Nasci em Varsóvia, morei alguns anos na Inglaterra, me mudei para a Argentina, mas, do mundo inteiro, escolhi o Brasil para fixar morada. E agora, com mais de 70 anos de vida, vou trocar de profissão. Trocar de PRO-FIS-SÃO.

No início não parecia uma boa ideia, mudanças sempre inspiram dúvidas e desconfiança. Mas, após uma curta hesitação pensei, por que não?

Tenho mais de 50 anos como diretor de filmes publicitários e devo reconhecer: foi fascinante e nunca pensei em fazer outra coisa.

E é claro que as coisas também podem ser realizadas paralelamente, e estarei sempre pronto para dirigir um novo projeto e uma nova campanha.

Mas o mundo todo muda, a história muda e a profissão também pode mudar. E, em se tratando do nosso negócio, mudou mesmo.

A turma mudou, os filmes mudaram, os clientes mudaram, alguns já se foram, outros se aposentaram.

Foi aí, quando menos esperava, que uma proposta nova surgiu.

“O senhor (sempre se inicia com pompa e circunstância), aceitaria ser cônsul honorário de seu país, em São Paulo?”

Meu sentimento pela Polônia semprefoi muito profundo e, afinal, o resto a gente aprende. 

Mas qual função exercer?

Representar e divulgar o país, em atividades culturais, artísticas e econômicas, sem a burocracia de emitir passaportes, vistos etc.

O ofício de cônsul honorário é muito cônsul, mas nada honorário, só que um título bem usado abre muitas portas. E portas interessantes.

Aceito e descubro que esse mundo é melhor do que eu imaginava.

Descubro que aqui a coisa é muito séria e eficiente. Claro, não sou eu, é que eu represento a Polônia.

Acontece que o nosso mundo atual, e não me refiro ao Brasil, deixou de ser eficiente. Os compromissos não se cumprem, você liga e não é atendido e as reuniões servem só para reunir.
Agora, neste mundo consular, tudo parece muito correto e tudo funciona.

Será que o meu entusiasmo vem da novidade? O tempo dirá, mas, por enquanto, gosto dessa fórmula.

Tem uma parte cruel, assistir aos ex-presos poloneses, que são então soltos, e entregar a eles os passaportes e passagem para que voltem à Polônia.

As primeiras vezes foram um pouco traumáticas, mas logo me acostumei. Tome seu passaporte, sua passagem, assine aqui, táxi, aeroporto e boa viagem.

É outro mundo tão diferente do mundo publicitário, mas um pouco de irreverência publicitária, misturada com o protocolo diplomático, pode render uma boa fórmula.

Chega em São Paulo o diretor e compositor polonês Krzysztok Penderecki, famoso no mundo inteiro, começa a recepção, registros fotográficos e conversas em roda.

Recebo o elenco de um teatro polonês, um dos mais importantes do mundo. O cinema polonês também ganha seu espaço na cidade. Uma atividade empolgante e prazerosa. Recepções consulares, encontros que podem gerar grandes negócios e quem sabe até conseguir o patrocínio para um baile folclórico polonês.

Seria você, caro leitor?

É muito gratificante a gente se sentir útil e eficiente para a relação dos dois países.
Só não vamos misturar vodca com cachaça.

Viva a publicidade!

Viva o corpo consular!

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