The Plot valoriza verdade e relevância

A arte de contar histórias existe muito antes de ter nascido o primeiro publicitário ou profissional de marketing. Característica inerente do ser humano, ela é usada de forma inconsciente também na propaganda, porém nem sempre com os devidos cuidados e eficácia. Observando essa falha tanto no mercado publicitário como no mundo corporativo em geral, Joni Galvão, ex-sócio da Soap, especialista em montar apresentações para empresas, buscou um parceiro inusitado para criar uma nova companhia. Em um evento realizado em São Paulo, Robert Mckee, considerado um dos mestres dos roteiristas de Hollywood e professor de mais de 60 vencedores de Oscars, autografava livros, quando Galvão entregou ao norte-americano um cartão e apresentou uma proposta de sociedade em vez de pedir um autógrafo.

Pouco tempo depois, Galvão e Mckee fundaram a The Plot Company, empresa especializada no tão comentado e ainda pouco compreendido storytelling, prática que alguns consideram tendência de mercado, enquanto outros entendem como algo próprio do ser humano desde os tempos mais primitivos.

Mckee, que detém 5% das ações, é a base conceitual da empresa. Seu modelo e seus princípios técnicos incontestavelmente bem-sucedidos de contar histórias interessantes conduzem todos os trabalhos realizados pela jovem agência, que tem sede em São Paulo e começou a operar no fim do ano passado.

A Galvão cabe a função de liderar a equipe e aplicar as ideias do guru, que ele acredita funcionar também para apresentações corporativas e campanhas publicitárias, além das histórias cinematográficas. “Nós criamos a partir da verdade. Menos propaganda e mais história. Menos sedução e mais verdade. Ou melhor, seduzir com a verdade. Nosso objetivo não é vender, é engajar. A venda é mais forte quando engaja”, explica Galvão.

Segundo o líder operacional da Plot, existe uma estrutura narrativa clássica que funciona para atingir positivamente qualquer pessoa, desde intelectuais e eruditos a consumidores de classes sociais mais baixas. Os principais elementos são uma ideia governante que será chacoalhada, no bom ou no mau sentido, por algum incidente que faz a história andar, mas esse acontecimento precisa ser algo que a audiência reconheça. “Toda cena precisa começar com um valor e acabar com outro em relação à ideia principal. Ter sequência de causa e efeito”, afirma.

De acordo com o storyteller, os anunciantes deveriam deixar de tentar ludibriar as pessoas vendendo ilusões de que um produto é sempre o melhor e que as empresas nunca têm problemas. “Na vida real, ninguém conta uma história que é só sedução. As pessoas hoje têm acesso para comprovar se aquilo é verdade”, diz. “Reconhecer que há dificuldades no caminho mostra o lado humano e isso aproxima as pessoas. Se souber contar isso com o drama na dose certa, a pessoa do outro lado interage. Menos enrolação e mais relevância. Menos razão e mais emoção”, complementa.

Para o especialista, um dia as empresas precisam começar a entender que o storytelling deve fazer parte de todo o planejamento de marketing e branding das marcas. “Nosso objetivo é ser um braço parceiro das agências de propaganda em storytelling”, comenta o sócio da Plot, que atua em quatro frentes principais: branding, marketing, vendas e ações de marcas. A empresa também oferece treinamento para palestrantes e auxilia na montagem de apresentações baseadas nos mesmos princípios ensinados pelo sócio norte-americano Mckee.

Entre os trabalhos já realizados, destacam-se webseries e estratégias de abordagem de acordo com o público-alvo e o meio. Para a franquia de filtros de água Hoken, por exemplo, os storytellers criaram um universo de samurais em referência ao dono da marca, Helio Tatsu, para aumentar o número de franqueados. Outro exemplo é o vídeo desenvolvido para a Positivo, que comunica as facilidades do produtos em uma animação. “O storytelling existe desde que o homem é homem, mas poucos ainda sabem usar isso nos negócios”, finaliza.