Transmissões esportivas ao vivo na internet aquecem mercado de mídia

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Integrantes do canal Desimpedidos fazem a narração e comentários dos jogos da Libertadores da América para o canal DAZN no YouTube

Em uma terça-feira à tarde comum, um certo burburinho tomava conta do YouTube Brasil. A plataforma transmitia ao vivo a partida Dijon x PSG pelo campeonato francês, o Ligue 1. Após perder para o Manchester United na semana anterior por 3×1 na partida válida pela Champions League, e sem Neymar Jr. em campo, o jogo do PSG, aparentemente, não atrairia audiência expressiva no Brasil, mas não foi o que aconteceu naquele 12 de março. Após o apito final, a live transmitida no canal da DAZN Brasil soma 403.226 views até o momento.

Detentora dos direitos de transmissão para o digital dos campeonatos de futebol francês, italiano, UEFA Champions League, Conmebol Sul-Americana e Libertadores da América, a DAZN tem aproveitado o engajamento e a audiência de plataformas como YouTube e Facebook para fortalecer sua presença no país.

Em breve, a empresa britânica lançará sua plataforma de over the top (OTT) com foco em transmissões esportivas, trazendo ao país seu “Netflix do Esporte”. O mesmo caminho tem feito a Live Mode, companhia brasileira criada pelos mesmos fundadores do canal Esporte Interativo, vendido para a Turner em janeiro de 2015. O novo negócio tem como foco a compra de direitos de transmissão de jogos para o digital. As partidas são exibidas na plataforma Live FC, que transmite com exclusividade os campeonatos do Nordeste, o famoso Lampions League, e o Paranaense. A assinatura mensal sai por R$ 14,90.

Para Eduardo Brandini, head de parcerias do YouTube Brasil e responsável pelo relacionamento com empresas de mídia, emissoras de TV e publishers, cada vez mais as redes sociais são estratégicas para os detentores de direitos de transmissão de torneios. “Eles enxergam a oportunidade de gerar awareness a tal ponto que um jogo do Corinthians pela Sul-Americana, por exemplo, é hoje a maior transmissão de um evento ao vivo na história do YouTube Brasil (veja na página 35). Os players entenderam que podem se aproveitar disso”.

De fato, o consumo on demand por streaming já está mais do que consolidado mundo afora e o segmento esportivo é um filão que está em franco crescimento no Brasil. O movimento é facilitado pela organização das confederações que detêm os direitos esportivos, que já contemplam em seus pacotes comerciais ofertas específicas para o segmento digital.

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Rodriguez: Twitter tem acordo com Brasileirão feminino

Segundo Pitter Rodriguez, diretor de parcerias de esportes do Twitter para a América Latina, essa profissionalização contribui para a democratização e a visibilidade de outras categorias. “Quando a gente pensa em futebol, imediatamente vem à mente a Série A do Brasileirão, ou, a Série B, mas há uma infinidade de campeonatos que são relevantes e que não tem ninguém transmitindo. A CBF precisava organizar um pouco melhor sua estrutura em termos de direitos porque, mesmo que alguém quisesse, não tinha um modelo de negócio estabelecido. Agora eles estão formatando esses modelos e sondando quem está interessado. E o Twitter está olhando para isso”.

A plataforma já vinha transmitindo eventos ao vivo, como coletivas de imprensa da seleção brasileira, a convocação para a Copa do Mundo na Rússia e até mesmo os jogos finais da Copa América de futebol feminino no ano passado. Agora, em março, o Twitter acaba de anunciar as transmissões também do Brasileirão da Série A de futebol feminino, mas outros torneios também estão no radar: entre eles, o Campeonato Paulista, a Copa São Paulo de Juniores e o Brasileiro Sub-20.

No Facebook, os investimentos em vídeos têm aumentado desde agosto do ano passado com o lançamento do recurso Watch no Brasil. Um dos maiores cases de engajamento na plataforma é a Champions League nesta temporada, que até dezembro de 2018, já contava com quase 9 milhões de pessoas na América Latina que assistiram ao menos um minuto do campeonato na plataforma durante a fase de grupos e a Supercopa. Juntos, os 47 jogos da primeira metade do campeonato conectaram a comunidade de esportes no Facebook, gerando mais de 1,3 milhão de comentários e 10 milhões de reações.

