Retorno das agências depende da evolução da pandemia da Covid-19
Aprovado pela Prefeitura de São Paulo na última semana, o Protocolo de Prevenção à Covid-19 em Agências de Publicidade vai balizar a retomada das atividades presenciais pelas empresas criativas. O documento foi organizado pela Abap (Associação Brasileira das Agências de Publicidade), em parceria com o Cenp (Conselho Executivo das Normas Padrão) e o Sinapro-SP (Sindicato das Agências de Propaganda do Estado de São Paulo). Apesar da assinatura do documento, o setor segue cauteloso.
O documento é a referência oficial sobre as medidas de proteção que devem ser implantadas pelas agências na capital paulista. O material possui recomendações gerais, além de aconselhamentos específicos para temas como almoço, meios de transporte e monitoramento, entre outros (acesse o site aqui).
Mario D’Andrea, presidente nacional da Abap, relata que, ao longo dos últimos meses, a associação ouviu especialistas de diversos segmentos e consultou protocolos de agências internacionais e nacionais com um objetivo: consolidar uma orientação geral ao mercado, respeitando as recomendações das autoridades de saúde que buscasse garantir um ambiente seguro para os profissionais da comunicação. “Destacamos que a decisão de retomar as atividades presenciais é de escolha individual de cada empresa e gestores”, relembra.
Até o fechamento dessa reportagem, o número de casos de Covid-19 no Brasil havia ultrapassado 1,7 milhão de infectados. Os óbitos beiravam os 70 mil. Por esses e outros motivos, as agências seguem cautelosas em relação ao retorno.
Para Kevin Zung, COO da WMcCann, a prioridade sempre será a saúde e a segurança de todos os colaboradores. “Estabelecemos, por enquanto, a data de 1º de setembro de 2020 como meta para o início do nosso retorno gradual. Essa data será confirmada nos próximos meses, dependendo da evolução da pandemia e de alinhamentos globais da empresa, e o retorno será feito em ondas. Para a organização dessas ondas, aplicamos uma pesquisa para identificação de colaboradores no grupo de risco ou com outras limitações pessoais, e junto aos gestores avaliaremos as prioridades. Em paralelo, estamos organizando as adaptações necessárias na agência para manter o ambiente seguro e higienizado, com limitação de espaços nas salas de reunião, comunicação visual, itens de higiene e segurança, protocolos de comportamento, etc.”, explica o executivo.
A Y&R também segue priorizando a saúde em primeiro lugar. David Laloum, presidente da agência, afirma que todo e qualquer plano de retorno ao escritório se dará a partir desse ponto de vista, onde, além de ter a certeza de que os colaboradores estarão seguros dentro do escritório, será preciso certificar que eles também estarão seguros em seu trajeto até lá, seja no transporte público ou privado, e suas famílias também estarão em segurança com esse deslocamento.
“Através do nosso time de operações criamos uma estrutura que está atendendo de forma remota perfeitamente as demandas de trabalho que temos, também trabalhamos para entregar todo suporte emocional e social que os colaboradores necessitem e estamos em frequente contato com nossos times para sanar qualquer dúvida referente à operação”, revela.
Entretanto, o escritório da empresa está sendo preparado pelo administrativo de acordo com todas as normas da holding WPP como: adaptação segura de todos os ambientes com distanciamento e barreiras de acrílico, equipamentos de segurança de uso pessoal e coletivo, free desk e uso de lockers para liberação de mesas, novas rotinas de limpeza, revisão geral do ar-condicionado, medição diária de temperatura, rodízio e divisão em grupos com horários escalonados, tudo sendo conduzido por um comitê de decisão e acompanhamento.
Fernanda Coelho, CTO do Publicis Groupe, também falou ao PROPMARK sobre a política em relação ao retorno. Aliás, ela é a mesma para todas as agências do grupo no Brasil. “Não abriremos as agências do grupo em julho”, diz. “Os funcionários que não se sentirem seguros e confortáveis para voltar a trabalhar nos escritórios neste ano continuarão atuando no formato de teletrabalho. Em paralelo, estamos estudando a possibilidade de abertura dos escritórios para que as pessoas que têm problemas específicos em trabalhar de casa possam ter uma opção, caso seja de seu interesse. Isso será feito seguindo as mais rigorosas orientações de saúde, as orientações internacionais do Publicis Groupe e os protocolos definidos pelas autoridades locais”, comenta.
As agências estão alinhadas com os trabalhadores do setor. Um bom termômetro do sentimento público surgiu no Instagram do PROPMARK. Em votação sobre o retorno das agências, 80% afirmaram que ainda não é o momento para isso. Porém, muitos escolheram uma terceira via da enquete, a que buscava um meio-termo. “O retorno deve ser em etapas. Talvez por áreas”, disse um dos leitores do jornal.
Patricia Fuzzo, chief people officer da Ogilvy Latam, afirma que a agência segue acompanhando diariamente os anúncios do governo e do mercado sobre a retomada das atividades presenciais no escritório. “Por enquanto, não temos data para voltar, mas quando isso ocorrer vamos garantir que todos os protocolos necessários sejam seguidos – tanto as determinações internacionais da WPP quanto as das autoridades e do mercado local”, revela.
A executiva reitera que, para a Ogilvy, o mais importante é respeitar o desejo das pessoas, sem pressioná-las a voltar para o modelo presencial antes que se sintam seguras. A CPO finaliza dizendo que a empresa não tem urgência de voltar ao escritório. “Além de preservar a saúde e o desejo das pessoas, a nossa adaptação rápida ao trabalho remoto, com todo o suporte do RH e TI, é um dos fatores que trazem a segurança de permanecer de forma remota o tempo que for preciso sem que isso prejudique as entregas e as pessoas”, explica.
“Ainda não é seguro retornar”, afirma Carol Boccia, VP de operações da Africa. “Mesmo com o retorno de muitas atividades e total cumprimento de todos os protocolos de segurança”, reitera. “Nossa prioridade nº 1 é com a segurança e a liberdade de cada um, por isso, nosso esquema de home office não tem prazo para acabar. Muito pelo contrário, ele se integrará à nossa dinâmica de trabalho, então contratamos uma consultoria especializada em trabalho remoto, o Instituto Trabalho Portátil, que está readequando nossas políticas e condutas, levando em consideração este novo cenário”, finaliza Carol.