Saiba por que as agências brasileiras estão deixando suas sedes icônicas

Alê Oliveira

Atual prédio da DM9DDB, que se muda ainda em 2018, tem cinco andares

Atualmente, poucas agências de publicidade ainda ocupam grandes edifícios inteiros. Com a crise, essa era acabou. Várias agências estão deixando suas icônicas sedes e se mudando para prédios menores e mais modernos, ocupando menos andares. Entre os fatores envolvidos há a questão da economia de custo – como aluguel mais barato – e também a busca por uma estrutura mais moderna, que integre as pessoas. O que se vê hoje, em alguns casos, são agências em prédios com espaços e andares vazios, desocupados. Com equipes mais enxutas, há agências que partiram, inclusive, para o modelo de coworking, compartilhando espaços com outras empresas.

Dois símbolos da propaganda, a DM9DDB e a WMcCann vão deixar em breve suas emblemáticas sedes – até o fim do ano, a DM9 se muda do famoso prédio de cinco andares na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, onde está desde 2002. “Nossa mudança de prédio se deve à busca por uma sede que seja horizontal. Não é mais contemporâneo um ambiente no qual as pessoas não sentam juntas e trabalham literalmente juntas. A questão de não ter áreas em salas já era um ponto importante para nós. Acreditamos que estar integrado com quem não é de seu departamento é fundamental. É preciso juntar pessoas diferentes, de departamentos, funções e histórias diferentes. Hoje nossa sede tem cinco andares e, muitas vezes, as pessoas acabam não se falando. Por elas não estarem no mesmo espaço é difícil provocar a integração. Já tivemos um ótimo resultado quando criamos o mesão dos vice-presidentes e queremos replicar esse modelo para a agência inteira”, conta Marcio Oliveira, copresidente da DM9DDB.

Alê Oliveira

A WMcCann deve deixar sua tradicional sede na Rua Loefgren, onde está há mais de duas décadas, até o fim deste ano

Na opinião de Oliveira, a sede atual foi icônica por uma era. “A agência completa 30 anos em 2019 e a sede atual foi icônica por uma era. Agora, precisamos construir uma nova DM9 e para isso também precisamos de uma nova sede. Queremos, acima de tudo, nos adaptar aos novos tempos. Não estamos mudando para uma sede menor. Tamanho não é uma questão. Estamos mudando para um lugar no qual vamos ser mais integrados, um ambiente em que as pessoas vão trabalhar juntas e vão se completar em suas atividades”, afirma.

A DM9 deve se mudar para o mesmo prédio da Faria Lima onde já está a Africa, também do Omnicom Group. O publicitário revela que a mudança será ainda este ano. “Ainda não estamos fechados no prédio da Faria Lima. Mas, a mudança vai ser realizada ainda em 2018”, diz o copresidente da DM9.

Alê Oliveira

A F/Nazca S&S é uma das agências que há mais tempo estão no mesmo endereço

A Africa está no moderno edifício que também abriga o Google há pouco tempo – antes ficava em outro endereço da Faria Lima, mas ocupando mais andares. “A Africa estava no endereço anterior desde sua fundação, em 2002. Em 2017, vimos que era um momento para mudança. Depois de 15 anos, a estrutura do escritório não se adequava mais ao que pensávamos para a agência a longo prazo. A Africa é inquieta, ‘está sempre em obras’. No novo endereço temos um andar inteiro, o que une todas as áreas da agência, antes divididas em vários andares”, conta Marcio Santoro, copresidente e CEO da Africa.

A WMcCann, que ocupa a mesma sede há mais de 20 anos, no prédio construído especialmente para abrigar a agência do Interpublic Group, deve deixar o tradicional endereço da Rua Loefgren, na Vila Clementino, também até o fim deste ano. O destino da agência pode ser o Itaim Bibi, famoso bairro paulistano, que fica ao lado da Vila Olímpia, dois locais onde, além da Vila Madalena, muitas empresas do mercado publicitário estão se concentrando.

GESTÃO FINANCEIRA

O consultor Paulo Cunha, coordenador do curso de publicidade e propaganda da ESPM, não vê a mudança das agências como tendência, mas como resposta direta à relação entre gestão financeira e proposta empresarial. “Isso significa que tanto podem ampliar seu espaço operacional como reduzir. Neste momento, agências de grande porte no Brasil mudam-se para espaços maiores, com ou sem integração de áreas, assim como outras preferem reduzir ou otimizar espaços. Creio que não falamos de paredes ou metros quadrados, mas de filosofias e estratégias empresariais adequadas à estrutura que necessitam manter”. Em relação a agências de pequeno e médio porte ocuparem espaços de coworking, o especialista acredita que isso pode ser influência das startups de tecnologia. “Compartilhamento de espaços pode ser compreendido como proposta empresarial (posicionamento), como uma decisão baseada na otimização de recursos financeiros e/ou uma forma de gerir e desenvolver seus negócios. Sem dúvida, há uma influência de startups de tecnologia e, especialmente, de lógicas da economia criativa. Colaboração, relacionamento e responsabilidade para com a sociedade são alguns das características deste perfil de empresa”, afirma.

Alê Oliveira

Famoso prédio da Neogama em São Paulo está desocupado e para alugar

Por outro lado, há agências de grande porte no país pensando em mudar-se para espaços maiores. A Leo Burnett Tailor Made, do Publicis Groupe, é um exemplo. Após absorver a Neogama, no fim de 2017, a direção da agência chegou a pensar em se mudar do seu endereço na Rua Brejo Alegre, no Brooklin, mas por querer mais espaço. A famosa sede da Neogama foi desocupada. “2018 foi um ano que paramos para pensar sobre a possibilidade de mudança de sede, mas por um bom motivo. Nos últimos dois anos crescemos bastante, com novas contas no portfólio – como Bradesco, Extra e Bayer -, e a contratação de cerca de 120 pessoas no período. Com isso, a agência ficou bem maior – hoje somos cerca de 350 pessoas – e começamos a nos questionar se não era o momento de irmos para um espaço mais amplo. Apostamos em ficar aqui, entre outros motivos, porque a configuração da arquitetura do local e sua localização externam valores nos quais acreditamos: modernidade, agilidade, simplicidade, integração e hands on. Um modelo tailor made inclusive de arquitetura”, destaca Marcelo Reis, co-CEO e CCO da Leo Burnett.

O prédio da Leo, inclusive, está em reforma. “Neste momento estamos começando uma reforma. Já atuamos faz tempo com o mínimo de paredes necessárias e com departamentos integrados fisicamente. A criação junto com a mídia, o planejamento, o atendimento, a área de data intelligence, produção, tudo junto, colado e misturado. A reforma vai ampliar mais esta cultura, possibilitando uma Leo Burnett ainda mais integradora, com mais espaços de convivência, de interação e colaboração e, inclusive, mais ecologicamente correta, mais conectada com práticas que respeitem o meio ambiente e o bem-estar de nosso time”.

Já a F/Nazca Saatchi & Saatchi está entre as agências há mais tempo no mesmo endereço e permanece na sua icônica sede na Rua República do Líbano, onde encontra-se desde 1998.