“O comportamento do consumidor está mudando e a próxima geração de fãs quer assistir e interagir com jogos em vários dispositivos. O Facebook Watch foi desenhado para permitir novas experiências altamente interativas e participativas. Como resultado, temos visto fãs de diferentes esportes se reunirem para interagir uns com os outros e participar da transmissão, o que traz para as marcas oportunidades únicas de conexão e engajamento”, explica Léo Cesar, diretor de parcerias de esportes do Facebook para a América Latina.

Negócios
O mercado brasileiro tem se preparado e se profissionalizado para o streaming esportivo, não apenas do ponto de vista técnico, com a transmissão do jogo em si, mas também de conteúdo, com formatos e interações próprias para a internet. Apesar de o modelo tradicional da TV linear ser muito bem-sucedido nesse tipo de transmissão, a audiência no digital requer abordagem completamente nova. É o que explica Rafael Grostein, diretor-executivo da NWB, detentora de quatro canais originais no YouTube, entre eles, o Desimpedidos, maior canal esportivo da plataforma. “A grande diferença que o digital possibilita é a linguagem mais informal e próxima da audiência. O que estamos vivenciando é uma aproximação em qualidade técnica e alcance dos serviços de live stream e a experiência de transmissões de TV linear”, destaca o executivo.
O Desimpedidos tem vivenciado na prática essa experiência de integração de plataformas. Seus integrantes narram e comentam alguns jogos para a DAZN no YouTube, com foco na irreverência e bom humor de personagens como o Bolívia e o Fred. Segundo Gronstein, as interações diretas com a audiência facilitadas por meio dos influenciadores do canal são outro grande trunfo do formato. “É interessante também acompanhar a evolução dos números de maneira aberta e em tempo real que esse tipo de tecnologia oferece”.

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Brandini: o digital permite a criação de novos prime times

Os números, aliás, merecem um capítulo à parte, uma vez que as plataformas digitais monetizam os produtores de conteúdo de acordo com as visualizações dos vídeos. Dessa maneira, DAZN, Live Mode, CBF ou qualquer outra liga ou empresa que exibir as partidas são remuneradas. Adiciona-se a essa conta o valor adicional com a inserção publicitária nos vídeos. O Twitter e o YouTube seguem formato semelhante de rentabilização com publicidade. O único formato disponível é o pre-roll antes dos jogos. O Facebook, por enquanto, não veicula propaganda em conteúdos ao vivo. “Algumas funcionalidades específicas para esporte serão desenvolvidas, mas não é algo simples. A gente está falando de direitos de transmissão que variam. Se for ver o livro da Fifa são inúmeras restrições. Cada liga ou confederação tem formatos que aceitam ou não. Mas a gente entende que formatos precisam ser aprimorados porque o YouTube vem em um caminho de parcerias sem volta”, destaca Brandini.

Visibilidade
No país do futebol, o basquete e o tênis também ganham mais espaço e visibilidade com a consolidação do streaming no esporte. Não à toa, a DAZN também arrendou os direitos para os torneios da WTA e passou a transmitir no Brasil o Miami Open e o Paribas Open na categoria feminino no Facebook. Caminho semelhante fez a Liga Nacional de Basquete (LNB), que tem apostado nas transmissões do seu principal campeonato, o Novo Basquete Brasil (NBB), no Facebook e Twitter. A veiculação é complementar à programação também exibida em canais como a ESPN, Fox Sports e Band, mostrando que não há necessariamente uma concorrência com a TV linear, mas uma adaptação de acordo às preferências do público. O mesmo vale para o Campeonato Italiano e a Copa Sul-Americana, que, além de transmissão no YouTube, também podem ser conferidos na Rede TV!.

Nesse sentido, as lives no digital se espelham no modelo tradicional, principalmente no quesito horário da programação. Apesar da possibilidade de se criar novos “prime time” fora do padrão, as lives na internet precisam respeitar os horários combinados com a audiência. É o que defende Brandini, do YouTube. “Por mais que a gente tenha a possibilidade de consumir a qualquer hora, o ser humano gosta de saber quando estará sendo transmitido o conteúdo ao vivo. Fomos educados que o prime time do futebol é à noite, mas não necessariamente, no digital. Uma terça-feira à tarde pode ser esse momento. Mas a constância é importante, mesmo que no digital haja a possibilidade de se criar hábitos de consumo o dia todo”.

AS MAIORES TRANSMISSÕES NO YOUTUBE
POSIÇÃO EVENTO NÚMERO DE VIEWS
Corinthians x Racing 438 mil
Debate presidencial na Band 381 mil
Santos x River Plate 341 mil
Felipe Neto apresenta sua casa nova 315 mil