Duas vezes eleito produtor do ano no prêmio Destaques Profissionais da Associação Brasileira de Propaganda (ABP) e ex-diretor da APRO e do Sindicato Interestadual da Indústria do Audiovisual, ele é um dos maiores conhecedores das características e peculiaridades do mercado e principalmente de pessoas. Camaleônico, foi se adaptando às muitas transformações da indústria, sem nunca deixar de lado a propaganda, com a qual trabalha há 32 anos. Ele se define hoje como um produtor 360 graus, foco que procurou dar ao seu novo negócio, a Why Not?, fruto da união de três empresas  – Accioly Company, Pixel e Webwood. Sua trajetória é repleta de boas histórias e encontros, alguns dos quais relato aqui.

 

Quando era moleque, Accioly sonhava em ser ator de TV e cinema e de fato começou aos 14 anos na agência da modelo Marcia Casares, no Rio de Janeiro. Fez filmes para Coca-Cola, Banco Banorte – foi o garoto Banorte -, calças Cukier, participou de longas, e em paralelo cursou a faculdade de comunicação e publicidade na Universidade Estácio de Sá.

 

Atuou em novelas da TV Globo como “Espelho Meu”, fez ponta nos filmes “Menino do Rio” e “Nos embalos de Ipanema” e no meio das participações em longas e comerciais conheceu o diretor Sargentelli, que acabou acompanhando em alguns trabalhos, e entrou para a área de produção. Como aprendiz e assistente, passou
por algumas produtoras – como Momento Filmes, Ronaldo Richers, Globotec (onde trabalhou com Paulo José) e Art Rio.

 

“Iniciei minha carreira com a ajuda do querido gentleman Cyll Farney, para ser o faz-tudo na Arte Rio, do fantástico Carlos Manga. Tornei-me freelancer, trabalhando em várias produtoras”, conta Accioly.

 

Como diretor de produção, passou a trabalhar em comerciais nacionais e internacionais, com diretores de cena renomados mundialmente. Ao conhecer Isabelle Tanugi, dona da produtora Zohar, uma nova oportunidade surgiu: ela o convidou para vender a Zohar fora do Brasil, nos mercados de Lisboa, Madri, Barcelona e Milão. Com o repertório da produtora em mãos, lá foi ele.

 

“Isabelle foi a pessoa que realmente abriu o mundo para mim. Sou muito grato, ela mora no meu coração”, afirma.

 

Foram cinco anos viajando para o exterior e trazendo ao Brasil principalmente produções da Itália e trabalhando com nomes como Bob Girargi, Hugh Johnson, Jean Paul Gode. Este último dirigiu a superprodução “Egoiste”, para Chanel, que contou com a produção executiva de Isabelle e Guy Blanc e na qual Aciolly também trabalhou, segundo ele uma das produções mais complicadas da sua vida.

 

Algumas histórias divertidas pontuam o período Zohar, como um episódio que viveu durante a produção do documentário sobre o projeto de proteção aos índios, do cantor Sting, quando conheceu, por exemplo, Raoni e Pena Branca (americano). Certo dia, em Londres, Accioly estava na porta do Palácio de Buckinghan, onde ocorria o encontro entre Sting e o casal Charles e princesa Diana, e acabou convocado para comprar filme fotográfico. Cumpriu a missão no carro do príncipe, saindo pela rua lateral do Palácio, especialmente interditada ao trânsito.

 

“Saí no carro azul com bandeirinhas do príncipe na contramão, paramos em frente a uma lojinha de souvenirs, comprei o filme e voltei lá para entregá-lo na sala onde estavam Charles, Diana, Sting e o produtor e fotógrafo belga Jean Piero”, conta.

 

Depois de cinco anos na Zohar, Accioly aceitou o convite de Pedro Buarque, sócio da charmosa e mais nova produtora do mercado, a Conspiração, para ser atendimento. Era, segundo relata, “uma galera nova que fazia tudo diferente e com qualidade”. Imbuído da nova atribuição, Accioly visitou Luiz Vieira, então diretor de criação da Ogilvy, “o cara dos cigarros Free” e do incrível Free Jazz Festival.

