TV provoca e altera hábitos na sociedade

Depois da célebre frase: “Está no ar a televisão do Brasil”, dita, em 1950, por uma menina de cinco anos, era inaugurada a primeira emissora do país, a TV Tupi canal 3 de São Paulo, idealizada por Assis Chateaubriand. De lá para cá, foram muitos avanços e inovações que se iniciaram, principalmente, na década de 1960, quando começaram as primeiras mudanças tecnológicas.

Foi naquela época, por exemplo, período em que o país atravessava mudanças nos costumes com a revolução sexual, as revoltas estudantis e a chegada do homem à Lua, que surgiu o videoteipe, por exemplo, trazido pelo humorista Chico Anysio. O equipamento permitia, entre outras coisas, que os erros ao vivo fossem previamente corrigidos ou que um programa pudesse ser gravado num horário diferente do horário de sua exibição, e ainda que o mesmo programa pudesse ser reprisado diversas vezes.

Foi também nesse período, mais especificamente em 1965, que aconteceram as primeiras transmissões de televisão via satélite. Nesse mesmo ano, em 26 de abril, entrava no ar a TV Globo do Rio de Janeiro, que mais tarde formaria a Rede Globo. Logo depois, em 1967, a TV Bandeirantes de São Paulo começava também as suas transmissões.

A TV Cultura nasceu um pouco antes, em 1960, assim como a Excelsior de São Paulo, que viria revolucionar os padrões até então existentes. Assim que foi lançada, a emissora passou a introduzir uma filosofia de programação visando a industrialização de seus produtos televisivos e a valorização do profissional da área. O foco principal era a produção de telenovelas. A emissora nacionalizou a programação do horário nobre, até então dominado por seriados estrangeiros. O horário foi ocupado com a novela diária “2-5499 Ocupado”, produzida pela própria Excelsior.

A emissora foi também pioneira na implantação no país da transmissão em rede, ou seja, simultaneamente para várias cidades. Foi também na década de 1960 que a TV Tupi começou a fazer sucesso com algumas novelas, entre elas “O Direito de Nascer”, que bateu recordes de audiência.

Em 1968, a novela “Beto Rockfeller”, de Bráulio Pedroso e Cassiano Gabus Mendes, exibida também pela TV Tupi, inovou a estrutura narrativa, apresentando a figura do “anti-herói”. A partir daí, as novelas passaram a abordar temas urbanos, suburbanos ou regionais que pudessem ter aceitação nacional.

O programa “Família Trapo”, protagonizado pelos humoristas Ronald Golias e Jô Soares, se tornou um dos mais famosos programas de humor da TV Record e era transmitido ao vivo direto do Teatro Record, em São Paulo, com a presença do público e duas horas de duração. Em paralelo à evolução das emissoras, a propaganda de televisão, que teve início em 1951, com comerciais de 30 segundos custando 120 cruzeiros, também começou a ganhar força na década de 1960.

Chateaubriand começou a vender espaço publicitário para empresas grandes, como SulAmérica Seguros, Antarctica e Moinho Santista. Ele também foi o criador do primeiro departamento de propaganda de um jornal no Brasil e conduziu a campanha para a construção do Masp (Museu de Artes de São Paulo).

Tv em cores

Também no mesmo período, se iniciava a tentativa de implantação da TV em cores no Brasil, mais especificamente, em 1962, quando a TV Excelsior de São Paulo transmitiu, no Sistema NTSC, o programa “Moacyr Franco Show”. Mas o sistema não vingou, pois todos os receptores coloridos eram importados e custavam muito caro. As transmissões de TV em cores, então, só começariam efetivamente oito anos depois. O primeiro evento transmitido com essa nova tecnologia foi a Copa do Mundo de 1970, no México. Na mesma época, mergulhada em dívidas, a TV Excelsior encerrava suas atividades.

Em 1973, a TV Globo exibiu a primeira telenovela em cores da televisão brasileira: “O Bem-Amado”. Com a Copa do Mundo de 1974, a venda de receptores coloridos colocou definitivamente o Brasil no mundo da TV em cores.

Começaram a ser formadas, então, as redes nacionais, que alcançavam grande parte do território brasileiro. A TV Globo e a TV Tupi lideravam a audiência na maioria das praças. Porém, as sucessivas crises administrativas e financeiras vividas pela TV Tupi ao longo da década de 1970 levaram a Rede Globo a assumir uma posição hegemônica no mercado brasileiro.

De lá para cá, a emissora vem conseguindo manter a liderança exibindo telenovelas de grande apelo popular, programas jornalísticos como “Jornal Nacional”, “Fantástico” e “Globo Repórter”, além de filmes e séries nacionais e estrangeiras. Outras emissoras, como a Bandeirantes, a Record e o SBT, também têm se destacado no cenário, com produção de telenovelas, jornais e programas de auditório que se mantêm como grandes influênciadores da opinião pública. O SBT, por exemplo, foi fundado em 1981 pelo empresário e apresentador de televisão Silvio Santos, que segue até hoje à frente dos programas de domingo, agradando suas “colegas de trabalho”.

