista Time, em 2010, como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, Ten arguments for deleting your social media accounts right now, que na tradução virou Dez Razões para Você Deletar agora suas Redes Sociais, ou seja, tradução literal.

Talvez, uma tradução simplificada fosse melhor e vendesse mais livros, tipo, Caia Fora do “Feice”, Já! Ou, Caia Fora das Redes Sociais Ontem… Mas, não importa.

O livro é interessante, curto, de fácil leitura e compreensão, e de todas as razões e motivos apresentados por Lanier, a que mais chamou a minha atenção – mesmo porque depois da leitura a cabeça da gente não para de pensar e você vê que é isso mesmo…

Lanier fala que um dos maiores sucessos da inteligência artificial é a de detectar os posts de maiores sucessos nas redes sociais. E vocês sabem quais são? Aqueles que irritam as pessoas.

Todos aqueles que lambem e agradam as pessoas provocam uma espécie de humildade excessiva nos internautas, que enrubescem, sorriem, fazem no máximo um ou dois comentários, dizem um obrigado, ou, na maioria das vezes, colocam um coraçãozinho ou uma mão sugerindo positivo, e segue a vida. Ou, morre por ali!

Agora, quando os posts irritam, as pessoas não conseguem se desligar e pular fora, a temperatura sobe, e saem na porrada, baixaria, ofensas e, de repente, comportam-se como os piores dos animais, ou, se preferirem, bichos.

Ou seja, galera, Lanier revela o grande truque da inteligência artificial. Lembra-se dos tempos de criança?

Quando dois moleques começavam a brigar, e um capeta, ou espírito de porco como chamávamos na época, dizia, colocando a mão entre os dois: “Quem cuspir primeiro na minha mão, ganha!”.

E aí um dos dois ou os dois cuspiam e o gozador tirava a mão. E os contendores, devidamente cuspidos, aí sim é que aumentavam a intensidade da raiva e das porradas. Rigorosamente como acontece com a maioria das pessoas nas redes sociais…

De certa forma, é isso que a inteligência artificial faz durante eleições e no campo político. Mostrar para você o que te emputece.

E aí você sai na porrada e só depois, quando recobra a sensibilidade, lucidez e juízo, é que se envergonha do papelão que protagonizou. Agora que sabemos o que nos faz bichos, não temos mais justificativas para passar tanta vergonha.

Ao menos que isso nos felicite… Definitivamente, não acredito. Valeu Jaron Lanier… Só esse insight mais que vale o livro.

Claro, não pretendo usar esse aprendizado em hipótese alguma e nem recomendar a nossos clientes que o façam.

Mas é bom saber a razão e o motivo, repito, de tantas vezes excedermos nossos limites e voarmos no pescoço dos que nos provocam.

Quando tudo o que deveríamos fazer era ignorar e não cair na lamentável e ridícula armadilha.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing famadia@madiamm.com.br