Risco de pandemia assusta mercados

Em meio à crise econômica mundial, o risco iminente de uma pandemia de gripe suína colocou os mercados mundiais em estado de alerta. A doença que parou a economia mexicana, cancelando 70% da produção de filmes no país, foi aos poucos espalhando o pânico pelo mundo. A Inglaterra colocou no ar uma grande campanha criada pela DDB londrina para alertar a população. Nos Estados Unidos, até um membro da equipe do presidente Barack Obama foi atingido. Mas apesar dos efeitos já sentidos, ainda não é possível determinar o quanto ela realmente afetará o mercado.

Sergio Zepeda, vp executivo da Associação Mexicana de Agências de Publicidade, conta que a doença ainda não fez os investimentos publicitários mexicanos declinarem, mas que a grande maioria das produções foi cancelada, exemplo da AT&T que suspendeu as filmagens de um comercial criado pela Dieste. “Mas isto não quer dizer que não serão realizadas, apenas que foram adiadas até que o período crítico passe”. Ele acrescenta que os anunciantes estão esperando para determinar com maior precisão os efeitos da crise e os passos que tomarão se a situação piorar. “É cedo para determinar se ela fará com que os investimentos publicitários caiam”, avalia.

O estado de alerta é geral. Todas as empresas e agências de publicidade da Cidade do México, como Leo Burnett, Ogilvy, DDB e BBDO, entre outras, trabalham em regime de emergência, com funcionários trabalhando em suas casas, pelo menos até o próximo dia 6.
Julio Castellanos, presidente da Leo Burnett do México, contou que a situação piorou quando o alerta de risco subiu para 5 na última semana, pouco depois de o governo determinar medidas drásticas, como além da suspensão das aulas, o fechamento de restaurantes, bares, cinemas, teatro e shoppings, sistematicamente. “Nós armamos um esquema, desde as duas últimas semanas, para que os funcionários trabalhassem em casa, sugerindo que minimizassem a exposição em transporte público e evitassem reuniões desnecessárias e se juntar a um grupo grande de pessoas. Mas agora ninguém está indo para a agência, só em último caso”, completou o executivo.

Castellanos contou que todas as reuniões diárias, entre os funcionários da agência e clientes, estão sendo realizadas virtualmente, via conference call ou skype. “Dividimos as agências em grupos de trabalho, basicamente por conta. Nosso board está tendo reunião virtual diária, às 9h, para atualizar e decidir se é preciso ajustar alguma coisa”, comentou.

Para o publicitário, o prejuízo claro está na economia, principalmente no comércio. Ele falou que os anunciantes da Leo Burnett como Kellog’s, P&G, Philip Morris, por enquanto, não cancelaram nenhuma campanha ou ação programada.

Segundo ele, as agências de viagens e hotéis no país estão, inclusive, realizando ofertas agressivas para tentar reverter a situação. “O investimento publicitário continua, com uma mensagem diferente, através de ofertas especiais, maior flexibilidade nos pacotes e facilidades”, ressaltou ele, que chegou ao Brasil na quinta-feira (30). “Coincidentemente vamos ter uma série de workshops em São Paulo, mas só volto para lá quando a situação se normalizar. Porque de qualquer maneira iria trabalhar de casa e falar com clientes virtualmente ou por telefone”, afirmou. 

Veículos

Alex Medina, coordenador do jornal e do site El Universal, um dos principais do México, líder em classificados, e o terceiro maior site mundial da língua espanhola, conta que os anunciantes continuam suas atividades, mas que segmentos que normalmente não anunciam estão ocupando as páginas do jornal e fazendo inserções nos sites. Entre eles, estão laboratórios, clínicas de saúde e farmácias. Ele informa que, mesmo assim, as perdas são maiores que os lucros. A empresa trabalha em regime de emergência, como solicitado pelo presidente mexicano Felipe Calderón, com funcionárias grávidas e mães em casa.

Mas alguns movimentos demonstram mudanças de planos dos anunciantes. A Procter & Gamble também cancelou uma conferência na Cidade do México esta semana, em função da gripe que assola a sociedade mexicana. O Grupo Femsa, maior conglomerado de bebidas no país e também distribuidor e fabricante da Coca-Cola na América Latina, informou que viagens de seus executivos entre México e Brasil foram postergadas. Internamente, a companhia tem distribuído comunicados aos seus colaboradores com o objetivo de alertar e, principalmente, esclarecer sobre o vírus, os sintomas e as formas de transmissão.

