Saúde mental das equipes continua preocupando o mercado

Paula Molina, diretora de RH da WMcCann/Foto: Divulgação

Manter a saúde mental durante a pandemia tem sido um grande desafio para todos. Nas agências de publicidade, o processo não é diferente e tem sido motivo de preocupação desde o início da crise sanitária instalada com a chegada do coronavírus. Ansiedade e estresse para gerenciar o trabalho dentro de casa com os filhos em idade escolar são os problemas mais relatados pelos funcionários na WMcCann, por exemplo, que presta assistência psicológica, de forma remota e confidencial, por meio do Programa de Apoio aos Empregados (PAE).

No janeiro branco, mês de conscientização da saúde mental, os colaboradores também participaram de um bate-papo com Rich Pierson, cofundador da Headspace, empresa de saúde online especializada em meditação. A parceria do McCann Worldgroup com a Headspace consiste em uma série mensal de palestras sobre saúde mental, chamada Wellness Wednesdays – Quartas-Feiras do Bem-Estar. Além disso, todos os colaboradores do grupo terão acesso a uma conta corporativa na plataforma Headspace, que oferece meditações guiadas, animações, artigos e vídeos.

Para Paula Molina, diretora de RH da WMcCann, o grande xis da questão é realizar ações consistentes para manter o bem-estar e a saúde mental das pessoas, um desafio ainda maior imposto pelo trabalho a distância ‘forçado’ por causa da pandemia. “Todo mundo quer o home office, mas administrar o trabalho com os filhos em casa é uma outra história”, avalia ela. A executiva reforça que “se não conseguirmos manter a mente sã, a gente aumenta os problemas com estresse, afastamentos e número de pessoas mentalmente doentes”.

Com o início da vacinação no país, Paula relata que aumentou o nível de ansiedade dos funcionários para saber sobre as medidas em relação ao retorno do trabalho presencial. Por isso, a agência já adotou uma política de modelo híbrido de trabalho. “Nosso espaço de trabalho só vai permitir 70% do nosso grupo. Na nossa nova orientação, já temos um espaço 30% menor e com isso as pessoas vão poder trabalhar mais em casa. E isso está sendo positivo”, diz ela. Na WMcCann, desde novembro, o escritório da agência está aberto para o retorno voluntário presencial ao trabalho em 10%. “Porque há pessoas que não estão bem em casa. A gente tem tido de 5% a 8% de ocupação. A ideia é retornar mesmo só depois da vacina e seguindo todas as orientações”.

Faixa etária

A diretora de RH da Wunderman Thompson, Adriana Massari, lembra que, como a maior parte do público interno é formada por jovens – assim como em outras agências – e, provavelmente, não estará em foco nos primeiros meses da campanha de vacinação, ainda não há previsão de reabertura da agência. “O tempo trouxe adaptação e conhecimento para gerirmos a nova rotina e nos organizarmos melhor em casa. Percebemos que a ansiedade, quanto ao modelo de trabalho, vem diminuindo e está mais direcionada às incertezas e restrições geradas pela pandemia”.

A executiva ressalta que, obviamente, a situação não está resolvida, as pessoas ainda precisam de apoio e de compreensão, por isso, em 2021, o foco do RH será continuar a ajudar os gestores na construção de uma liderança mais próxima e empática. Embora a agência ainda não tenha um plano de retorno definido, uma coisa é certa: o novo formato de trabalho seguirá uma linha flexível e híbrida.

“Desde o início da pandemia, a WT agiu para mensurar como as equipes estavam se sentindo nesse novo cenário. Nossa preocupação foi em compreender, o quanto antes, os impactos do modelo de trabalho 100% home office. Iniciamos uma série de pesquisas internas. As respostas foram essenciais para construirmos ações internas de apoio aos nossos colaboradores. Implementamos, por exemplo, sessões semanais de ioga e meditação, sessões quinzenais com uma psicóloga, que trouxe temas como ansiedade, medo, perdas, depressão e carreira em tempos de pandemia. Também disponibilizamos, em parceira com o Grupo WPP, um serviço de atendimento psicológico, financeiro e jurídico de forma virtual, para ajudar os nossos colaboradores na organização diante do novo contexto”, relata a executiva.

Monica Lessa, head de RH da AlmapBBDO/Foto: Divulgação

A AlmapBBDO também promove bate-papos com psicólogos e médicos sobre assuntos relativos à saúde, como sono, nutrição e pediatria. “Essas conversas, claro, são online e acontecem uma vez por semana”, explica a head de RH, Monica Lessa Kamimura. A agência também oferece encontros de meditação, incentivo à prática de atividade física, com acesso ao Gympass. “Temos ainda um psicólogo pago pela agência por um período de tempo determinado. Nosso objetivo é incentivar o autocuidado, que as pessoas, além de se protegerem da Covid-19 estando em home office, ainda cuidem da saúde mental, um ponto de extrema relevância”.

A executiva fala que neste período de pandemia o esforço para lidar com assuntos relacionados a ansiedade, estresse e medos é grande. Agora, com a chegada da vacina, segundo ela, o sentimento é de esperança. “O caminho ainda é longo, os cuidados permanecem, mas o sentimento é de motivação”, diz Monica.

