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A inteligência artificial dentro da realidade digital para IoT (Internet of Things/ Internet das Coisas) foi um dos principais destaques do Festival Interactive do SXSW 2017, o South By Southwest, que terminou no último domingo (19).

O tema foi assunto de cerca de 30 sessões, na semana passada, em Austin (EUA), incluindo as formas de aprendizagem robótica para indústria da moda e de automóveis. A inteligência artificial também foi analisada em suas formas de estratégia e execução para impactar áreas como o esporte, design, urbanismo e entretenimento.

No Interactive Innovation Awards, premiação que encerrou o Festival Interactive no último dia 14, também deu inteligência artificial. Deep Machine Learning, uma técnica de “aprendizagem de máquinas”, foi eleita a “Nova Tendência” apresentada na maratona de palestras e workshops do SXSW 2017.

Deep Machine Learning, como sintetizam os especialistas no assunto, é um processo que ativa as redes neurais artificiais, criadas a partir de modelos do cérebro humano. Elas têm atributos específicos para conexão, direcionamento e compartilhamento de dados. É, também segundo os especialistas, uma sofisticação do uso de big data com a inteligência artificial.

Ainda envolvendo inteligência artificial, um dos lançamentos mais comentados em Austin neste ano foi o Nio Eve, um self-driving car – carro que dirige sozinho –, com lançamento programado para 2020 nos Estados Unidos pela empresa chinesa Nio. Ela gerou buzz no SXSW ao se posicionar como “forte” concorrente para a norte-americana Tesla, que já vende carros que não precisam de motorista.

O Nio Eve foi apesentado como um “robô sobre rodas”. Junto com a estrutura robótica com o hardware de self-driving car, ele tem um design futurista com todos os recursos digitais possíveis. Internamente, os bancos traseiros podem ser transformados em uma área de trabalho. Os vidros, laterais e na frente, podem servir de tela para entretenimento com realidade aumentada.

No Interactive Innovation Awards, o prêmio Best of Show foi conquistado pelo Sensel Morph, um aparelho do tamanho de um tablet, com tecnologia multitoque que pode ser usado tanto para inspirações de desenhos artísticos quanto para composições musicais, além de ter recursos para edição de qualquer tipo de imagem, entre outras diversas funções interativas.

O Interactive Innovation Awards, com 65 finalistas, premiou 13 categorias que abrangem desde a tecnologia para a saúde ao design digital. Na categoria Nova Economia, por exemplo, o vencedor é um aplicativo chamado Blinker, para compra e venda de carros usados. Com uma simples foto é possível colocar o veículo em um ambiente de vendas online, com cálculos sobre valor do automóvel e todos os dados sobre o proprietário com informações sobre o histórico do veículo.

JORNALISMO X TRUMP
Publicidade e mercado editorial tiveram bons momentos no SXSW 2017. Dean Banquet, que desde 2014 ocupa o cargo de editor-executivo do New York Times, conversou com Jim Rutenberg, colunista que escreve sobre mídia, também no New York Times, em um painel intitulado Covering POTUS: A Conversation with the Failing NYT, no último dia 12.

POTUS é um acrônimo para “President Of The United States” e “Failing NYT” é o conteúdo de um dos posts de Donald Trump no Twitter, feito em janeiro deste ano, em mais uma demonstração de sua complexa, estranha e difícil relação com a mídia.

O editor afirmou que o New York Times tem planos de intensificar cada vez mais a cobertura jornalística do presidente Donald Trump, reforçando inclusive o escritório de Washington. “Nosso trabalho não é fazer oposição ao Trump e sim mostrar o que ele pensa, fez e faz”. Com suas críticas ao New York Times e todos os problemas de relacionamento com a mídia, Banquet sintetizou o perfil de Trump como um “vendedor”.

Em termos mercadológicos, Banquet ressaltou o aumento do número de assinantes do New York Times após a eleição de Donald Trump, em um reflexo de maior interesse por jornalismo de qualidade diante da vulnerabilidade das notícias e sua autenticidade nas redes sociais e também do fenômeno “pós-verdade”.

PUBLICIDADE NO YOUTUBE
Entre as centenas de ações promocionais e ativações de marcas vistas durante o SXSW 2017, uma das estratégias mais criativas foi apresentada pelo Google em um espaço organizado no centro de Austin chamado YouTube Corner. Lá, monitores disponíveis aos participantes do festival mostravam trabalhos de diretores de cena e diretores de criação de agências de vários países, que foram feitos para o formato Bumper Ad.

Na estratégia do Google, grandes clássicos da literatura mundial, como Drácula, Peter Pan, Moby Dick, O Retrato de Dorian Gray, Metamorfose, A volta ao mundo em 80 dias ou Romeu e Julieta ganharam versões em filmes com duração de apenas seis segundos.

O Bumper Ad, lançado pelo Google há cerca de um ano, é um formato de vídeo publicitário de seis segundos que não permite ao usuário dar “skip” (pular o vídeo).

AÇÃO CONTRA O CÂNCER
Com assuntos sobre os mais diversos temas de economia, comunicação, entretenimento, ciências, comportamento social e tecnologia, o SXSW 2017, com os festivais Interactive, Music, Film, Comedy e Gaming, reuniu um total de cerca de 60 mil participantes, entre os dias 10 e 19 deste mês. Houve mais de mil sessões de palestras e apresentações. O Brasil contou com cerca de mil participantes.

Um dos destaques da programação foi o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que se apresentou no último dia 12 e foi considerado o “Melhor Palestrante” do SXSW 2017. Com uma proposta pragmática, Biden falou sobre The Urgency of Now: Launching the Biden Cancer Initiative (A urgência do agora: lançando a Iniciativa Biden Contra o Câncer).

O painel destacou planos da Biden Foundation para aumentar os trabalhos de pesquisa para a prevenção e tratamento de todos tipos de câncer. Joe Biden, que perdeu um filho, Beau Biden, em 2015, cinco anos após ter sido diagnosticado com um tumor cerebral, ressaltou que não é apenas a comunidade científica que pode atuar para combater a doença.

“Todos, cada um de nós, podemos fazer alguma coisa. É hora de agir, pois somente juntos podemos vencer o câncer”, ele disse, fazendo uma convocação geral aos participantes do SXSW para que profissionais e talentos de todas as áreas, da tecnologia de informação aos músicos e produtores de filme, “entrem em ação para que haja avanços mais rápidos na prevenção, no diagnóstico precoce e no tratamento dos mais diversos tipos de câncer”.

Biden exemplificou que as redes sociais e o “empoderamento” de pacientes com câncer, através de aplicativos e outros sistemas de comunicação, podem gerar um maior número de informações que devem ser compartilhadas no mundo inteiro para colaborar com os trabalhos de pesquisas científicas no combate ao câncer.

Otimista, ele acredita que as próximas gerações, caso a sociedade “entre em ação imediatamente”, poderão ter um diagnóstico cada vez “mais cedo”, além de ter acesso a vacinas com eficácia contra o câncer, com a mesma facilidade de acesso às vacinas que combatem vírus como o HPV.