Startups: oportunistas e de raiz
Nas palestras e reuniões das últimas semanas e meses, a pergunta recorrente, é: “Madia, desse monte de novas empresas, quais sobreviverão, quais ficarão pelo caminho?”. Existem, a grosso modo e genericamente, dois tipos de startups ou candidatas a empresas da, e na, nova economia. As oportunistas e as de raiz. Oportunistas são aquelas que criam uma pinguela ou penduricalho numa cadeia de negócios institucionalizada e descolam uma grana. Não geram riquezas. Mordem um pedaço da riqueza existente. Aplicativos facilitadores. Aproximam as partes. Em paralelo, montam um plano de negócios, convencem investidores estúpidos e gestores de investimentos irresponsáveis e entopem-se de dinheiro. Insere-se nessa categoria, por exemplo, um Uber. Mais conhecido como um susto maior a cada trimestre em que apresenta seus resultados. Prejuízos crescentes e em cascata.
Já as de raiz são empresas que identificam uma oportunidade de mercado, desenvolvem uma plataforma e criam valor e riqueza em toda a cadeia de negócios. Agregam fatias novas e substanciais no business e são economicamente saudáveis e lucrativas. Uma Wine, por exemplo, que, mais que os 200 anos dos produtores, mais que todos os demais players, mudou para melhor, para muito melhor, o negócio de vinhos no Brasil. Multiplicou o mercado todo em duas ou três vezes. E não para de crescer.
Ok? Tudo bem! Agora vou me ater mais numa das mais fascinantes das oportunistas que começa a afundar… Preservar consistência de foco, como vocês sabem, é um megadesafio, muito especialmente para empresas vencedoras. E assim, em vez de concentrar-se em seu modelo original com todos os aperfeiçoamentos necessários, a startup da família das oportunistas, Airbnb, de dois anos para cá, começou a derivar, perigosamente. Como comentei com vocês duas semanas atrás. Diante de graves problemas que vem enfrentando decidiu-se por incorporar prédios que teriam como vocação principal ocupação temporária. Comprou até meia torre do Rockefeller Center em New York City, para converter em hotel… E, agora, cria uma tabela de preços específica para aqueles que o Airbnb, ao nascer, converteu-se em seu maior inimigo, os hotéis, para que os hotéis captem hóspedes, também, pela sua plataforma, para o disruptor Airbnb… What!
Mesmo considerando-se que o objetivo é o mesmo, vender diárias para hospedagens, uma coisa é prestar esses serviços para os milhões de proprietários de imóveis em hoje praticamente todo o mundo; e outra, inserir-se no trade de reservas, prestando serviços e tendo como parceiras as grandes cadeias hoteleiras, e concorrendo com o Expedia e Booking, dentre outros. Confiariam os hotéis no aplicativo que colocou em risco todo o business de hotelaria? O quanto essa investida não vai enfraquecer o Airbnb em seu modelo original e junto aos milhões de proprietários que aderiram ao aplicativo? Ou, finalmente, teria o Airbnb, diante das grandes confusões que vai produzindo no mundo inteiro, com brigas monumentais entre as pessoas que compraram imóveis e moram nos imóveis; com investidores que compraram imóveis no mesmo edifício, mas, e através do Airbnb, alugam por dias para estranhos… Teria concluído o Airbnb que no médio e longo prazo seu modelo disruptivo não suportará as pressões de proprietários moradores, devidamente amparados pelas prefeituras de cada cidade?
Assim, a hora da verdade dos disruptivos aproxima-se. Brevemente, o final do primeiro ciclo onde constaremos quais os disruptivos que tinham, e quais os que careciam de consistência e sustentabilidade. Como dizia o Ratinho, quais os que tinham café no bule. A quase totalidade das startups oportunistas desaparecerá do jeito que chegou, mas, carregando consigo, milhões ou bilhões de dólares de investidores gananciosos, iludidos por gestores de investimentos irresponsáveis. Deu para entender? É isso que tenho respondido aos que me perguntam: “fujam e não coloque um tostão furado nas oportunistas, tipo Uber; e invistam, com segurança, em startups de raiz, negócios feitos para durar e sustentáveis”.