Audiovisual tem impacto financeiro com produções remotas
Luz, câmera, ação! Será? Apesar da assinatura do protocolo para a retomada das produções de filmes publicitários em locações públicas e estúdios, algumas produtoras estão temerosas devido à prática de preços menores nesse período no qual prevaleceram as produções remotas, o uso de banco de imagens, letterings e animação.
Preço, porém, está na pauta. Nas concorrências o sentimento é que o valor a ser pago fique alinhado com o modelo usado na pandemia, que diminuiu radicalmente o valor dos filmes. Na fase 2 da flexibilização, acordada entre a Prefeitura de São Paulo e entidades setoriais como a Apro (Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais), a exigência de higienização exige um custo mínimo de R$ 15 mil.
“Não sou contra esse gasto, mas os anunciantes querem pagar pouco. O custeio razoável de uma produção com 15 profissionais é de R$ 150 mil. E desse valor temos de deduzir 20% de impostos e aguardar dois meses para receber. Temos de nos adequar, mas muitas produtoras não estão aguentando”, diz Antonio Carlos Accioly, sócio da Square Pixel. “Algumas marcas são mais sensíveis. Meu sócio Raphael Dias, que dirigiu The Refugee Nation para a Anistia Internacional, tem conseguido fazer bons trabalhos de forma remota como o que a Coca-Cola se compromete a zerar resíduos até 2030. Momento de atenção”, recomenda Accioly.
Armando Ruivo, sócio da Trator 232, ainda vê timidez. “Vão ter picos e vales. Mas não dá para fazer uma entrega pagando menos. Em muitos casos, é melhor não aceitar. Filme precisa gerar lucro. O aprendizado envolve toda a cadeia, inclusive sindicatos. Muita gente está pegando e aceitando as condições. Mas temos de ser racionais”, ponderou Ruivo.
Apesar de estar sendo veiculado neste mês de julho, o comercial A lenda se superou, para o lançamento do novo Fiat Strada, a Alice Filmes produziu o trabalho em fevereiro, antes da Covid-19, mas a finalização ocorreu no fim de junho. E com cuidado, como explica o sócio Wal Tamagno. A operação exigiu o fechamento de um andar de hotel no interior de São Paulo para abrigar os 32 profissionais envolvidos, todos em quartos individuais. A logística, que envolveria três vans, contemplou 10 carros com três pessoas a bordo. O custo adicional de R$ 75 mil foi pago pela Fiat e Leo Burnett Tailor Made.
“Negociar é preciso. É hora de transparência e de dar as mãos. Aumentar a velocidade para reduzir custo não é a melhor opção. Não entramos em projetos que deixem de levar em consideração a segurança das pessoas. Precisamos viabilizar, mas não a qualquer custo”, prosseguiu Wal.
A Apro vê mais movimentação. “As concorrências estão voltando. Mas as grandes produções, só em 2021”, sintetiza Marianna Souza, presidente da entidade. “Preço é do tamanho do projeto”, ela acrescenta.
“Estamos retomando gradualmente. Já realizamos a primeira filmagem dentro do protocolo. Entendemos que é muito importante voltar a filmar. É a essência do negócio”, relata Daniel Soro, sócio e diretor de cena da Piloto. “Esse recomeço está sendo promissor. Aumentou a procura por orçamentos. Ainda que tímida, mas acreditamos que haverá um boom no mercado publicitário”, prevê Sérgio Tikhomiroff, sócio da Mixer.
Egisto Betti, sócio e produtor da Paranoid, observa que a adaptação precisa ser dentro do possível. “Temos vários projetos de entretenimento on hold, alguns interrompidos na pré-produção e outros que iriam começar a pré. Entretenimento vai ser mais complicado e temos estudado bastante os protocolos internacionais para nos preparar para a retomada das produções. Os sets são maiores. As filmagens são extensas e existe a dependência dos protagonistas, cabeças de equipe, além de outros fatores.”
Na visão de Ingrid Raszl, da Stink Films, a integridade física é preponderante. “Já podemos abrir câmera, mas não podemos descuidar. O set mudou. Todo processo de produção foi impactado. Temos de fazer tudo com cautela e segurança.”
Markinhos Fagundes, head of sales da PBA Cinema, segue essa mesma diretriz. “Passamos a oferecer soluções práticas para processos que eram considerados mais complicados. Os processos foram objetivados e as agências precisaram confiar muito mais nos seus fornecedores.”
Por outro lado, Diego Villas Bôas, head de produção audiovisual da AlmapBBDO, fala que a marca desse período é versatilidade e trabalho conjunto entre agência e produtora. “O momento para o live action continua sendo de adaptação das ideias e formas de realizá-las”, afirma.