Tormentas
Rima rica, Mourão pode ser a solução para continuar o governo de Jair Bolsonaro, única saída para o país encontrar a necessária paz de que tanto precisamos. Basta Bolsonaro renunciar para Mourão assumir. Sabemos que isso é quase impossível, mas vale a pena tentar. São amigos de longa data, querem-se bem e isso pode facilitar as coisas.
Bolsonaro tem de ser lembrado que a sua grande vitória ocorreu nas urnas e ficará marcada para o resto dos dias. De lá para cá, pelo seu temperamento difícil e sua paixão pelo embate, além da frustração que a sua vitória nas urnas causou aos adversários, o país vive em sobressaltos e crises sucessivas, sendo hoje terrivelmente castigado pelo novo coronavírus.
Quanto mais a pandemia causar baixas em nosso país, mais munição terá a oposição para atacá-lo, o que lhe motiva retruca imediata, em uma crise sem fim. Acreditamos piamente que Bolsonaro se trata de uma pessoa íntegra, sem ambições maiores do que realizar um bom governo e passar (bem) para a História.
Somos, porém, todos vítimas do nosso temperamento e o do presidente da República é geralmente exacerbado, o que deixa os seus adversários mais inflamados ainda. Além do mais, os fatos não o têm ajudado e seus adversários políticos, com alguns dentre estes que pretendem se defrontar com ele na próxima campanha presidencial, estão aprendendo a tirar proveito do seu pavio curto.
Convém lembrar que bem lá atrás tivemos a eleição de um presidente da República que, a exemplo de Bolsonaro, não levava desaforos para casa. Acabou por se dar mal, encontrando seu pior inimigo em si mesmo, no seu temperamento explosivo.
Estamos falando de Jânio Quadros, cuja renúncia foi um gesto que não estava no seu cardápio, atribuindo-a a forças ocultas que estavam prontas para depô-lo. Escolheu até um dia emblemático para o ato: o 25 de agosto de 1961, Dia do Soldado.
Voou de Brasília para Cumbica, em São Paulo, no avião presidencial, certo de que o povo fosse aguardá-lo em massa naquela então base aérea, o que lhe daria forças para retomar o poder de forma mais abrangente. Só que a fila anda em qualquer circunstância e ela andou muito rapidamente naquela manhã. Seu vice João Goulart, alertado da renúncia, tomou todas as providências para assumir o lugar do renunciante, que em Cumbica ainda aguardava os seus milhares de simpatizantes que não chegaram.
Voltemos a Bolsonaro: ganhou a eleição porque grande parte dos brasileiros não aguentava mais os desmandos petistas. Mas logo demonstrou não possuir exatamente o perfil du rolle do qual nos falam os franceses, lembrando os grandes estadistas que já tiveram. Uma das características negativas do presidente Bolsonaro reside em entrar fácil nas provocações que lhe fazem seus adversários.
Chega agora a um ponto mais que delicado com a subida do novo coronavírus junto à população brasileira, que o colocou em confronto com fortes lideranças contrárias. João Doria, o governador de São Paulo, sabidamente uma pessoa de nervos de aço, o provocou para um embate verbal, devido à crítica que o presidente fez à paralisação do país, como método para combater o inimigo já causador de muitos estragos entre nós.
As críticas do presidente Bolsonaro em defesa da economia não surtiram os efeitos desejados, tendo ficado claro nesse inesperado debate que salvar vidas sempre está acima de salvar a economia. Ao condenar a quarentena, o presidente Bolsonaro aumentou o seu raio de opositores, colocando-se em situação difícil ao insistir que os estragos do novo coronavírus logo serão atenuados, ainda que alguns especialistas médicos presentes ao cenário do debate alegassem que o pior ainda não chegou entre nós.
O presidente Bolsonaro contrapôs, lembrando que o pior para ele, olhando para essas paralisações em larga escala no país, estava ainda por vir: fome, falta de postos de trabalho, enfim, desgraças como o planeta jamais teria assistido. Vai ser difícil para o presidente Bolsonaro recuperar-se desse desgaste perante boa parte da opinião pública. A quarentena já está apresentando resultados positivos, com o controle da curva de crescimento de pessoas infectadas.
Mas será ainda mais complicado, passado todo esse difícil episódio que ora nos vitima, o presidente Bolsonaro recuperar sua liderança mesmo entre aqueles que o elegeram. A solução: renunciar, deixando o espinhoso cargo de presidente de um país dividido para seu vice Mourão, o que seria de lei.
Não dou um ano para que ele, após esse feito memorável (renúncia), seja aplaudido por onde passar neste Brasil que um dia encontrará a sua paz. Presidente Bolsonaro: S. Exa. nem precisará que a História venha a lhe consagrar por essa decisão. Muito antes de “sair da vida para entrar na História”, como cunhou Vargas na sua carta testamento, será o seu gesto considerado como nobre e inteligente pelos brasileiros, que se unirão maciçamente em torno de Mourão, cujas aparições públicas exalam sabedoria.
Não são poucas as vezes em que as circunstâncias obrigam os grandes homens públicos a tomar decisões tão difíceis como essa. Mas, o tempo acaba reconhecendo o valor incondicional de atitudes que têm a força de mudar os rumos da História.
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O recuo das grandes marcas em prosseguir anunciando só torna mais difícil o combate ao novo coronavírus. Que haja restrições à locomoção das pessoas, até entendemos. Mas o clima não é de guerra e a publicidade tem uma força incomensurável de motivar as pessoas para a vida. Pela própria natureza, a publicidade é um alento, inspirando sonhos que podem até não serem realizados, mas prosseguem estabelecendo metas para cada um de nós.
Sem publicidade, não há esperança em uma sociedade que se habituou a mover-se por ela.
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Dedicamos este Editorial ao ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, um exemplo a seguir.