Nos Estados Unidos só se fala de duas coisas: Pokemón Go e Donald Trump. Os dois não saem das redes sociais e dos noticiários pela mesma razão: as pessoas se dividem entre amor e ódio por eles. Bom, provavelmente mais gente ama o novo bilionário jogo da Nintendo do que o velho bilionário candidato à presidência da república. E esse é exatamente o problema.

Trump, assim como os monstros do jogo para celular, vive numa realidade aumentada, artificial e seus seguidores não sabem bem para onde estão indo, nem as surpresas que vão encontrar pela frente, mas são fanáticos.  Passei dias tentando entender porque as pessoas dão tanta atenção a esse sujeito. E essa semana, finalmente, entendi.

Como você deve se lembrar, Melania, a mulher de Trump, fez um discurso na convenção do partido Republicano que passaria batido se não fosse por um detalhe: o texto foi uma chupada descarada de um discurso antigo de Michelle Obama, mulher do presidente Barack na convenção do partido Democrata.

Nunca vi ninguém comentar discurso de cônjuge de candidato. Mas essa foi notícia no mundo inteiro. E quase ninguém, até semana passada, sabia nem o nome dessa senhora, nem a cara dela.  Vamos lá. É importante que ela tenha plagiado um discurso? Para a campanha ou para a política mundial, não. É só um motivo para piada, posts no Facebook, virar trend topic no twitter e virar manchete em todos os jornais.

Quando questionado sobre o episódio, Trump disse que não se importava, que não ia demitir a redatora (sua funcionária e a ghost writer dos seus livros) que copiou o discurso e disse que “publicidade é sempre bom”.

Alguma dúvida que quem copiou o texto sabia a fonte da cópia? Pois é. Donald Trump, ou pelo menos quem o assessora, sabe o que está fazendo.

Nada mais me tira da cabeça que suas trapalhadas são calculadas. É muita coincidência toda semana ter um acontecimento bizarro. Uma hora ele confunde o nome do principal aliado no Twitter, na outra inventa de tirar uma foto com uma águia que avança no implante de cabelo, num dia ele enfrenta no braço um sujeito que avança contra ele num comício (o agressor nunca foi revelado), no outro ele xinga uma minoria e faz caretas que viram memes e gifs.

É a estratégia exatamente oposta do que fez a multipremiada equipe de marketing de Barack Obama. Se Obama ganhou as redes sociais com um discurso de gente como a gente que posta até pescaria com a família, por outro lado Trump quer views sem se importar com a qualidade do conteúdo. Falem mal, mas coloquem a foto e o nome dele, compartilhem, que tá tudo bem.  E não tenha dúvida que tem um analista de redes sociais mostrando que isso se espalha numa velocidade e proporção nunca antes vista.

Seja como for, ele vem conseguindo o que esse texto metalinguisticamente fez até aqui: fazer com que Hillary Clinton não seja citada, nem lembrada.

Tenta procurar aí o que a Hillary fez ou falou até agora que apareceu na sua timeline? Pois é.

É mais fácil achar o Pikachu. Ou ela vira o jogo, já, ou é game over e vitória da Equipe Trump.