There is no free lunch no comércio eletrônico

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Francisco A. Madia de Souza é consultor de marketing, sócio e presidente da MadiaMundoMarketing

No século retrasado, nos Estados Unidos, existia a prática do Free Lunch, do almoço grátis. Grátis para todos aqueles que consumissem um drinque, uma bebida. Em 1891, o escritor Rudyard Kipling relata, “entrou na sala de um bar cheia de quadros feios em que homens com chapéus nas costas devoravam comida num aparador. Era a prática do almoço grátis com que me deparei. Quem paga uma bebida pode comer tanta comida quanto quiser…”. De sacanagem o “almoço grátis” era muito salgado, obrigando a clientela a mais duas ou três bebidas…

Quando as portas do digital e seu comércio eletrônico se abriram, há 20 anos, muitos voltaram a acreditar na existência do tal de Free Lunch, do almoço grátis. Santa inocência. Existe menos ainda. Mas, e mesmo assim, todos os dias milhares de jovens talentosos, e também não tão jovens, nem tão talentosos, alimentam o sonho. Quase todas as vezes que alguém começa a falar sobre os “cases” do comércio eletrônico invariavelmente cita-se a Giuliana Flores. Você conhece a história do Clóvis Souza, 45, que foi um dos pioneiros do comércio eletrônico em nosso país? Você conhece o Clóvis? Você já viu a cara dele de exausto depois de tanta luta e razoável sucesso?

Clóvis começou vendendo flores pelo velho e bom telefone. Com a chegada da internet, migrou com armas, bagagem e flores; muitas flores. E, mesmo assim, nem tudo foram e são flores. Vinte anos depois, Clóvis, em sua Giuliana, atende 25 mil pedidos a cada mês. Para tanto possui um centro de distribuição em São Caetano do Sul (SP) com 2.700 metros quadrados, com seis câmaras frias para conservar as flores. Organiza os pedidos em dois grupos. Entrega imediata e entrega em até 72 horas. 85% das solicitações são para a entrega no mesmo dia e para tanto construiu uma rede descomunal de parceiros em todo o país, menos para a Grande São Paulo. Para essa região, a Giuliana fez um acordo com seis transportadoras, que disponibilizam 70 carros na operação. Falando à PEGN, Clóvis explica: “nosso produto não pode ser transportado por motoboy, porque os arranjos quebram…”.

Na edição 326, março/2016 da revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, um guia-roteiro bem detalhado de um labirinto chamado comércio eletrônico. Para os que acreditam que vender pelo digital é uma moleza, que existe o tal do “almoço grátis”, mais que recomendo a leitura. Muitos vão desistir da leitura e do suposto “almoço grátis” pela metade. Mas, para os que tiverem a fim de empreender de verdade e arregaçar as mangas, respirar fundo e mergulhar de coração e alma, a leitura é obrigatória.

Aí você montou seu comércio eletrônico. E já nas primeiras horas, vendeu! Acompanhe a tal de logística segundo a PEGN: “contato com o cliente, entrada do pedido, análise inicial do pedido, pedido validado ou invalidado. Se validado, análise financeira, autorização do pagamento, pagamento recusado. Se autorizado, busca do produto no estoque, produto disponível ou produto indisponível. Se disponível, empacotamento, etiquetagem, impressão da etiqueta. Emissão da nota. Conferência. Confirmação do cliente. Transportadora. Destinatário desconhecido. Volta tudo “à primeira casa”. Se pedido entregue, finalmente, a venda foi realizada”. Mas, não acabou aí. Pode ser que ao abrir o cliente se decepcione e decide cancelar a compra, devolver o produto… Tudo isso é só a tal de logística, uma das etapas de todo o processo…

Isso posto continuamos no aguardo do milagre de se ganhar dinheiro sem trabalhar e sem ser na loteria. Na doce e patética ilusão do tal do “almoço grátis”, que, de verdade, nunca existiu. Ou, como se diz em algumas regiões do Brasil, “quer moleza, senta no pudim”; ou, se preferir, e tiver um amigo por perto, “cutuca a barriga do gordo…”.

Francisco A. Madia de Souza é consultor de marketing, sócio e presidente da MadiaMundoMarketing