Relações comerciais estão acima da política
“Se Brasil e Estados Unidos criaram um pequeno rasgo político após o diálogo entre seus presidentes, Dilma Roussef e Barack Obama, acerca das suspeitas de espionagem por parte do governo americano, o mesmo não pode se dizer no campo empresarial. A interação entre as corporações dos dois países devem seguir aquecidas, alheias às discordâncias diplomáticas”. É com esse pensamento que João Doria Jr, presidente do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), conduziu o 18º Meeting Internacional, este ano realizado em Miami – mais precisamente na aldeia de Bal Harbour, que pertence ao condado de Miami-Dade –, estado da Flórida, nos Estados Unidos, e que tratou da relação bilateral entre as duas nações.
Promovido pelo Lide e pelo Grupo Doria, o encontro teve como ponto alto o Seminário Internacional, que foi aberto com o painel “Relações econômicas, institucionais e de turismo Brasil/Estados Unidos”. “O Brasil tem uma relação intensa no comércio bilateral com os Estados Unidos – é a segunda maior do país, perdendo apenas para a China. E estamos, de forma objetiva, com o intuito de incrementar esse laço”, afirmou Doria, na abertura do painel, que voltou a citar as rusgas políticas. “Independentemente do que ocorreu, estamos aqui para representar o setor privado, cujo papel é o do desenvolvimento social e da geração de negócios e empregos”, disse.
Tema do painel, o executivo citou o crescimento do fluxo do turismo de brasileiros nos Estados Unidos nos últimos 15 anos, apontando o setor como uma importante plataforma de desenvolvimento econômico e social. “Especialmente na Flórida, onde os turistas do país lideram o número de visitantes no estado americano”. Em alguns setores, o de investimentos também, já que cerca de 70% dos imóveis de alto luxo – com preços superiores e US$ 1 milhão – vendidos em Miami são para brasileiros.
Doria ainda criticou intensamente a obrigatoriedade do visto de entrada para turistas do país nos Estados Unidos, e vice-versa. “A relação entre dois países passa pela diplomacia. O que não acontece quando ficamos em filas constrangedoras nos aeroportos americanos”, ressaltou. “Como se os brasileiros viessem aqui pedir emprego, e não fazer turismo. Hoje é capaz de ser mais fácil ocorrer o contrário”, completou.
Visão comercial
Governador da Flórida, Rick Scott explicou como sua visão comercial está ajudando a mudar o cenário de um dos principais estados americanos, principalmente no campo do turismo. Afinal, é em Orlando, a poucas horas de Miami, que se encontram os parques mais visitados do mundo, que pertencem ao complexo da Disney.
“Me candidatei a governador, há três anos, porque queria mudar os rumos da nossa economia, na época em uma queda significativa – com dívidas de US$ 5,2 bilhões e mais de três milhões de pessoas desempregadas. E tentei administrar o estado como se administra seu próprio negócio. Para começar, diminuindo os impostos e competindo internamente com os demais estados americanos”, disse Scott, revelando que o setor privado gerou cerca de 360 mil empregos em dois anos e meio. “Temos que saber como gastar nosso dinheiro. E para isso é preciso sentar com os comerciantes e os homens de negócios”, explicou.
O governador ressaltou que, entre esses aspectos, foi muito positiva a viagem que fez ao Brasil há pouco tempo, com uma comitiva formada por cerca de 200 comerciantes que se encontraram com autoridades do país – caso do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. “Deixei claro que todos que desejam fazer negócios na Flórida são bem vindos. Esperemos êxito de cada vez mais empresas brasileiras, como já temos aqui com Embraer, Odebrecht e tantas outras”, disse.
Para Scott, em uma declaração que nada lembra a vaidade de boa parte dos políticos brasileiros: “o governo não faz nada”. “O papel dele é incentivar as pessoas a fazer e gerar negócios e empregos”. O governador finalizou chamando a atenção ao apelo de Doria, em relação ao visto. “Acho que o fim da obrigatoriedade do visto é realmente significativa. Mais do que gerar bons negócios com os brasileiros, queremos gerar bons relacionamentos, porque eles resultam em bons negócios”.
Também presente no painel, Jean Rosenfield, prefeita de Bal Harbour, citou a importância dos brasileiros no desenvolvimento deste pequeno pedaço de Miami. “Vocês ajudaram a tornar nossa cidade especial. Vamos dar continuidade a essa parceria para realizar sonhos ainda maiores”, afirmou.
São Paulo
Também participou do primeiro painel do Seminário Internacional o secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, Rodrigo Garcia. O político, em sua explanação, focou em citar dados econômicos e sociais de São Paulo, comparativamente a outros estados do país. E lembrou que 36% dos US$ 59,1 bilhões movimentados com a relação bilateral entre Brasil e Estados Unidos (de onde US$ 32,4 bilhões são de produtos importados pelo país e, US$ 26,7 bilhões, exportados aos EUA) são provenientes do principal estado do país.
Falando de sua área, Garcia ressaltou que 13% do orçamento do estado é investido em pesquisa e inovação, o que representa 72% do total do país dos investimentos feitos no setor e que supera inclusive países inteiros como Itália, Espanha e Rússia. “O grande problema é que estamos no limite do orçamento. Não temos como colocar mais dinheiro nessa área, que é muito importante não só para São Paulo, como para o Brasil. A grande esperança é que a iniciativa privada participe mais e injete recursos”, completou.