Retomada
1. A retomada dos negócios publicitários, prevista para este semestre conforme a opinião de várias lideranças ouvidas pelo propmark e reproduzidas em nossa última edição, acena para a melhora geral da economia brasileira no período.
Desta vez não poderá ser diferente: ela já estava prevista para ocorrer desde fins de 2012, mas a crise nos países do hemisfério norte resistiu e permaneceu no mesmo patamar, burlando as expectativas de mudanças.
Agora que os ventos começam a soprar mais amenos nos países atingidos em cheio pelo cassino da globalização, com muitos índices benéficos sendo aquecidos, sobra para o Brasil boa parte dessa recuperação.
Momento, então, de repetirmos a ladainha que nos fez acreditar em bonanças antes da hora: a contagem regressiva para a Copa da Fifa já iniciou e isso interessa de forma acentuada aos grandes anunciantes que operam em nosso mercado.
2. Grupelhos insensatos, seguindo as diretrizes dos seus líderes de que a mídia no Brasil precisa ser controlada, cercaram a sede da Rede Globo em S. Paulo na noite da greve geral que foi um fiasco, gritando palavras de ordem contra a emissora e pichando parte dos seus muros pelo lado externo, além de atingir com raios laser – aqueles mesmos proibidos em estádios de futebol – o estúdio onde Carlos Tramontina comandava o SPTV.
Não houve confrontos com os policiais que acompanhavam à distância o grupo de manifestantes desde a Avenida Paulista até a região da Berrini. Mas a simples demonstração de mais essa estupidez dá bem uma amostra do pensamento espúrio desses ativistas, que não conseguem entender o mal que causam à democracia com esse tipo de ataque à mídia (no caso, a mais poderosa do país), além da suprema burrice de acreditar (se é que acreditam) que um eventual controle da mídia (por quem?) fará do Brasil um país melhor.
Não compreendem os desprovidos de cérebro que estão somente fazendo o jogo de um punhado de ideólogos raivosos, em busca de uma transformação política que o país inteiro rejeita.
Não são essas as mudanças que o povo brasileiro deseja na condução dos seus interesses e necessidades, mas sim as mudanças de comportamento de uma classe política em sua grande maioria desmoralizada diante da nação.
Os reclamos básicos das manifestações populares de junho, com vistas à melhoria (mínima) da sua qualidade de vida e ironicamente consubstanciada nos dizeres dos cartazes “padrão Fifa”, que surgiram espontaneamente de norte a sul do país (para nós a mensagem do ano), dispensam a enganação do plebiscito (ou referendo), o controle da mídia, a absolvição dos condenados do mensalão, o apoio a ditaduras que se espalham pelo mundo, a empulhação da importação de médicos estrangeiros de Cuba (e não de países democráticos), o rombo nos cofres públicos, a exorbitância gasta nos estádios que servirão aos jogos da Copa do Mundo, o vai e vem dos jatinhos da FAB servindo aos senhores feudais, enfim, a toda essa infindável quantidade de malfeitos que, eficazmente combatidos pelas autoridades, representariam o início de um país verdadeiramente passado a limpo.
Simples assim, se o povo prosseguir aumentando o volume do seu nível de exigência e reprovando os atores, para sempre, desse teatro burlesco em que foi transformada a política nacional.
3. Do nosso colaborador Humberto Mendes, vice-presidente da Fenapro, em um período de restrições à liberdade de expressão comercial: “Em 2001, certo deputado resolveu abrir suas baterias contra a propaganda de brinquedos, doces, sorvetes e assemelhados. Na sua estapafúrdia justificativa, S. Exa. declarava abertamente que tinha um filho de 11 anos e que no dia que lhe negavam dar alguma coisa, fosse um brinquedo, um sorvete, o menino virava a casa pelo avesso, ameaçava arrebentar tudo e que a culpa era unicamente da propaganda, que envolvia com os seus tentáculos as nossas inocentes criancinhas”.
Naquela ocasião, o Propaganda & Marketing publicou um artigo nosso em que alertávamos o nobre deputado para o seguinte: “O que será que o menino está aprendendo na escola ou mesmo em casa? Será que está aprendendo a ser ou está aprendendo apenas e tão somente a ter?”
Lembrávamos também a S. Exa. que essas indústrias eram responsáveis pela geração de milhares de empregos, escola, saúde, segurança e vida para uma imensa população de brasileiros e que isso só era possível porque tudo o que era produzido, era consumido, e que a propaganda tinha uma grande responsabilidade em tudo isso, sem contar que na própria atividade formada por agências, veículos, fornecedores e todas as atividades afins, milhares de famílias tinham seu bem-estar assegurado.
Mas íamos um pouco mais longe ao lembrar à S. Exa. e outros deputados que, se eles achavam que o consumo de brinquedos, doces, sorvetes e outras guloseimas era tão nefasto à saúde e bem-estar de nossa tão desprotegida população, por que não criavam projetos de lei proibindo a sua fabricação?
Porque, se é legal fabricar, se é legal cobrar impostos, tem que ser legal anunciar.
Agora, 12 anos depois, esse mesmo projeto de 2001 volta a tramitar em Brasília em busca de aprovação. Também aquele filho de S. Exa., o Sr. deputado, que na época estava com 11 anos, hoje está com 23. Por isso acho que devemos torcer e rezar para que o menino tenha conseguido aprender a ser e não apenas a ter.
Este editorial foi publicado na edição impressa de Nº 2457 do jornal propmark, com data de capa desta segunda-feira, 15 de julho de 2013