Gripe no mundo

Cuba e Argentina suspenderam o pouso de vôos vindos do México. Por outro lado, em Luxemburgo, líderes da União Europeia reagiram à proposta francesa de restringir a chegada de vôos vindos do país. Muitos questionaram a eficiência de uma medida como essa. Já a Air Europa cortou os vôos para o México em 80%. O motivo: todos os casos europeus confirmados são diretamente ligados ao México, exceto um na Espanha. Nos Estados Unidos, país com mais de uma centena de casos confirmados, apesar de leves, o vice-presidente Joe Biden causou mal-estar na indústria do turismo ao falar que aconselharia a sua família a evitar viagens de avião.

Depois, representantes de Biden disseram que na verdade ele queria dizer para evitar viagens ao México. A África do Sul já aumentou o estoque de remédios, medida seguida por vários países. E a Bulgária solicitou que os Estados Unidos enviem material para que o país faça testes em possíveis doentes que serão colocados em quarentena.

Anunciantes destacam higiene

Outro reflexo da gripe suína é que os anunciantes que fabricam produtos de limpeza estão investindo mais em campanhas que destacam a necessidade de aumentar a higiene para prevenir o contágio da gripe. Há também marcas que estão mudando os websites de seus produtos de limpeza para trazer mais informações sobre higiene para o público e anunciantes que aumentaram a produção de desinfetantes para atender a demanda crescente. 

A marca de sabão Dial, por exemplo, fabricada pela Henkel, alterou ações de mídia impressa, online e material de ponto-de-venda para destacar a importância de lavar as mãos para ajudar na prevenção da doença. Em uma das peças que divulga o sabão, o texto, originalmente em inglês, diz: “A melhor proteção para esta estação da gripe e do resfriado”.

A Johnson&Johnson também está incrementando o website de seus produtos de limpeza e dar dicas de higiene.

Já a Reckitt Benckiser aumentou a produção da linha de desinfetantes em spray Lysol para atender a crescente demanda. Além disso, está investindo em ações para reforçar a importância da higiene na proteção contra os germes. As ações vão ao encontro da recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde). A ideia é fazer com que a população mundial lave as mãos com maior frequência para tentar evitar o contágio. 

Americanos temem contrair a doença

Uma pesquisa desenvolvida pelo Instituto Gallup nos Estados Unidos já mostrou que 22% dos americanos temem contrair a doença, mas que a maioria da população ainda não mudou seus hábitos de consumo em função do risco de pandemia (veja  informações nos quadros).

Nos EUA, apenas 3% admitem que alteraram os seus hábitos e reduziram as idas a restaurantes e shoppings temendo aglomerações. Este mesmo percentual informou que fez compras de produtos online, que normalmente teria feito nas lojas e deixou de pegar transportes coletivos com medo da doença.

A pesquisa apontou também que 1% dos entrevistados optou por trabalhar em casa, não levou crianças para a escola e  cancelou ou adiou viagens de avião. A maioria das pessoas que tem medo de contrair a doença tem entre 18 e 34 anos.

Aqueles que têm filhos menores de 18 anos também estão mais preocupados que os que não têm crianças em casa.

Apesar do número de hispânicos pesquisado ser pequeno, o estudo apontou que eles têm mais medo da gripe suína do que os americanos. A pesquisa do Gallup foi feita por telefone com 1.021 adultos no dia 28 de abril. A margem de erro é de aproximadamente 3%. 

Produtores pedem mudança de nome

O nome “gripe suína” vem sendo questionado por inúmeras autoridades. Como a doença não pode ser transmitida através dos produtos derivados dos porcos (mas sim através do ar), os fabricantes destes produtos estão sofrendo queda nas vendas em alguns locais em função do pânico e da falta de informação.

A Rússia e a China, por exemplo, baniram os produtos suínos provenientes do México e de alguns estados americanos de seus mercados. Apesar das reclamações dos produtores, a OMS ainda não alterou a denominação da doença que, segundo os estudos, é transmitida de pessoa para pessoa.

Preocupado com o prejuízo para os produtores de carne e derivados de porco, o ministro da Agricultura Reinhold Stephanes defendeu a mudança do nome da doença para “gripe mexicana” e informou que enviará um documento aos principais compradores mundiais dos produtos brasileiros atestando a sua qualidade. Ele inclusive convidará o presidente Lula para comer um porco assado na próxima semana, para que ele seja uma espécie de garoto-propaganda, atestando que não há risco de contaminação com o consumo de carne de porco e derivados.

Autoridades americanas também querem evitar o boicote por parte da população aos produtos suínos. Em uma coletiva de imprensa, o secretário americano da Agricultura Tom Vilsack disse que não há qualquer ligação entre o consumo de produtos derivados do porco e a contaminação pela doença.  

por Teresa Levin e Kelly Dores