Sobre inveja e vaidade

Quando terminei de ler a crítica do Mario Sérgio Conti sobre o livro Direto de Washington, pensei comigo: pronto, lá vem mais um Fla x Flu nesse imenso Maracanã em que o Brasil se transformou. Não deu outra: em poucas horas, o mundo virtual foi invadido por opiniões pró e contra Conti e pró e contra Washington Olivetto. 

Os argumentos, como costuma ocorrer quando as pessoas são instadas a assumir um “lado”, eram quase sempre bizarros. Entre as pérolas acusatórias ao jornalista havia a de “invejoso”. Isso me fez refletir sobre a quem eu invejaria se tivesse de escolher entre invejar Olivetto e Conti. Difícil de dizer.

Washington é o emblema do publicitário de sucesso, embora entre meus ex-patrões, ainda preferiria invejar, primeiro, os DPZ. Na sequência, sim, invejaria Washington, sem esquecer de invejar, em seguida, também o Marcello Serpa, o Fabio Fernandes, até o Nizan Guanaes, com toda justiça.

Conti, no entanto, me faria sentir inveja dele por outro motivo, talvez mais nobre. E é aí que está o xis da questão. A diferença entre o que fez um grande publicitário e o que fez um grande jornalista. Para não parecer estar favorecendo o jornalismo, em detrimento da nossa profissão, faço a comparação entre Dona Ivone Lara, recentemente falecida, e Annita.

Se eu tivesse de escolher entre invejar a obra da Annita ou a de Dona Ivone Lara, estou certo de que invejaria a desta última. Mas sei que, em sua curta trajetória artística, Annita já terá amealhado muito mais dinheiro do que Dona Ivone Lara em toda sua vida. Também sei que Annita é muito mais famosa, muito mais requisitada e muito mais badalada pela mídia. E sei que Annita “vende” muito mais e, portanto, é muito mais útil à publicidade do que Dona Ivone Lara. Mesmo assim, prefiro invejar a criatividade da sambista veterana, sem nenhum sacrifício da minha opção profissional, mais afeita à trajetória da Annita.

Aprendi com a vida que há duas qualidades de avaliação. A que compara uma laranja com outras laranjas e a que compara uma laranja com o pomar inteiro. Compreendi, assim, que você pode ter a sua preferência entre laranjas, mas isso não significa que a laranja preferida seja melhor ou mesmo igual a outras boas frutas do pomar. Por sermos quase sempre bastante egocêntricos, nós, publicitários, costumamos achar pouco quando nos destacamos na atividade, mesmo sendo reconhecidos como sendo os melhores entre os melhores do ramo. Não basta. Queremos a glória da consagração como baluartes da expressão cultural.

Uma presunção e tanto se considerarmos que o nosso sucesso está sustentado, principalmente, em resultados econômicos. Razão, aliás, para, ao alcançarmos patamares elevados na atividade, ganharmos sempre mais dinheiro do que ganha, por exemplo, um jornalista digno de reconhecimento equivalente em sua profissão. É simples: há muito mais gente disposta a pagar (e bem) por nossas “obras” (e as de Annita) do que afinanciar boa literatura ou músicas como de Dona Ivone Lara. Isso não nos faz menores nem piores do que ninguém. Mas deve servir para balizar os nossos critérios e evitar que eles sejam distorcidos por uma vaidade exacerbada.

Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing (stalimircom@gmail.com)

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