Alex Bogusky, cofundador da CP+B Worldwide, publicou recentemente um artigo no The New York Times falando sobre as novas táticas da indústria de tabaco, ou o “Big Tobacco”, para continuar viciando jovens em seus produtos – agora disfarçados sob a máscara moderna, aparentemente inocente e cool dos cigarros eletrônicos.

Não se sabe ainda o nível de malefício dos cigarros eletrônicos à saúde. E, além do risco de doenças cardiovasculares e derrame, as evidências apontam: o consumo dessa nova modalidade aumenta também as chances de a garotada começar a fumar cigarros tradicionais. É uma porta de entrada. Enfim, os e-cigarettes parecem ser parte do problema, não da solução.

E nós, brasileiros, o que temos a ver com isso, se aqui os cigarros eletrônicos são proibidos pela Anvisa? A falta de regulamentação clara sobre o tema acaba fazendo com que seja possível comprar esses produtos em lojas virtuais e físicas. Com bilhões de dólares gastos pela indústria de tabaco em marketing direcionado principalmente a jovens, esse é um problema que vai aumentar logo.

A indústria está sempre se reinventando, usando estratégias de marketing com influenciadores, para criar uma nova geração dependente que vai sustentar seus lucros. Entre as principais táticas usadas, estão ações voltadas ao público jovem, em eventos de música, moda além do uso de embaixadores de marca. E também financiamento de estudos científicos de resultados questionáveis.

Nesse sentido, todos nós, comunicadores, temos uma grande responsabilidade nas mãos e uma escolha a fazer: queremos ou não trabalhar com a indústria de tabaco? Vamos ajudá-los a continuar matando mais de sete milhões de pessoas/ano?

De fato, eles têm grandes budgets e isso é tentador. Apenas nos EUA, investem anualmente mais de 8,7 milhões de dólares em publicidade. Mas será que é esse o caminho que queremos? Será essa a marca que “queremos deixar no mundo”?

Aproveito o mês de maio, quando acontece o Dia Mundial de Combate ao Fumo, para fazer um convite a todos os colegas de profissão que queiram trazer propósito para dentro de suas agências, e reforçar o compromisso de trabalhar por um mundo melhor: juntem-se ao movimento global Quit Big Tobacco, liderado pela Vital Strategies, organização da qual faço parte.

A campanha reafirma o compromisso de agências de publicidade, relações públicas, organizações de saúde e corporações a não trabalhar com a indústria de tabaco e seus parceiros, direta ou indiretamente. Diversas organizações já aderiram ao movimento, incluindo as agências globais CP+B, de Alex Bogusky, e Edelman e, mais recentemente, a grande rede americana de farmácias CVS.

Trabalhar com a indústria do tabaco para viciar jovens pode trazer recursos para a sua agência. Mas não é vanguardista, como nós publicitários sempre buscamos ser. Nem inteligente, uma vez que está ajudando a matar hoje o consumidor de amanhã. 
Será que é isso que motiva você e, sobretudo sua equipe, a levantar da cama todas as manhãs? Definitivamente, não é o que me motiva.

Luiza Amorim é gerente de comunicação da Vital Strategies