Pesquisa aponta Twitter como a plataforma que mais cresce
Um estudo recente da GlobalWebIndex revelou que o Twitter é a plataforma que mais cresce no mundo. Segundo a pesquisa, o número de usuários ativos do microblog cresceu 40% do segundo para o quarto trimestre de 2012 – o equivalente a 288 milhões de usuários mensais ativos. Nos últimos três anos, o crescimento do Twitter foi de 714%.
Há várias análises em torno das mudanças de comportamento do usuário em relação à ferramenta, e várias delas apontam para o amadurecimento e consequente consolidação como rede de nicho que hoje é menos uma ferramenta social e mais um serviço, cujo principal vetor é a informação. O crescimento fez com que hoje 21% da população mundial esteja conectada ativamente com o Twitter e tudo indica que o crescimento se manterá.
Guilherme Ribenboim, diretor geral do Twitter no Brasil, afirma que quaisquer números, hoje, não são 100% precisos, pois não levam em consideração os smartphones – que sem dúvida representam um imenso universo de usuários no mundo. “O Twitter tem uma proposta de valor único: ser uma rede de informações em tempo real, um pulso do planeta, multidirecional, em que se pode debater por temas. E vive um círculo virtuoso”, diz.
Ele define esse ciclo em três aspectos: o primeiro é o crescimento do conteúdo postado por pessoas/personalidades ou empresas e veículos. Este é um fator crescente, que promove debates e atrai usuários. Em segundo está a distribuição, que se amplia com o crescimento do mobile. “Há cada vez mais pessoas no mobile e o Twitter é muito aderente a ele. É simples, rápido, mais textual, consumido rapidamente”, explica Ribenboim. O terceiro aspecto é o que o executivo chama de “dinâmica promocional” entre o conteúdo e a distribuição. “É o chamado network effect, à medida que mais pessoas se interessam pelos conteúdos e geram o interesse de outras pela conexão à ferramenta. É o que chamo de círculo virtuoso da audiência”.
No Brasil, o crescimento aconteceu sem sequer ter uma operação local, aberta em dezembro último como a terceira fora dos EUA – depois de Japão e Inglaterra. Dos cerca de 300 milhões de usuários no mundo, a América Latina é responsável por 16%, sendo que a maior parte se encontra no Brasil.
Numa plataforma que tem um bilhão de tweets a cada dois dias e meio, não é fácil apontar estatísticas de uso, de comportamento. Mas um dos comportamentos típicos da rede é o fato de que pelo menos 50% dos usuários não postam, apenas consomem conteúdo. “Acredito que por não terem amigos e, sim, seguidores, na maioria dos casos, há uma preocupação maior com o que postar, para contribuir de forma qualitativa. Ao mesmo tempo, existe uma curva natural do usuário, que quando vai se sentindo mais confortável, passa a participar do debate. É um amadurecimento comum, o uso vai se modificando ao longo do tempo. Se pensarmos bem, o fenômeno da contribuição de conteúdo tem cinco ou seis anos, é recente”, comenta Ribenboim.
Duas telas
Certamente o que contribui fortemente para o crescimento da plataforma é o fenômeno das duas ou mais telas, associado ao consumo de conteúdo da TV, por exemplo. Em consumo de conteúdo, o céu é o limite. Também é no caso dos debates sobre temas diversos, como a morte de Chico Anysio – que foi recordista de tweets no Brasil no ano passado, por exemplo. Outra tendência é seguir personalidades como o jogador Kaká, que tem mais de 14 milhões de seguidores, ou o Luciano Huck, que tem pelo menos a metade disso.
Outro fenômeno curioso é o uso do Twitter por parte dos adolescentes, como uma espécie de “novo MSN”, embora não existam dados oficiais a respeito. E é claro, há ainda o uso por parte das empresas, que cresce e se sofistica. O caso de Oreo e de Audi, que usaram a plataforma para ter seu momento de brilho durante o Super Bowl, brincando com o apagão de 34 minutos durante o jogo no Mercedez-Benz Super Dome, em Nova Orleans, é apenas um exemplo.
Rede sai da infância e se reposiciona
Numa época em que marcas, serviços e empresas são questionadas diariamente, é claro que as redes sociais também vêm sendo questionadas e há sempre uma turma com visão mais pessimista da vida. Muitos projetos “morrem” simbolicamente para surgir com outro perfil e algumas das expressões que vêm sendo repetidas como “o twitter morreu” podem ser exatamente fruto de uma espécie de transformação. O fim da infância.
Para Fabio Seidl, diretor de criação da Ogilvy, cinco anos depois as redes sociais se reposicionam, saem mesmo da infância. E o Twitter se consolida como fonte de informação, usado por companhias aéreas para comunicar voos cancelados. Ele acredita que passou a fase em que as pessoas postavam frases sobre o dia a dia ou o usavam como passa tempo. “Washington Olivetto uma vez me falou uma coisa que, para mim, resume o Twitter: escrever curto é muito mais complicado do que escrever comprido. Para mim, isso é o que faz o conteúdo ser bom ou ruim, dar ou não audiência. Com certeza, a sobrevivência dele como mídia para as marcas depende de bons criativos, de ótimos redatores”.
