Quando lancei meu segundo livro, e isso deve ter sido há uns bons 15 anos, ele apareceu na minha mesa. Tínhamos conversado brevemente no dia da minha contratação pela Ogilvy, mas me lembrava bem de sua fisionomia: óculos anos 1960, cabelos grisalhos puxados no gel, calça cáqui, camisa social de manga curta com camiseta por baixo e tênis de corrida. Lembrava o presidente Lyndon B. Johnson, um pouco mais rechonchudo.

– Não sei se se lembra de mim, sou o Josezinho, fotógrafo da agência – falou com seu jeito polido e sempre sorridente.

Cumprimentei-o. Ele prosseguiu com o seu indefectível sotaque de lituano da Vila Zelina:

– Me disseram que você vai lançar um livro na Livraria Cultura. Se quiser posso fazer uma reportagem…

É claro que concordei na hora. Outro dia mesmo estava revendo as tais fotos. Eu lá, uns oito quilos mais magro, recebendo à mesa de autógrafos publicitários, à época quase juniores, que hoje são VP’s e até CEO’s de agências importantes.

Acabamos ficando mais do que colegas de trabalho pelo amor à fotografia. De vez em quando conversávamos pelos corredores sobre as vantagens do filme em relação ao digital: “a prata que tem na película nunca vai ser substituída por esses pixels”- concordávamos com assertividade.

Antes de eu sair de férias, agora em julho, ele me parou em frente à cantina e quis saber:

– Você tem um terno escuro, um chapéu e um guarda-chuva? 

Disse-lhe que sim, mesmo sem entender o porquê daquela estranha pergunta assim, à queima-roupa, no meio do expediente.

– Quero fazer uma foto sua no estúdio. Como se fosse um inglês.

 

Fui para o meu recesso e me esqueci da requisição do senhor José Vaitekunas.  Ao voltar à labuta encontrei o e-mail no meu Outlook. Nele, seu Josezinho afirmava que, depois de 1/4 de século, estava deixando a empresa para seguir outros caminhos fotográficos.

Que bom, seu Josezinho, desejo-lhe boa sorte nas novas empreitas. Mas vou cobrar a minha foto posando de britânico, viu? 

Até para entender o que um piauiense tem a ver com um súdito da rainha Elisabeth II.