Sergio Rial, um banqueiro circunstancial
Não fosse uma mulher, Sergio Rial jamais seria o comandante de um dos três maiores bancos privados do país. Formado em direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e economia na Gama Filho. Tem toda uma formação no mercado financeiro. Já trabalhou por 18 anos no ABN Amro, e ainda mais dois no Bear Stearns de New York City. E a partir daí desistiu do mercado financeiro e foi para a indústria.
De 2004 a 2012, faz carreira na Cargill, é indicado pelo Conselho de administração da Seara e assume a posição de CEO da Seara Foods. Em 2014, a presidência do Marfrig, e em 2015 é convencido por Ana Patricia Botín, a toda-poderosa do Santander, a retornar ao mercado financeiro e assumir a posição de CEO do banco, em janeiro de 2016. Dois anos depois, na festa de Natal do banco, dezembro de 2017, desce por uma corda vestido de Homem Aranha. Não consigo imaginar, naquele momento, Roberto Setubal, ou o Trabuco, fazendo o mesmo.
Rial é estranho, diferente, verdadeiro. Em palestra realizada em março de 2018, para o Grupo Mulheres do Brasil, fez confissões pouco convencionais. Disse-se covarde por ter deixado o banco onde trabalhou durante 20 anos, o Real ABN Amro, “deixei muita gente que ficou até o final do processo de venda do banco, pulando do barco… olhando para trás vejo que cheguei à praia, mas muita gente morreu no mar”. Ou, na mesma palestra, quando confessa: “saí do Brasil muito cedo, em 1988, e fiquei 25 anos fora. Boa parte da razão dessa saída, além da missão profissional, também era uma fuga…
Esse é Rial, escolhido por Ana Patricia Botín. O mais diferente dos comandantes de bancos em nosso país. Faz-se presente em edição da revista Época Negócios, de número 140, e volta a surpreender. Ou, reiterar, ser diferente. Bradesco e Itaú plantaram suas sementes de futuro na Paulista. Santander no Centro Velho, com seu Farol Santander. Onde um dia foi o Banespa. Santander faz parceria com a São Paulo Fashion Week. Rial explica: “A moda faz parte de uma equação maior, da economia criativa. Existe toda uma cadeia – costureiras, maquiadores, escolas, criação, design…”. Época Negócios provoca… “A estratégia do Santander como Farol é diferente do Bradesco e do Itaú, que optaram por espaços abertos dedicados a inovação e startups…”. Rial: “em verdade, até agora, nenhuma empresa encontrou o modelo certo no processo de inovação. Da IBM à Microsoft, todos procuram seu modelo. No que nos toca, Santander, acredito que a transformação tecnológica passa pelas pessoas e pela transformação cultural. E transformação cultural não é no paralelo, é no epicentro… é mais difícil, custa mais, mas é onde se vence todas as resistências…”.
Rial acredita que, para evoluir, é necessário contrariar um traço característico do brasileiro que detesta e foge de conflitos… “O conflito não significa falta de respeito, mas, simplesmente, vamos debater, vamos discutir. Em paralelo é preciso desconstruir os organogramas clássicos. Estruturas verticais adequadas às decisões técnicas, mas ineficazes em questões mais abrangentes…”. E sobre o Brasil, o cosplay de Homem Aranha, por um momento e numa linda festa, disse: “O Brasil é hoje um conjunto de privilégios e ninguém revela-se disposto a abrir mão. Todos têm explicações e justificativas razoáveis. Mas, acontece que as contas não fecham. Seja qual for o novo presidente – a entrevista foi antes da eleição – todos terão, enfatizou Rial, de ceder. É o que acontece em momentos de concertação…”.
Assim, amigos, um líder de um banco absolutamente diferente. Na pior das hipóteses mais divertido, irreverente, questionador e trilhando caminhos que podem levar ao futuro, diferente dos dois principais bancos privados do país. O tempo dirá.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)