Quem pariu e detém a inteligência artificial que a eduque
Ou, não nos enganem nem tirem proveito de nossa compulsão que depois, e passada a euforia, ficamos indignados. Assim, e finalmente, e assentando o entusiasmo e a poeira, a hora da verdade das redes sociais chegou. O boicote ao Facebook e demais redes sociais continua e cresce.
A cada novo dia mais e grandes empresas vão aderindo. A primeira pergunta que todos se fazem é o quanto esse boicote impacta nas receitas das redes sociais, muito especialmente, nas receitas de um Facebook? Bastante, mas não o suficiente para inviabilizá-lo.
A grosso modo, as grandes empresas, os grandes anunciantes, respondem por uma parcela correspondente a, exagerando, 30% de tudo o que um Facebook fatura. 70% ou mais vêm de milhões de pequenos anunciantes – pessoas jurídicas, prestadores de serviços, e até mesmo pessoas físicas – em todo o mundo.
Mas, o constrangimento social é muito forte, e vai, finalmente, obrigar que as big techs, os gigantes do ambiente digital, parem de escalar sem limites num mundo que não os previu e, portanto, não os regulamentou – escalabilidade sem limites – e comecem a assumir e arcar com suas responsabilidades. E é o que começa a acontecer agora.
E já que fazem um pit stop para a necessária e essencial revisão de suas práticas, as grandes empresas anunciantes começam a mergulhar na efetividade dos resultados dos caminhões de dinheiro que investem nas redes sociais. Ou seja, não será surpresa se, em no máximo 10 anos, aconteça com as redes sociais o mesmo processo de degeneração que começou a acontecer com as mais que prósperas Listas Telefônicas, dos anos 1960, 1970 e 1980… E que praticamente fecharam para sempre na maior parte das cidades brasileiras e em outras cidades do mundo. Ou as big techs assumem suas responsabilidades, se autorregulam de verdade, enquanto o estado não as enquadra, ou começam a ingressar em perigosa e irreversível contagem regressiva.
E do ponto de vista da factibilidade de se autorregularem, não apenas no papel, na prática, não têm desculpas. A mesma inteligência artificial, com a mesma qualidade que rastreia o comportamento dos bilhões de pessoas na rede, tem todas as condições e mais ainda de rastrear o que vem de seres humanos, e o que vem de robôs, por exemplo. Para as redes sociais isso é bico! É suficiente programar e treinar. Mas como isso não dá dinheiro, as big techs desviam o assunto, e continuam insistindo na tese absurda da impossibilidade. Esquecem-se da sabedoria popular, pau que bate em Chico bate em Francisco. Chegou a hora dessa gente bilionária mostrar seu valor e cumprir com suas obrigações.
Assim, jamais aprovarmos ou adotarmos uma legislação hipócrita e burra que se diz preocupada em evitar as fake news, e que as redes sociais, que as traficam, e têm todas as condições de, encarreguem-se dessa missão. De colocar ordem no galinheiro em que se transformaram.
Quem pariu Mateus que o embale. Quem pariu os robôs, que impeça que continuem destruindo reputações e trabalhem para o mal. Aprovar esse absurdo que hoje tramita sob emoção tóxica e deletéria no Congresso brasileiro, e em outras partes do mundo, é punir os inocentes pela irresponsabilidade das big techs.
Mais que possível, é fácil, possível e desejável dar um chega pra lá em meia dúzia de bilionários irresponsáveis. Jamais culpar e punir e limitar a tecnologia e suas ferramentas espetaculares.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)