“Retenção de Clientes”

Madia: “Clientes são conquistados. Reter, jamais” (Crédito Unsplash)

Socorro! É a última coisa – coisa mesmo – que qualquer empresa – qualquer mesmo – deveria considerar, tentar, fazer. Jamais, em hipótese alguma, pela desgraça de sua empresa, pelas chagas de Cristo, pela angústia dos inocentes, pela candura dos incautos, irresponsabilidade dos inscientes e estupidez dos néscios… Jamais, repito, tente reter quem quer que seja. Amigos, amores e, muito especialmente, clientes.

Reter clientes! Não sei se chamo a polícia ou saco o revólver… Conquiste clientes, sensibilize e respeite seus clientes, homenagens e reverências o tempo todo, muito especialmente pela qualidade dos serviços que presta e ele, cliente, reconhece, valoriza, sorrindo e feliz, sentindo-se respeitado e mesurado, agradece.

Perfilando-se sempre e de coração escancarado, como adepto de sua causa, da causa de sua empresa. Reter, jamais. Não se retém o que quer que seja. Mas, as pessoas não aprendem, e repetem esse impropério à exaustão. Pior que xingar a mãe. Matéria do Estadão do domingo, 19 de julho. Título, Retenção do Cliente é prioridade, aponta pesquisa.

Whattt!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!???

Se chegou a essa conclusão rasgue urgente e jogue fora a pesquisa. É uma bobagem. No corpo da matéria o verbo reter – violação da manifestação e movimento natural de todos os seres de todas as espécies, muito especialmente a humana –, pensei, será que vão construir jaulas para reter clientes?

Num determinado momento, a matéria diz: “Segundo panorama traçado pelo LinkedIn – socorro! – reunindo uma série de pesquisas sobre empresas B2B de variados portes em diversos países, 7 em cada 10 vendedores disseram que nesse cenário a retenção – isso mesmo, amigos, retenção – de clientes tornou-se prioritária…”. Toquem as sirenes, soltem os cães, disparem os alarmes…

Já começo a ver lojas, bares, restaurantes, shopping centers, estádios de futebol, teatros e cinemas, além de álcool em gel e máscaras, construindo pavilhões de celas para a devida retenção dos clientes… Mais adiante recorrerão a chicotes e pregos pontudos nas testas desses clientes retidos… Na mesma matéria, um outro absurdo. Recomendando que as redes sociais são o melhor caminho para a retenção. Diz: “68% listam as redes sociais como a técnica de abordagem com a maior taxa de conversão”.

Jamais, em hipótese alguma, se aborda ou abalroa seres humanos, muito especialmente todos aqueles que estamos tentando sensibilizar e motivá-los a aderirem a nossa causa, a causa de nossa empresa. Se alguma empresa tentar me abordar em qualquer um dos pontos de contato, redes sociais, rua, lojas, shopping, imediatamente levanto as mãos e entrego tudo.

Quem aborda é assaltante. Ou, a polícia… Jamais aborde ou tente reter clientes. Tudo o que vai conseguir é tornar-se uma empresa repulsiva, repugnante, alimentando a resistência que naturalmente todas as pessoas têm em relação a abordagens e tentativas de retenções.

As pessoas nem mesmo conseguirão olhar mais para sua marca. Mesmo a distância. Mesmo nos jornais, revistas, televisão, outdoor e todas as demais plataformas. E, se olharem, tremem e caem em prantos… Mas e se, assim mesmo, o objetivo de sua empresa é reter pessoas mediante técnicas de abordagens, parabéns.

Sua empresa acaba de converter-se num estabelecimento penal. Sua empresa agora é uma cadeia! Um dia perguntaram a Tony Hsieh (fala-se Shai), o empresário que vende qualquer produto que seja e entrega, sempre, felicidade, sobre “Reter Clientes…” e, Tony, respondeu: “Tudo o que procuro fazer é conquistar e preservar clientes em permanente estado de encantamento.

Paixão contagia. E se seus clientes apaixonarem-se, todos os demais virão naturalmente”. Quando Jeff Bezos comprou a Zappos de Tony Hsieh tudo o que queria era entregar sempre, em todos os seus negócios, independentemente do que as pessoas comprem, felicidade.