Questão econômica pode ajudar a combater o assédio nas empresas

As denúncias de assédio moral e sexual têm ganhado espaço na mídia, e o tema também foi debatido durante o evento de aniversário dos 53 anos do PROPMARK. Os profissionais começaram a discussão sobre o assunto destacando o quanto um ambiente ruim pode causar prejuízo para as empresas. A CCO da FCB, Joanna Monteiro, pontuou a necessidade de as empresas cuidarem do ambiente de trabalho para ser um espaço melhor para todos, citando o exemplo norte-americano.

“O que aconteceu nos Estados Unidos foi algo retroativo e isso deixou as pessoas em pânico, mas não chegou assim ao Brasil. Aqui as pessoas estão tendo a oportunidade de mudar suas atitudes, entendendo o que aconteceu: ‘Olha, eu fiz uma cagada e tal, vou pagar por isso, vou ser demitido…’, mas não é o retroativo. Esses caras já estão no lucro porque podem dizer ‘ah, nessa época eu não sabia’. Antigamente as pessoas tinham vergonha de processar e isso acabou. Então, vai bater no bolso das agências, dos clientes e de quem quer que seja”, prevê Joanna. 

Aos poucos, o tempo em que a vítima era vista como culpada parece ter ficado no passado. Na indústria de cinema de Hollywood, por exemplo, profissionais acusados de assédio estão perdendo trabalhos. Aqui no Brasil, a realidade na indústria da comunicação também começa a ser escancarada. Um estudo realizado pelo Grupo de Planejamento em parceria com o Instituto Qualibest, no ano passado, apontou que 90% das mulheres e 76% dos homens dizem já ter sofrido assédio moral ou sexual no trabalho.

Marçal Neto/Divulgação

Poliana Sousa, da P&G, destaca a importância de programa que acolha assediados

 

“As empresas têm a obrigação de ter um processo claro para que, se o funcionário se sentir assediado de alguma maneira, tenha alguém de confiança que ela possa falar e também ter canais anônimos. Todas as denúncias são investigadas. Precisa ser levado a sério”, fala a diretora de comunicação e marketing da P&G, Poliana Sousa.

A diretora sênior de marketing da divisão de dispositivos móveis da Samsung Brasil, Loredana Sarcinella, lembrou que ainda existe o medo de denunciar o assédio. “Isso precisa mudar, mas é lento. Existem duas palavras básicas: respeito, que é fundamental nas relações, principalmente na empresa, em que a gente convive muito mais; e transparência, para mim é ‘tomou, levou’. Talvez eu não tenha sentido tanto na minha carreira pelo meu perfil. Acho que a gente precisa se colocar, sempre com doçura, mas impor limites”, afirma a executiva.

O presidente da J. Walter Thompson, Ricardo John, destaca que a cultura do lugar é importante para determinar o clima. “Que tipo de cultura você quer para o lugar que você tem a incumbência de gerir? Vi uma entrevista da Marisa Mayer, que era presidente do Yahoo! e foi a funcionária número 18 do Google, em que perguntaram a ela qual era a cultura do Google no início da empresa. Ela respondeu: ‘era muito simples. Eles gritavam com a gente até que a gente entendesse o que a gente tinha de fazer’. Então ela tentou não replicar. Cada agência precisa ser muito cuidadosa com o tipo de cultura que ela quer cultivar porque isso é o legado da agência”, fala.

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