Tim Cook não é Jobs, mas é Cook!

Como vem ocorrendo com as revistas americanas, que agora chegam de navio e não mais de avião e demoram um mês a mais para aterrissarem nas principais bancas do país, finalmente, a Fast Company de setembro, que começou a circular no fim de julho, chegou ao Brasil quase em outubro. Na capa, ele, Tim Cook. Não é fácil suceder a um deus. Mas, sob a ótica dos números… Tim, na entrevista que integra a matéria, começa reiterando a razão de ser, o propósito de sua empresa: “Fazer os melhores produtos do mundo capazes de enriquecer a vida das pessoas”. E, na sequência, repassa os fundamentos da empresa. Para o bem, segundo seus milhões de seguidores, e para o mal, segundo algumas pessoas mais críticas, em que, de certa forma, e em alguns desses fundamentos, me incluo. Mas, vamos aos fundamentos da Apple!

1 – Controle de seu destino – Faz questão de – sempre que possível e só quando impossível – desenhar os próprios chips e sensores levando em consideração o design final dos produtos, a forma como serão usados ou os serviços que prometem prestar;

2 – De produto para serviços – gradativamente, sem perder de vista sua galinha de ovos de ouro que são seus smartphones, o produto –, a empresa vai migrando para o território da prestação de serviços. Hoje, 12% de suas receitas vêm de serviços como iCloud, Apple Pay, AppleCare e App Store;

3 – A caminho do mercado corporativo – Apple sempre esteve voltada para pessoas. Se, circunstancialmente, no ambiente corporativo, era através das pessoas, profissionais e seus iPhones, agora se volta para as empresas, mediante joint-venture com a IBM;

4 – Fashion – Independentemente de suas virtudes e competências, por querer ou sem querer, se reconhece como um ícone da moda, do fashion. E, se assim é, assim, cada vez mais será, por estratégia. Passa a adotar as cores da moda e se associa a grifes poderosas, ou profissionais delas originários, para um permanente renovar: Hermés, Burberry; (aqui questiono as escolhas: péssimas, nada a ver com a marca);

5 – Apple StorE, que é um ultramegablaster marketplace da empresa. Uma espécie da catedral da religião. Já visitada por mais de 1 bilhão de pessoas. Nos últimos seis meses, foi dramaticamente revitalizada com dezenas de novidades capazes de saciar a demanda e a sede de seus seguidores;

6 – valorizar a opinião de seus seguidores até certo ponto – Acredita que valorizou exageradamente a opinião de seus seguidores nas pesquisas que precedem os lançamentos. Se, em verdade, procura sempre oferecer o que as pessoas não sabem que precisam e querem, mas, devidamente estimuladas e diante do produto, reconhecem que precisam, querem e desejam, passou a confiar mais no “feeling” de seus principais colaboradores e menos nas pesquisas. De certa forma, resgatando o jeito Steve Jobs de ser. (aqui também uma discordância minha. O que a Apple vinha fazendo era pesquisa equivocada);

7 – Investir em novos territórios – tipo, carro autônomo, saúde, streaming, Apple vem se tornando concorrente de outros big players (no meu entendimento, desnecessariamente. Ou seja, não vai prosperar e muito menos prevalecer e acabará se debilitando);

8 – Money – Por sabe-se lá quais razões, Tim decidiu transformar a Apple numa espécie de Fort Knox. Tem em caixa US$ 233 bilhões, mesmo depois de ter recomprado US$ 117 bilhões em ações. (De novo, outra forte discordância – dinheiro definitivamente não é o business da Apple);

9 – Sustentabilidade – Muito mais que Jobs, que acreditava poder mudar o mundo para melhor, para muito melhor, a partir da qualidade de seus produtos, Tim aposta muito numa posição social mais explícita e responsável. E assim tem se colocado, e colocado sua empresa, ostensiva e fortemente, à frente de muitas causas públicas e sociais. (Menos, Tim, muito menos. E mais, muito mais, na linha do pensamento de Jobs).

Terminando, e os números? Apenas os seguintes: desde que Jobs, ainda vivo, escolheu, empossou e empoderou Tim como seu sucessor, em 2011, as receitas da Apple triplicaram, e a religião contabiliza mais de 1 bilhão de fiéis no mundo. Muito mais que a quase totalidade das demais religiões. Mas, você dirá, a Apple não é uma religião! Não é?

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing  (famadia@madiamm.com.br)