Meu pai era um homem admirável. 

Filho de lavradores que viviam em Mirandópolis, interior de São Paulo, e nascido em família humilde, aprendeu desde pequeno a superar as dificuldades da infância pobre: começou criança a trabalhar e compreendeu ainda jovem que só vence quem fortalece seu caráter, seu entendimento do mundo e sua capacidade de raciocínio. Tomou gosto pelo estudo e adquiriu um elevado nível cultural. Percebeu que precisava sair de onde estava para perseguir seus sonhos. Sozinho, deixou a família e rumou para a capital paulista apenas com uma mala e um objetivo: vencer. E assim o fez. 

Formou-se em três faculdades (enfermagem, psicologia e administração hospitalar), tornou-se professor e construiu uma brilhante carreira no Hospital das Clínicas da FMUSP. Ah, como tinha orgulho de andar ao seu lado pelos corredores do HC e ver como as pessoas o admiravam!

Meu pai alcançou suas conquistas porque, essencialmente, se esforçou para construir um caráter exemplar e um vasto conhecimento de incontáveis áreas, sempre com muito amor por aprender. Quando constituiu a sua família, todo esse ímpeto ganhou novo sentido: dar a melhor educação e formação aos seus filhos. E isso era bastante perceptível para mim e para os meus irmãos.

Enquanto outros pais esbanjavam dinheiro em futilidade ou adquirindo bens para ostentar, meu pai optava em focar no fruto de seu trabalho para nos dar uma vida sem sobressaltos na infância. Em contrapartida, era muito exigente conosco nos estudos, mas sempre com amor.

Certa vez, por volta de meus nove anos de idade, ouvi aquele que considero o mais sábio de todos os seus ensinamentos: “Ricardo, nunca deixe de estudar. É preciso aprender sempre!

Conhecimento nunca é demais. Ele não ocupa espaço. Quanto mais você o adquire, mais espaço tem para novos conhecimentos. Nunca se esqueça disso”.

Na profissão que escolhi e em toda a minha vida, meu repertório cultural e o conhecimento que tenho são meus maiores diferenciais e o combustível que impulsiona a minha carreira. Ser publicitário é conseguir aliar sua visão de mundo com os dados obtidos na observação do mercado de seu cliente e, com isso, desenvolver estratégias, insights, campanhas, o que for, de forma a atingir um objetivo, tornar memorável um projeto e obter rentabilidade e retorno para o cliente. E como isso é possível? Basicamente, a partir do momento em que você desenvolve um repertório capaz de dar os insumos necessários para o desenvolvimento de seu trabalho. No meu caso, a semente disso está naquele simples conselho paterno que recebi: “Conhecimento nunca é demais”.

Hoje, profissional que não tiver a cultura do estudo e do aprendizado contínuos corre risco enorme de ficar ultrapassado e, com perdão do trocadilho, ser riscado do mapa. As novas tecnologias e as revoluções sociais que elas trazem exigem que estejamos em constante estado de aprendizado.

Assim como o corpo só entra em forma e vence o sedentarismo com muita dedicação e rotina de treinos físicos, também precisamos treinar o intelecto para estarmos aptos a aprender continuamente. De igual maneira, o mais difícil para quem deixou de treinar é voltar a se exercitar. O corpo dói, a vontade falha e, se não tiver força de vontade, a pessoa invariavelmente desiste. Isso também ocorre com quem para de estudar e se deixa levar pela correria do dia a dia: a pessoa desaprende a aprender e abandona os estudos. O resultado é um profissional que pouco a pouco perde qualificação e passa a não mais responder às necessidades do mercado, tornando-se ultrapassado, até ser substituído e não encontrar mais espaço na profissão. Infelizmente, esse é o tipo de profissional de marketing que mais tem se proliferado ultimamente. Vejo isso com profunda tristeza, pois essas pessoas simplesmente serão atropeladas pela seleção natural do mercado.

Estudar e aprender são atividades que precisam ser continuamente treinadas. Eu não me coloco à parte dessa realidade. Invariavelmente me questiono se o que sei em minha profissão é ainda suficiente para responder com excelência às necessidades das empresas que me contratam. E, se percebo que há entre as minhas habilidades algum tipo de deficiência, procuro logo resolver essa questão por meio de aprendizado de alta qualidade.

É nessas horas que sinto o meu pai tão vivo e presente, como se ele estivesse em minha frente. E mesmo ele tendo partido para Deus há quase 30 anos, ainda ouço a sua voz me dizendo: “Conhecimento nunca é demais, meu filho. Lembre-se sempre disso”.

É, meu pai… Eu sempre me lembro!

Ricardo Inforzato é diretor de Planejamento e Estratégia da agência de Marketing Pílula Criativa