Rodrigo Santanna, CEO do Meca: 'A ideia era a gente conseguir fazer coisas que a gente acreditava'
Festival, que reuniu as marcas Heineken, Johnnie Walker, NotCo e Prio, terminou neste domingo (6), em Brumadinho (MG)
Um palco cravado no meio de quatro árvores de folhas avermelhadas, que, à luz do sol já se pondo, dão um quê a mais ao fim de tarde deste domingo (6), último dos três dias do Meca (Inhotim) 2023, realizado no Museu do Inhotim, em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte (MG).
Entretanto, a descrição, por mais fiel que tente ser, jamais conseguirá chegar perto do sentir. Verbo esse que muito bem define o que é o Meca (Inhotim), um festival que, ao conectar arte, natureza e música, torna qualquer tentativa de descrição intransponível.
Ao saber das impressões desse repórter – no final da entrevista –, Rodrigo Santanna, fundador e CEO do Meca, respira aliviado e, ao mesmo, agradecido, como se a fala firmasse o caminho pelo qual a empresa (e as ideias, claro) estão caminhando.
E pensar que o Meca nasceu dentro de uma crise existencial, na qual Santanna viveu. Como diz, foi um período de questionamentos sobre tudo o que vivia, seja profissionalmente ou pessoalmente. "A ideia era a gente conseguir fazer coisas que a gente acreditava, do jeito que a gente acreditava, e aprender com isso."
E deu certo, tanto que o Meca vai muito mais além de ser apenas um festival de música – hoje, é uma plataforma multicultural, que zela (e muito) pelas experiências. "A gente tem muitos projetos, sonha muito grande, mas ela é baseada em três pilares atualmente: conteúdo, experiência e serviços", disse Santanna.
No final da entrevista – que você pode acompanhar na íntegra, abaixo –, ao ser perguntado sobre o lugar onde o Meca queria chegar, Rodrigo responde: na lua.
O início
O Meca nasceu de uma vontade de testar o que era possível fazer, nasceu também de uma crise existencial, de questionar tudo o que eu vinha fazendo na minha vida profissional, nas empresas que eu tinha criado, nas relações que eu tinha com outras empresas e clientes. E a ideia era a gente conseguir fazer coisas que a gente acreditava, do jeito que a gente acreditava, e aprender com isso. Óbvio que nunca vai ser perfeito, mas eu acho que tinham questionamentos, que eu fazia na época, que eu não conseguia responder. Questionamentos como: quanto vale o dinheiro que a gente ganha? Às vezes, você ganha muito dinheiro, mas também gasta muito dinheiro. E eu acho que o Meca foi muito uma resposta disso, uma ideia de aprender e fazer coisas que fossem de verdade, que fossem de acordo com o que a gente tinha pensado.
'Maior menor festival'
Eu estava viajando bastante para fora do Brasil, participando de muitos festivais, conhecer outras culturas e experiências, e eu sentia muita falta no Brasil de projetos, festivais, que eu estava vivendo lá fora. Tinham muitos festivais no país, como o Planeta Terra e o Free Jazz, entre outros, e não tinha festival onde havia a escala na qual te permitia uma experiência diferente. E é difícil você viver as experiências em eventos com 10 mil, 20 mil pessoas. E trouxemos o Meca para trazer um pouco essa segurança para nos permitir experimentar, criar, para nos permitir ser quem gostaríamos de ser. Por isso, criamos o conceito do ‘maior menor festival’, para ser grande na potência, na transformação, relevância, mas ter a soma de pequenas experiências dentro dessa escala controlada.
Experiência profunda
O Meca permite muito essa profundidade, e eu acho que é isso que causa uma transformação. É possível você ver, no olhar das pessoas, que elas estão diferentes do dia a dia, que elas não estão no automático. E quando criamos o Meca, a ideia era que ele não fosse em uma cidade. A primeira edição que fizemos foi em Maquiné, no litoral do Rio Grande do Sul, onde as pessoas passavam por um túnel verde, no meio do mato, para depois chegar num festival incrível, com pessoas felizes, dançando, cantando, se expressando através da moda. E eu acho que esse foi um dos pontos que usamos para começar a construção desse sonho, de ser muito mais do que um festival de música. A gente usou essas oportunidade para, depois, ir expandindo para outros lugares incríveis do Brasil, e foi fazendo conteúdo ao mesmo tempo, fazendo espaços físicos, centro cultural, e uma série de outras coisas que suportassem todo esse ecossistema.
Meca: plataforma
Hoje nós somos uma plataforma. A gente tem muitos projetos, sonha muito grande, mas ela é baseada em três pilares atualmente: um deles é a experiência, que são os festivais, onde nós nascemos e somos mais fortes; também estamos investindo cada vez mais em conteúdo, através do Journal, das redes sociais, site; e a gente tem uma parte de prestação de serviços, que usamos para alguns parceiros toda essa expertise e know-how para trazer experiências para as marcas.
Volta às origens
Eu acho que o Meca 2023 tem muito de uma volta à nossa origem. Durante esses últimos 13 anos, sobretudo na pandemia, foi muito duro passar por tudo o que passamos. De uma hora para outra, nossa chão desabou, e o que a gente faz deixou de ser feito, foi um período de reflexão. E eu acho que, de certa forma, o Meca 2023 voltou diferente de 2022, para ser essa verdade que tanto buscamos.
Criação das experiências
Adoramos a ideia de criar juntos, porque acreditamos que essa é a melhor forma de fazer algo acontecer, de ser verdade. Nós sabemos de tudo o que estamos criando, das experiências macro, da programação, e as marcas sabem muito sobre as verdades dela, dos produtos que oferecem, e eu acho muito legal quando chegamos nessa linha de interseccionalidade entre esses dois mundos. E ainda vamos além, que é saber o que o público quer. Temos a Heineken, que está com a gente muito tempo, que criou uma experiência de marco no anfiteatro, no qual as pessoas esperam o ano todo para vivê-las de novo. É óbvio que a gente se ressignifica junto com a Heineken, trazendo conceitos de sustentabilidade, como repensar a relação da música com a cidade. A Johnnie Walker tem o bar, tem a experiência do produto, mas fizemos um talk com mulheres interessantes, potentes, que têm tudo a ver com o keep walking. E a NotCo é uma marca que está entrando no mercado e tem muita afinidade com o Meca. E eles mostraram isso, seja fazendo drinks diferentes, que não são necessariamente comuns em festivais, mas que se ligam perfeitamente com o público do Meca.
Onde o Meca quer chegar
Fazendo uma brincadeira, ter uma Meca na Lua. Eu acho que é isso, experimentar o desconhecido. Tem uma expressão, que é muito incrível, que fala que você só sabe o que sabe, e você não sabe o que você não sabe. E essa descoberta é muito baseada na limitação que você tem do que você sabe, e tem um campo muito amplo de coisas que você não sabe e que vêm com a experiência. Há dez anos, um dos sonhos nossas era construir o Meca Town, uma cidade baseada na experiência que já tive com a arquitetura e com a cidade de São Paulo. A ideia veio do questionamento 'por que as cidades são tão ruins de viver?', 'por que ficamos presos no trânsito?', 'por que ela é cinza?'. E eu fiquei pensando: a cultura cria isso. Vários bairros do mundo foram criados dessa forma, de levar um público criativo para ter projetos inovadores, projetos culturais, que atraem as pessoas.