Para o diretor-geral da Abert (Associação Brasileiras das Emissoras de Rádio e Televisão), Luis Roberto Antonik, não é de hoje que os veículos de comunicação, de uma forma geral, têm contribuído muito para os avanços sociais, para o desenvolvimento econômico e, principalmente, para fiscalizar as ações dos poderes públicos, em nome da sociedade.

“De forma livre, aberta e gratuita, as emissoras cumprem esse papel como principais instrumentos de difusão de informações, entretenimento e cultura a milhões de brasileiros.”
Para ele, ao contrário do que muitos acreditam, a televisão aberta vem se fortalecendo e se beneficiando com o avanço das novas mídias para expandir a sua audiência. “As TVs estão se adaptando aos novos tempos, passando a disponibilizar conteúdo de sua programação em aplicativos de celulares e tablets. O telespectador pode acessar novelas, séries e programas em outros dispositivos que não o aparelho convencional de TV.”

Ele lembrou que a TV continua sendo o meio de comunicação mais utilizado pela população. “Hoje, o veículo está em 97,2% dos lares brasileiros.” De acordo com o executivo, assim como aconteceu nos anos 1950, com o surgimento da TV aberta no país, e a partir de 1970, com o padrão em cores, a transição do sistema analógico para o digital de televisão também acontece de forma gradativa até a sua popularização, que está acontecendo de maneira gradativa.

Antonik lembrou que o sinal digital já está se tornando uma realidade em todas as 27 capitais do país, com cobertura de mais de 70% da população, ou seja, 142 milhões de pessoas. “As consignações de TV digital já atingem 441 canais de geração dos 540 existentes. A Abert estima que este percentual alcance 75% até o fim de 2015.”

O executivo lembrou também que, por incrível que pareça, a TV aberta e gratuita está ganhando força também com a chegada dos OTTs (over the top), serviços pagos que entregam conteúdo audiovisual, sob demanda, pela internet. Os programas ao vivo, de jornalismo global e local, e de entretenimento, continuam sendo expertises exclusivas da TV aberta.

Recepção deficiente leva a novo formato

No Brasil, a chegada da TV por assinatura, que até hoje é considerada uma grande inovação no que se refere à forma de ver televisão, começou por um motivo muito semelhante ao ocorrido nos Estados Unidos: a necessidade de se resolver problemas de recepção.

Na década de 1960, na região serrana carioca, o sinal das emissoras abertas localizadas na cidade do Rio de Janeiro era deficiente. Instaladas no alto da serra, antenas captavam sinais e os retransmitiam por uma rede de cabos até as residências. As cidades de Petrópolis, Teresópolis e Friburgo passaram, então, a ser cobertas por este serviço e os usuários que o desejassem pagavam uma taxa mensal, como acontece até hoje.

Mas foi só nos anos 1980 que surgiram no Brasil as primeiras transmissões efetivas de TV por assinatura, com a CNN, exibindo notícias 24 horas por dia, e a MTV, com videoclipes musicais. Ambas eram transmitidas em UHF, com canal fechado e codificado. Este formato foi o pontapé inicial para a implantação do serviço de TV por assinatura que conhecemos atualmente. Em 1991, grandes grupos de comunicação ingressaram no setor.

A Globosat foi a primeira programadora a atuar no Brasil criando quatro canais: o GNT, o Top Sports, o Multishow e o Telecine. O grupo Abril criou a TVA e outros grupos importantes, como a RBS e o Grupo Algar, ingressaram no mercado logo em seguida. Mesmo assim, até meados da década passada, o mercado de TV por assinatura no Brasil ainda era pequeno, já que o custo da mensalidade era muito alto e a oferta dos serviços atingia número reduzido de cidades. Em 1994, havia apenas 400 mil domicílios assinantes, mas em 2001 já se registravam 3,5 milhões, o que corresponde a um crescimento de 750% em seis anos. Em 2011, este número ultrapassou os 12 milhões de domicílios e não para de crescer.

Segundo informações da ABTA (Associação Brasileira de Televisão por Assinatura), o crescimento do número de assinantes, em 2014, foi de 2,5% no terceiro trimestre em relação ao segundo trimestre. Comparado ao mesmo período de 2013, o crescimento chega a 10,5%. Conforme a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), a quantidade de assinantes registrados em novembro do ano passado foi de 19,8 milhões.

De acordo com informações da entidade, a receita operacional bruta de TV por assinatura com mensalidade, banda larga e outros (incluindo publicidade) no terceiro trimestre de 2014 foi de R$ 8,2 bilhões, acréscimo de 2,3% relação ao trimestre anterior e aumento de 15% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. O percentual do faturamento estimado pela ABTA corresponde a 37% do total.