Se todo mundo está olhando ali, que tal olhar pra lá?

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Mario Narita é CEO da Narita Design & Strategy

Só se fala na crise. Claro.

Eu não só falo. Eu penso nela. Eu durmo com ela. Eu almoço todos os dias com a crise. Em minhas corridas matinais, lá está ela ao meu lado.

Estou muito preocupado. Ergui uma empresa e, com isso, construí uma família. Tenho um time que está há muitos anos comigo, que cresceu e ajudou a construir meu negócio. Tenho clientes parceiros, com quem formei relação, que há anos, job a job, confiam a mim projetos que muitas vezes definirão mais do que o futuro de suas marcas – definirão o próprio futuro. Então, sim, estou muito preocupado com isso.

Tenho feito algumas palestras e, recentemente, uma delas foi para um grupo de 90 jovens da ESPM. Falamos de consumidor, de mercado, da metodologia que tenho aplicado em alguns projetos… Não costumo muito falar de mim, não por falta de vontade, mas por não ser da minha natureza. E uma garota na terceira fileira, em meio a algumas perguntas que me fizeram, me chamou atenção: “são tantas marcas grandes, projetos legais… é a curiosidade, então, que te move? O que te faz se reinventar até hoje?” Percebi, depois, que não respondi à altura do que ela esperava, acho. Precisava refletir e me conectar com isso. Minha origem oriental grita nesse momento. Hoje, se ela me fizesse a mesma pergunta, eu responderia: a curiosidade me move. O desbravar me move. O pensar diferente me move. Olhando pra trás, percebo que, inconscientemente, muito disso me trouxe para onde estou hoje.

A crise chegou e eu e meu time temos conseguido, nadando na braçada, contra a maré, engolindo água e com o corpo pesando pelo cansaço, passar onda a onda. Junto à crise da economia vêm as novas políticas de pagamento em clientes, que estrangulam as nossas contas jogando longe o resultado do trabalho realizado hoje. Vêm prazos cada vez mais estreitos, considerando que todos precisam de resultados imediatos. Vem a tensão, ao ver tudo isso reunido em um pacote só e a corda, que já era bamba, ficar cada vez mais fina e difícil de se equilibrar.

Mas esse não é um texto pra jogar pra baixo quem já está de cabeça baixa. É o contrário. O que me faz ainda ter energia pra braçada, pra passar onda a onda, é ver que o que plantei lá atrás é o que me mantém de pé hoje. Há 7 anos, por exemplo, pensei que design não precisaria caminhar sozinho. Eu podia trazer a estratégia pro lado do design. Eu podia colocar o consumidor no centro de tudo isso, não só como teoria, mas na prática. Eu poderia repensar o processo que há anos eu trabalhava, que estava dando certo, que estava me trazendo frutos, mas… que talvez pudesse ser repensado. E eu repensei. Reinventei meu negócio com o carro andando. Criei uma área nova. Revi minha área de negócios. Mexi em parte do time, agregando perfis que me ajudariam nisso. Eu criei uma metodologia. Atraí novos clientes.

Investi. Plantei. E hoje estou colhendo. Eu não estaria conseguindo passar cada onda que estou passando se não tivesse tido esse pensamento lá atrás. Se não tivesse me cutucado da minha zona de conforto, colocado a mão na massa e testado algo novo. A curiosidade, o desbravar, o pensar diferente que citei acima, foram meu pano de fundo pra isso. Foi isso que me trouxe pra hoje.