 

Na época, Vieira fazia seus filmes com o diretor Walter Salles que, naquele momento, não estava disponível para um projeto. Accioly aproveitou a janela de oportunidade e ofereceu o trabalho da dupla Andrucha Waddington e José Henrique Fonseca, este último sócio da Conspiração e ambos ex-assistentes de Waltinho. “Boto eles aqui em meia hora e tenho certeza de que faremos o melhor de todos os filmes. Podemos filmar onde você quiser”, disse Accioly.

 

Dito e feito: em meia hora Andrucha, Fonseca e Pedro Buarque estavam na agência e pouco tempo depois filmando na Guatemala, no alto do vulcão de Pacaya, e também em Honduras.

 

“Foi um sucesso e passamos a fazer vários filmes para o Free Jazz Festival”, relata o produtor, que ajudou a Conspira, como era conhecida, a “explodir” no mercado publicitário.

 

Quatro anos e meio depois, Accioly virou sócio da Yes, de Chico Abreia e Leonardo Servolo. Levou para a produtora o diretor Rudi Lagemann (ex-assistente de João Salles na Vídeo Filmes) e ajudou Caio Abreia, hoje um diretor consagrado, a ingressar na carreira. Em 1999, foi chamado por Paulo Schmidt para ser sócio na Academia de Filmes.

 

“Formamos o grupo INK em 2006 e abrimos a Colmeia, a primeira produtora digital do mercado, e logo em seguida a Margarida Filmes, que teve grande sucesso, pois tinha um time de diretores espetacular”, conta Accioly, referindo-se a Pedro Becker, Paulo Vainer, Cristiano Metri, Ricardo de Carvalho (Gordo), Alex Miranda, Marcos Jorge e Tadeu Jungle. A época Academia/Margarida foi abundante em prêmios, como Festival da ABP, Colunistas, Clio, Festival de Londres e Cannes Lions, entre outros.

 

“A Academia de Filmes era a produtora que mais investia em jovens talentos, por meio do projeto Young Lions.  Durante 12 anos, enviamos muitos criativos para Cannes e, como tínhamos filiais em vários estados (Rio/SP/CE/POA/BSB) eram sempre três por ano”, conta.

 

Desafio, estresse e karatê

Accioly afirma que o que mais gosta da profissão de produtor de audiovisual é o desafio e, no final, o gostinho de ver o trabalho pronto e dizer:  “Fui eu que fiz.” Lembrando, claro, que ninguém faz nada sozinho.

“Eu não reclamo dos dias sem dormir, do estresse,
da pouca grana para produzir. Agora uma coisa é certa, brigo sempre para fazer o meu melhor e com qualidade”, afirma.

 

E por falar em estresse, em 2003 ele viveu um momento difícil, fruto do ritmo alucinado e da pressão constantes da rotina profissional. Teve depressão e “alopécia areata”, doença que provocou a queda parcial dos cabelos e que lhe deram o visual careca que mantém até hoje, agora com um certo orgulho. “Hoje curto muito ser careca. Raspo a careca todos os dias e dou até polimento”, brinca.

Ainda inquieto, mas menos estressado, seu hobby é praticar karatê, arte marcial que descobriu aos 18 anos e nunca abandonou, embora confesse que no momento só consegue praticar uma vez por semana. No ano passado, ele produziu a vinda ao Rio de Janeiro do lendário Mikio Yahara Sensei para um seminário que reuniu 300 lutadores e amantes do esporte.

 

“Este ano irei ao Japão para o Campeonato Mundial, levando um grupo de 20 atletas da nossa academia, a Kyokai. É um grande sonho que espero realizar”, diz.

 

Outra paixão é o Botafogo, que defende com unhas e dentes a ponto de chegar a ter, numa certa época, um ônibus que saía do Bar Lagoa, na zona sul do Rio de Janeiro, para levar um grupo de torcedores para os jogos do seu time no Maracanã. Festeiro, gosta de ter amigos por perto e promover encontros entre profissionais de produção e publicitários, alguns memoráveis, como uma festa “boca livre” no Museu de Arte Moderna carioca para 700 pessoas.

 

Cannes, prêmios e WhyNot?

