"Você não pode se esconder e esperar que seja visto”

Painel do South by Southwest discutiu a luta contra a solidão em um mundo digital

“Todos sabemos que o digital transformou a maneira como nos relacionamos, como nos aproximamos de pessoas, mas mesmo com a conectividade nos sentimos mais solitários do que nunca”, disse Ana Kirova, CEO do app de encontros para relações alternativas Feeld. Ela foi mediadora na abertura do painel ‘Fighting Loneliness in Our Digital World’ (Lutando contra a solidão em um mundo digital, em uma tradução livre), durante o South by Southwest (SXSW), festival de inovação que está sendo realizado em Austin, no Texas, até a próxima sexta-feira (15). A epidemia da solidão é o tema da vez nesta edição do SXSW.

A mediadora começou o debate questionando os participantes sobre o que é solidão para cada um deles. “Para mim, solidão é desconexão. Eu acredito que os seres humanos nasceram biologicamente para se conectarem com as pessoas e quando você se desconecta, se sente solitário”, afirmou a educadora de saúde mental Minna B. Já Alok Vaid-Menon, poeta e comediante, destacou que se sentir solitário é uma pré-condição para o amor, enquanto a cantora Kesha afirmou que solidão era algo que ela sentia muito medo no passado.

Minna ressaltou que solidão pode ser muito diferente para cada pessoa. “Eu encorajo as pessoas que se sintam desconectadas emocionalmente a se mostrarem vulneráveis, a falar sobre si mesmo. Sempre digo para os meus clientes: você não pode se esconder e esperar que seja visto”, ressaltou. Ela lembrou que com a pandemia as pessoas mudaram de casa e muitos que ficaram para trás não conseguem socializar ou se dar a oportunidade de conhecer gente nova.

Falando sobre vulnerabilidade, Kesha afirma que buscou concentrar sua energia em ser autêntica. “Quanto mais eu sou autêntica na letra das minhas músicas, mais eu me conecto com os meus fãs. Quanto mais autêntico, mais vulnerável você é e melhor é o resultado. Eu sinto que sou mais considerada pelo público”, revelou a pop star.

Ana Kirova, Minna B, Alok e a cantora Kesha

Sobre como navegar em um mundo digital sem regras, Minaa observou que é importante lembrar que cada um tem que estabelecer os próprios limites nessa interação. “Eu, pessoalmente, desativo todas as notificações das minhas redes sociais no meu celular. Eu não quero estar conectada a isso o tempo todo. Mesmo você sendo um usuário ou criador de conteúdo, pense nas suas interações e em quais comunidades está ligado. É realmente necessário se engajar em discussões na internet?”, questionou a especialista.

Ela também ressaltou que, independentemente do avanço da inteligência artificial, as pessoas precisam ser responsáveis em relação a como se mostram e se comportam nas redes sociais. “É importante lembrar que os usuários são seres humanos que precisam aprender a coexistir nesse mundo digital”.

Em relação ao medo que muita gente sente em ser autêntico, a artista trans Alok afirmou que o armário não é só para os gays. “Todo mundo está no armário. As pessoas pretendem ser o que não são. Eu acho que o motivo de pessoas trans como eu inspirarem tanto é que inveja é sinônimo para transfobia. E liberdade vem com várias escolhas que fazemos. Eu acho que todos devem se perguntar o que fazer para ser você mesmo”.

Para Kesha, é tudo sobre confiar em você mesmo. "Quando você começa a prestar atenção em você mesmo, agir como uma pessoa independente, a sua comunidade se aproxima mais de você", pontuou a pop star.