Há quase dois anos, quando fui convidado a escrever sobre “o que me inspira” aqui no PROPMARK, vivia na época um intenso momento de transformação pessoal e profissional e, principalmente, o descobrimento e a aproximação com movimentos culturais espalhados por diversos cantos do país.

Na época, contei sobre um documentário autoral que produzi e dirigi com alguns amigos sobre o Samba da Vela de Santo Amaro, reduto do samba paulista e amadrinhado por Beth Carvalho.

Com a partida da madrinha, é inevitável relembrar o início dessa trajetória e dessas “Andanças”, que iniciei por meio de um ex-sócio, grande figura, que mudaria para valer parte dos meus pensamentos.

Foi assim que conheci um cara chamado Celso Athayde, fundador da Cufa (Central Única das Favelas), presente em 26 estados brasileiros e em 6 países) e CEO da Favela Holding – primeira holding social do Brasil.

O primeiro encontro foi na própria sede da ONG (que fica embaixo do viaduto de Madureira, na Zona Norte do Rio) em uma tarde típica carioca, beirando os 40ºC.

Foram quase três horas falando de tudo: propaganda, economia, política e, principalmente, favelas. Assunto que tomou conta do restante da reunião e logo ali nos mostrou o que os telejornais não mostram, ou melhor, não mostraram ao longo da história.

Ainda vistas por muitos como antro de bandidos e do tráfico, as favelas são capazes de movimentar R$ 81 bilhões/ano e, se fossem um estado, seriam o quinto mais populoso da federação.

E hoje é inspiração para os mais diversos tipos de arte e sinônimo de empreendedorismo no Brasil. 

Nesse mesmo dia, Celso nos mostrou que, mesmo sendo uma organização social, o objetivo da Cufa é ir além do assistencialismo e realmente formar jovens através da educação, lazer, esporte, cultura, cidadania e tecnologia, por meio de uma linguagem-proprietária e difundindo a conscientização das camadas desprivilegiadas da população.

Finalizada a reunião, demos um rolê na sede e ali observamos muitas marcas gigantes como parceiras (Nike, L’Oréal, P&G) e uma energia inexplicável.

Diversos frequentadores, atividades, voluntários, funcionários e um propósito muito claro: elevar a autoestima e difundir o conhecimento.

Um grande exemplo disso é a parceria com o gigante Facebook em um verdadeiro laboratório de capacitação montado em uma grande sala, gerando capacitação para pequenos e médios empresários de favelas e dando visibilidade para o seu negócio não apenas dentro da favela, mas para o mundo.

Logo após esse primeiro papo, a troca de mensagens virou constante, conheci algumas favelas de perto, a admiração tornou-se amizade e os planos viraram realidade.

Uma sinergia intensa e verdadeira se transformou em um projeto guiado por grande um propósito que em breve será divulgado em lançamento à altura.

De lá para cá, meu papel como cidadão tomou novos rumos, que cada vez mais apoia e celebra iniciativas que buscam mostrar o outro lado das histórias.

Ao meu ver, exemplos como o Celso e a Cufa contribuem pouco a pouco na quebra de barreiras do estereótipo centenário que aponta em colocar as favelas exclusivamente sob estatísticas negativas.

Vivemos ainda em tempos sombrios, mas precisamos apreciar os momentos de esperança. E, sobre a querida Beth, só me resta agradecer por ter tido a oportunidade de conhecê-la além dos palcos e despertar em mim o começo de novas descobertas.

Guilherme Pierri é CEO da Peppery