Já Hugo Rodrigues, COO e CCO da Publicis Brasil, Salles Chemistri e Publicis Dialog, diz que não é só o Twitter que vive sob júdice nos dias atuais. “A Apple perdeu quase US$ 100 bilhões do seu valor nos últimos meses. Já tem gente duvidando da sua capacidade de inovação, alegando que desde seu primeiro iPad – há longínquos dois anos e alguns meses – nada mais relevante foi lançado. Vivemos a era do descartável, da desconfiança, da ausência de um sucesso perene. Se o Twitter já teve seu melhor momento ou se ainda tem muito a oferecer, ninguém pode saber com exatidão. Mas todos podemos aprender com o tempo e os picos de um meio.”
Fernanda Romano, CCO da Naked Brasil, afirma que o que acontece é um movimento natural de uso da plataforma, que ocupa um espaço mais definido. “O lançamento da Vine, a mudança da política de integração de imagens, o crescimento do uso de tweets promovidos ou patrocinados e todas as outras evoluções do Twitter mostram um investimento cada vez maior da empresa em buscar oportunidades de monetização dos usuários. Enquanto que o Facebook vale pelos relacionamentos entre pessoas – e marcas –, o Twitter se tornou uma ferramenta talvez um pouco mais de broadcast, por incrível que pareça. Antes que vejamos seu fim, creio que ainda veremos algumas de suas evoluções”, define Fernanda.
Renato Hideki, head de mídia da Goomark, diz que o microblog conseguiu uma posição de destaque entre as empresas justamente porque colabora com o trabalho de construção das marcas (branding). “A plataforma se diferencia das outras redes sociais porque tem como perfil levar a informação para os usuários de uma maneira rápida, que gera engajamento, enquanto também oferece vantagens e acaba por facilitar a vida dos usuários, que fazem uso da ferramenta para ganhar descontos ou ser atendido no caso de reclamações”, avalia. Ele também reconhece a consolidação do Twitter, mostrando-se mais adequado a determinados propósitos, como indicar o que está em pauta ou como canal de contato em tempo real. “Postar é, de fato, um comportamento de nicho. Pessoas que geram conteúdo são sempre minoria – e isso vale para todas as redes sociais, para blogs. A maioria lê, clica, repassa, curte”, comenta.
Diversidade
PJ Pereira, sócio e líder criativo da Pereira & O’Dell, é contra “encaixotar” a plataforma em uma forma única de uso. Para ele, também como costuma dizer Ribenboim, o interessante é justamente a diversidade de possibilidades em torno da ferramenta. “Usamos bastante e faz uma diferença. Usamos muito no “The Beauty Inside”, por exemplo, para avisar episódios novos e posts interessantes, e para manter acesa a discussão do filme (it’s whats inside that matters). A moda agora é o Vine, mas ele opera principalmente dentro do próprio Twitter”.
A diversidade de possibilidades sem dúvida é um diferencial. Se por um lado o Twitter é ferramenta estratégica para empresas, também oferece diversão despretensiosa para o dia a dia das pessoas. “Tem coisa mais divertida do que assistir a determinados programas de TV e acompanhar o Twitter ao mesmo tempo? Tem muito humor. E ele cumpre um papel estratégico para marcas e órgãos públicos, como o principal canal para alcançar os chamados ‘influenciadores’. Com a quantidade de informações que recebemos, o Twitter é um dos filtros mais qualificados que existem”, afirma Maria Claudia Bacci, diretora-executiva da FSB Digital.
O comportamento “tagarela” das pessoas no Twitter pode ter migrado para o Facebook, por exemplo, como avalia Eduardo Barbado, head de estratégia da Agência3. “Parte dessa migração também se deve ao compartilhamento de fotos e o voyerismo natural do brasileiro. Boa parte das pessoas usa o Facebook como usava o Twitter, agora, com mais features, mais fun. O Twitter é uma rede que cresce no mundo e tem um papel diferente na disseminação de informação. Mas é fato que eles precisam inovar e criar novos atributos para não ficar tanto para trás. Ou assumir ser uma rede mais ‘nichada’”, conclui.
Canal
Uma possível queda do uso do Twitter em detrimento do Facebook pode ter ocorrido, segundo analisa Fátima Rendeiro, diretora de mídia da Quê, porque a plataforma não evoluiu muito como ferramenta social desde que foi lançada. “Acredito que a forma de usar o Twitter mudou. Hoje as pessoas leem mais do que postam, para muitos é um canal de notícias em primeira mão”, analisa. Para alguns “heavy users” do passado, como o jornalista Nelito Fernandes, o Twitter perdeu para o Facebook como vetor de tráfego para seus projetos de conteúdo na rede, como o site Sensacionalista. “O Twitter foi dominado por hashtags sem importância, fã-clubes, guerrinha de torcidas, etc. Virou uma mídia desinteressante. Já foi primeira fonte de informação para muita gente, hoje não sei”, questiona.
Claudio Romano, gestor digital da Binder, concorda com o amadurecimento do uso da rede e acredita que, embora não tenha criado os símbolos @ ou #, facilitou a participação e contribuição das pessoas nas redes, tornando popular o uso dos símbolos. “A Biblioteca do Congresso Americano armazenará os principais, ou históricos tweets dos EUA. O que demonstra a importância da rede”, argumenta. Do ponto de vista de futuro, sugere que a plataforma torne-se ainda mais amigável para as marcas, entre outros atributos. “A ferramenta poderia permitir que sejam criados aplicativos dentro dela. Ou facilitar a vida do usuário que quer postar uma foto. Mais empresas trarão mais usuários, mais conteúdo sendo compartilhado, mais ‘promoted tweets’ sendo comprados”.