Ela informa que a Almap trabalha no aprimoramento do escritório e em um planejamento de volta, ainda sem data certa para acontecer. Monica ressalta também que a agência acredita que um ambiente que estimule criatividade e inovação é aquele em que há muitas trocas. “A saudade da agência, das pessoas, da troca, do olho no olho, do cafezinho ‘aglomerado’ e de encontrar as pessoas pelos corredores é imensa. Estar próximo faz parte deste processo. Para os negócios em geral, não só da publicidade, é necessário o retorno, ainda que em um modelo diferente do que estávamos acostumados”.

Focus groups

Na Lew’Lara\TBWA, além do acompanhamento informal, feito através das videoconferências, há focus groups com o apoio de uma consultoria, com o objetivo de entender como as pessoas estavam agindo e reagindo ao contexto atual e o impacto na vida delas.

Elise Passamani, CCOO da Lew’Lara\TBWA/Foto: Divulgação

“Após o diagnóstico, revisitamos desde questões operacionais (como diminuição dos calls de status semanais) e colocamos à disposição de todos um programa de auxílio ao colaborador, que conta com diversos profissionais que oferecem pronto-atendimento e aconselhamento para os mais diversos tipos de dificuldades que possam estar interferindo na vida pessoal, familiar e profissional dos colaboradores. Este programa está, inclusive, disponível para o grupo familiar dos nossos colaboradores”, detalha Elise Passamani, CCOO (chief culture & operation officer) da Lew’Lara\TBWA.

Assim, como a maioria das agências, a Lew’Lara também adotará um regime híbrido de trabalho no retorno presencial. “É inegável que o modelo remoto traz benefícios e não poderíamos deixar este aprendizado de lado, por isso temos trabalhado incansavelmente no nosso plano de flexibilidade para que ele acomode tanto as necessidades corporativas quanto às necessidades pessoais de nossos colaboradores. Sabemos, desde sempre, que pessoas felizes geram resultados de negócios melhores e mais sustentáveis”.

Patrícia Fuzzo, chief talent officer do Grupo Ogilvy/Foto: Divulgação

A Ogilvy, por sua vez, implantou o Programa de Apoio ao Empregado, um canal gratuito, exclusivo e extensivo aos dependentes, que aborda temas psicológicos, jurídicos e financeiros com total confidencialidade. Também oferece a ginástica laboral duas vezes na semana para ajudar com o relaxamento corporal e consequentemente liberar tensões que possam atrapalhar o dia a dia. Além disso, a agência tem o Papo de Corredor, encontro entre o CEO Luiz Fernando Musa e funcionários, para as pessoas fazerem perguntas, tirar dúvidas ou qualquer outro tema que possa estar gerando medo ou ansiedade.

Segundo Patrícia Fuzzo, chief talent officer do Grupo Ogilvy, a retomada ao trabalho presencial sempre é um assunto recorrente. “É um tema que traz certa angústia para as pessoas. Temos falado bastante sobre esse retorno quando as condições forem seguras, o que não há previsão ainda. Por enquanto, seguimos o modelo híbrido, que estabelecemos em novembro de 2020. A regra principal é que não tenha mais de 30% do efetivo na agência, mas o processo é 100% voluntário”, explica Patrícia.

A executiva acredita que o contexto econômico e social do país com a pandemia contribui de forma preponderante para situações como estresse ou ansiedade. “Justamente por isso, procuramos manter uma postura mais empática e escuta ativa para entender e propor soluções que possam trazer mais conforto emocional às pessoas”.

Vivian Vaz, diretora de Recursos Humanos da Leo Burnett Tailor Made, tem opinião semelhante. “A questão da distância não é o único fator que gera estresse, ansiedade ou dificuldade de manter a mente sã. Estes sentimentos estão muito relacionados também ao medo de ver os familiares e pessoas queridas doentes. Então, até isso tudo passar, ainda teremos de lidar com estas angústias”, afirma ela.

Vivian Vaz, diretora de Recursos Humanos da Leo Burnett Tailor Made/Foto: Divulgação

Segundo a executiva, a agência não sentiu impacto no trabalho remoto frente aos negócios. “Conseguimos rapidamente nos adaptar a este momento. Os nossos clientes estão também grande parte em home office, então foi uma transição relativamente tranquila”, conta ela. A Leo Burnett também não tem uma definição sobre a volta ao escritório. “Faremos isso apenas quando for seguro para todos e quando definirmos exatamente como será o novo modelo de trabalho. Existe, sim, uma vontade em
todos de poder voltar ao escritório, não no modelo antigo, mas de uma forma mais flexível”, completa.

Vivian informa que a agência também tem um canal de ajuda, com orientações psicológicas, jurídicas e financeiras para todos os colaboradores. “Realizamos diversas palestras com o time e com profissionais especializados sobre home office saudável. Abordamos assuntos sobre saúde física, mental e financeira, como temas relacionados a ansiedade, administração do tempo, qualidade do sono e nutrição”.