Streaming muda a forma como espectador consome informações
As plataformas streaming se tornaram uma boa opção para quem quer independência ao escolher o conteúdo que deseja assistir. Muitos espectadores que dependem exclusivamente da TV aberta ou fechada são reféns das programações preestabelecidas, que muitas vezes se baseiam na repetição do conteúdo. É nesse contexto que cresce o mercado on demand e as transmissões ao vivo, cada vez mais personalizadas.
A nova temporada do programa Vai Que Cola foi transmitida primeiro na plataforma streaming, com atores como Paulo Gustavo, Samantha Schmütz e Marco Luque
A segmentação, inclusive, e o uso de big data para direcionar sugestões adequadas para cada tipo de usuário é um dos benefícios do serviço, explica Rodrigo Arnaut, engenheiro de mídia e professor da Faap. Netflix iniciou a operação em solo brasileiro de forma tímida, mas logo cresceu em termos de assinatura, podendo fechar 2016 com 10 milhões de assinantes. “A TV por assinatura soma 20 milhões de espectadores, mas algumas pesquisas já mostram aumento no número de cancelamentos. A alternativa para as operadoras de TV a cabo tem sido migrar para o streaming também”.
Dona de diversos canais de peso da TV paga, como GNT, Multishow, Telecine e GloboNews, entre outros, a Globosat oferece aos assinantes um “valor adicional”, segundo Gustavo Ramos, diretor de plataformas digitais. A Globosat Play atende a uma demanda do assinante por assistir à programação onde e quando quiser. Por mês, são assistidas cerca de 10 milhões de horas de streaming.
A plataforma surgiu antes mesmo do Globo Play, que corresponde ao conteúdo produzido pela Globo na TV aberta, e passou por vários ciclos de experimentação, além de observar as tendências mundiais. Portanto, é possível assistir ao vivo ou não à programação de algum dispositivo móvel com acesso à internet.
Sobre ameaçar as transmissões, Ramos afirma que não, afinal o conteúdo é o mesmo. “Não há porque entender o Globosat Play dissociado das demais formas de se consumir o conteúdo, inclusive os canais na TV. Em geral, o consumo ocorre em novas ocasiões de uso e, portanto, é incremental ao consumo que já existia”.
A audiência nessa plataforma é medida com várias ferramentas do mercado, que enviam mensagens para um servidor com dados como device, horário, canal e usuário. Depois de organizadas, essas informações são enviadas aos gestores. As duas grandes diferenças desta abordagem é que a audiência é censitária (e não amostral, como na TV) e em tempo real (e não deferida, como na TV).
A produção de programas exclusivos para o streaming também já é estudada pelo grupo. “Já fizemos algumas ‘inversões de janela’”, como a recente temporada do Vai Que Cola, e temos alguns programas no Globosat Play que nunca foram exibidos nos canais Globosat”.
Esporte
Com grande audiência, o segmento de esporte também vê o mercado de streaming crescer, como conta Leonardo Lenz Cesar, vice-presidente de Esportes da Turner, operadora do canal Esporte Interativo. A mobilidade também está na mira da companhia com o El Plus, que possibilita o acesso a conteúdos exclusivos. Por exemplo, em dia de rodada da Liga dos Campeões ou de Copa do Nordeste, por exemplo, todas as partidas que são realizadas simultaneamente ficam disponíveis com narração e produção em português.
Cesar explica que o objetivo estratégico é estar perto dos fãs, com uma experiência diferente da TV. “Quando o apaixonado por esportes não pode estar em casa vendo TV, ele tem a opção de assistir ao vivo”, conta. A concorrência entre a TV e o streaming não acontece, na visão do executivo. “São mídias absolutamente diferentes. Acreditamos que os usuários sempre utilizam a melhor tela disponível para assistir aos conteúdos. Se eles estão na frente da TV, sem dúvidas, vão assistir ao jogo nesta tela, que é mais confortável”.
Leonardo Lenz Cesar, vice-presidente de Esportes da Turner: “quando o apaixonado por esportes não pode estar em casa vendo TV, ele tem a opção de assistir ao vivo”
A interatividade é apontada por Arnaut como falha na maior parte das plataformas. “Muitas são apenas para dar o play, tirando pouco proveito do engajamento e das redes sociais. Pode ser uma tendência para o futuro levar em consideração a interação com o que se está assistindo naquele momento, usando até como uma forma de recomendação”. Nesse sentido, as crianças têm recebido uma função de interação diferente na CN Go, do Cartoon Network, também da Turner. Os espectadores têm a oportunidade de jogar e assistir ao mesmo tempo, na tela inicial.
Tanto nos serviços de streaming da Globosat, quanto da Turner, o acesso às plataformas são realizados em parceria com operadoras de TV, ou seja, é preciso ser assinante desses canais na televisão para se logar. Ambas afirmam que não há a intenção, pelo menos por enquanto, de tornar o serviço independente.
Desde 2011, a Net vem trabalhando no Now para oferecer aos usuários os mais recentes lançamentos do cinema, aos programas de TV, séries etc. Depois de cinco anos, Alessandro Maluf, diretor de produtos vídeo da América Móvil, afirma que são mais de 35 mil conteúdos, com dezenas de milhões de acessos mensais.
Tendência nos Estados Unidos, Maluf conta que anos antes do lançamento do Now, a empresa já estava em um forte movimento de digitalização, preparando os equipamentos dos assinantes (decodificadores) para a nova tecnologia. “A partir daí, na medida em que detectamos que o mercado já estava maduro para o lançamento de um serviço de streaming de vídeo, bastou estender o serviço para os dispositivos móveis e computadores disponível para Net e Claro HDTV”.
A transmissão, afirma Maluf, não fica ameaçada, porque cada programação tem seu valor e sua hora. Maluf explica que os assinantes Telecine podem assistir gratuitamente aos filmes do Telecine, no Now. O mesmo vale para assinantes da HBO, Gloob, Multishow, SporTV e Discovery, entre outros.
Esse “atrativo” pode ser uma justificativa para a popularização do streaming, explica o professor Arnaut, além da união dos canais em uma mesma plataforma. “Muitas pessoas ficam perdidas ao lidar com tantos canais e plataformas diferentes. Eu acredito na união das plataformas, onde cada um vai vender seu conteúdo. As pessoas querem o mais simples possível para escolher um filme, por exemplo”.
Maluf cita algumas tendências para a TV nos próximos anos. “Acreditamos muito na importância e na força da TV, tela grande e de alta qualidade, e estamos trabalhando para deixá-la cada vez mais atrativa e cada vez mais personalizada. É em torno da TV que a família se reúne para curtir momentos de lazer e entretenimento. Especialmente em momentos de crise, em que todos buscam economia e acabam ficando mais em casa”.