O Cannes Lions é um capítulo importante na vida do produtor, que frequenta assiduamente o festival desde 1996. A partir de 2004, passou a fazer coberturas fotográficas para alguns veículos do trade (lembrando que ele se formou em comunicação) e há três anos faz parte do time de cobertura do evento com a equipe do programa Reclame, ao lado do publicitário Fábio Seidl.

 

“Já fui expulso do Palais por apagar a matéria de uma jornalista libanesa, fui embargado, preso, detido pela polícia quando Bill Clinton foi dar uma palestra no Festival e eu estava dentro do banheiro do Palais des Festivals. Dei camisa do Botafogo para o Dana White (UFC) e para o presidente do Festival, fui expulso da coletiva com a Kim Kardashian, fui empurrado por Shaquille O’Neal numa tentativa de tirar uma selfie com ele e acabei jogando no chão o Conan O’Brien”, diverte-se.

 

Em 2013, ele saiu da sociedade Academia/Margarida, e virou sócio do “mestre” Paulo Dantas na A+Movieart, onde ficou até 2017, quando acabou aceitando outro convite, do diretor/produtor Alex Miranda, para ser associado na Trator. 

 

“Foi quando tive a ideia de abrir uma coisa nova em que eu pudesse trabalhar com 360º de produção de vídeos para varejo, corporativo, animação e live action”, conta. Assim nasceu a WhyNot?, seu novo projeto criado no ano passado, fruto da criação de três empresas diferentes – Accioly Company (propaganda), Pixel (corporativos, varejo, animação) e Webwood (conteúdo digital) – e que trabalha com qualquer tipo de produção, do live action ao RV, da animação ao conteúdo web, com parceiros para cada tipo de produção. 

 

“Eu sempre fui um profissional inquieto, sempre em busca de coisas novas, ainda mais nestes últimos anos. Eu via o mercado mergulhando em uma onda de negativismo e insegurança com relação ao futuro do nosso negócio. Fechei os ouvidos para o negativo e todo dia me perguntava: qual é a oportunidade que essa crise está trazendo e que não consigo ver?”, conta.

 

Enxergando mais oportunidades do que catástrofes, Accioly decidiu não ser o cara que seguiu vendendo carroças após o surgimento do automóvel. “Encontrei no festival do CCSP, no ano passado, um velho amigo de mercado, o José Luiz Vaz, que também buscava algo novo, e juntos visualizamos um novo caminho de negócios. Criamos a WhyNot? e, junto, a Webwood, cada uma com foco em um novo nicho e oportunidade de negócio”, relata.

Trata-se, segundo ele, de uma profutora 360 graus de verdade, com uma nova visão de audiovisual, com profissionais e parceiros experts em diferentes tipos de produção. 

 

“A Webwood se baseia numa ideia simples, mas poderosa e inovadora, que tem a ver com a baixa performance que as marcas vinham tendo nas redes sociais com seus consumidores. Nas redes sociais, os consumidores não querem ser vistos como consumidores, eles querem diversão, educação, informação e relacionamento. Nossa tese é que marcas são anunciantes nos veículos tradicionais e, nas redes sociais têm de agir e se transformar em influenciadores digitais como o Whindersson Nunes ou a Kéfera”, afirma.

 

A empresa já está trabalhando com quatro agências em São Paulo como uma espécie de “plugin de redes sociais” para elas e seus clientes. “Sabemos que não temos todas as respostas, mas acreditamos que estamos na onda certa”, garante. 

 

Accioly fala que a linguagem audiovisual jamais desaparecerá, e a propaganda seguirá as tendências e hábitos das pessoas. “Se o consumidor estiver vendo filmes no cinema ou em outro device, com uma nova tecnologia, a propaganda vai querer se equiparar para acompanhar seu gosto. Pode mudar a linguagem, mas o uso do audiovisual vai crescer. E são as produtoras que melhor se adaptarem a essa nova mudança que vão sobreviver. Isso implica em uma mudança de mindset geral”, observa.

 

O futuro é desafiador e ao mesmo tempo atraente, empolgante. “Quero ainda viver muito para poder ver o que vem por ai. Está cada dia mais empolgante e quero fazer parte de tudo issoido a desafios